O escritor, pesquisador e compositor
fluminense Nei Lopes reuniu em sua obra Afro-Brasil Reluzente os perfis de cem
personalidades notáveis da afrobrasilidade do século XX. Trata-se de um ABC de
intelectuais negros atuantes nas mais diversas áreas do conhecimento humano, do
A de Abdias Nascimento ao Z de Zezé Motta. O recorte, de personalidades
nascidas nos anos 1900, faz incluir Cartola, mas excluir Pixinguinha, e chega a
figuras que se notabilizaram apenas nos anos 2000, como a filósofa Djamila
Ribeiro ou a apresentadora de tevê Maju Coutinho.
O formato, limitado por força do número
estipulado de cem personalidades, tem as ausências de Paulinho da Viola a Jorge
Ben Jor e Tim Maia ou de Leci Brandão e Zeca Pagodinho a Mano Brown, a maioria,
no entanto, Lopes se esforça por citar dentro de outros verbetes. As presenças,
por outro lado, são de fato reluzentes, de Conceição Evaristo e Carolina Maria
de Jesus a Joel Rufino dos Santos e Muniz Sodré, de Mãe Stella de Oxóssi a
Milton Santos, de Gilberto Gil a Seu Jorge.
Estão lá músicos das antigas, como
Cartola, Luiz Gonzaga e Clementina de Jesus, e nomes mais recentes dos palcos,
caso de Gilberto Gil, Fabiana Cozza e Seu Jorge. Há escritores e pensadores,
entre eles Conceição Evaristo, Milton Santos e Paulo Lins, e gente mais pop da
TV, como Maju Coutinho e Lázaro Ramos.
Em um equilíbrio entre gente conhecida
(Pelé, Candeia, Marielle Franco, a colunista da Folha Djamila Ribeiro) e
surpresas (Alzira Rufino, Sonia Guimarães, Ingrid Silva), o livro plana sobre a
presença negra em nossa cultura e formação social e serve como provocação para
pesquisas mais aprofundadas sobre essas pessoas. Dos baianos constam Guerreiro
Ramos (fundador da sociologia), Goya Lopes (design), Emanoel Araujo (artes
plásticas), Muniz Sodré (sociologia), Mestre Didi (artes), Neuza Maria Alves da
Silva (juíza) e Gilberto Gil (cantor).
“O principal critério que usei para
selecionar as 100 personalidades foi a história de vida, procurando aqueles que
efetivamente superaram as dificuldades de ser negro no Brasil e se tornaram ´visíveis´,
pois esta é a maior questão que se coloca. Esse é o ponto em comum entre os
personagens: a superação da invisibilidade, apesar de tudo. E fizeram isso de
diversas formas, até com a `marra`, como é o caso do admirável Paulo Cézar
Caju, que pouca gente teria coragem de escalar num time como o dos reluzentes”,
explica Nei Lopes.
A escalação do escrete realmente não foi
tarefa fácil. O autor mesclou figuras de fama nacional, como Pelé, Dona Ivone
Lara e Grande Otelo, a outras que merecem mais notoriedade, como Enedina Alves
Marques, primeira negra a se graduar em Engenharia no país, em 1945. As
escolhas atravessam todo o século, do capoeirista Mestre Bimba, nascido em
1900, à bailarina Ingrid Silva, de 1989, passando ainda pela escritora
Conceição Evaristo, o cineasta Luiz Antonio Pilar, a jornalista Flávia Oliveira
e a vereadora Marielle Franco.
“O que eu mais desejo é contribuir para o
fortalecimento da autoestima dos meus iguais, sobretudo os jovens. Só assim
poderemos alcançar representatividade e mudar o que está aí”, diz Nei Lopes,
que se comoveu enquanto escrevia as histórias. “Um dos mais emocionantes foi
Carlinhos Sete Cordas, que conheço desde os 16 anos. O cara se tornou um
virtuose, reconhecido nas altas rodas, a partir de um violão achado no lixo. É
demais, não é? O saudoso Joel Rufino também é sempre lembrado com emoção. E a
superação física do venerando Haroldo Costa me toca muito”.
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