Os leitores de revistas em quadrinhos além
de escolher o personagem preferido, também seleciona seus desenhistas, pois
cada página é uma surpresa. Quem vira a página de uma HQ pode não saber o que
vai encontrar do outro lado, mas se deixa levar pelos traços cheios de
movimento que desenham a ação. São os detalhes, as páginas minuciosamente trabalhadas
em diferentes estilos, que guiam a nossa imaginação através do universo
habitado por milhares de personagens. A história das HQs brasileiras, dos seus
personagens, é muito vasta.
O italiano Angelo Agostini (1843 – 1910)
veio ao Brasil ainda adolescente, fundou uma serie de jornais ilustrados, foi
um dos pioneiros mundiais das HQs e integrou-se de corpo e alma nas campanhas
abolicionistas e republicana. O registro visual das duas décadas e meia que
precederam a República encontra em Agostini sua mais perfeita tradução. O
realismo dá o tom nos desenhos, numa época em que a fotografa ainda não era
reproduzível nas páginas da imprensa. Ele foi o mais importante artista gráfico
do Segundo Reinado.
Péricles, o criador do mais famoso e
popular personagem do cartum brasileiro, o sádico, maldoso e malicioso Amigo da
Onça. Seu mau caráter era amado. O sucesso do Onça (quatro décadas!) tem tudo a
ver com o jeitinho brasileiro. Por essa razão, exerceu a autocríticaa e um
Brasil que tem tudo para dar certo, mas que sempre é invadido por Amigos da
Onça que se deleitam em precatórios ou invadem a alma de políticos que se
perdem em autoritarismo.
O desenhista da fome Edgar Vasques e seu
desempregado Rango. Tem a escatologia de Marcatti, a criatividade de Laerte, o
desenho fluído de Mozart Couto, o traço caligráfico de Henfil, o expressivo
Julio Shimamoto, o humor de verve nacional de Péricles, a composição elaborada
e realista de Flavio Colin, a ironia e o bom humor de Miguel Paiva (Radical
Chic e Gatão de Meia Idade), o estilo sociológico e verbal de Angeli (com os
tipos politizados como MeiaOito e Nanino, ácido como Bob Cuspe e Skotinhos,
bregas como Bibelô, o punk Bob Cuspe, a pornográfica Mara Tara, o guru místico
Rhalah Rikota entre outros) que criou personagens que refletem o mundo a a si
mesmo e no dia em que eles não servem mais a esse propósito não tem pena, mata!
A lista é muito grande, vamos conhecer alguns deles:
O gaúcho Renato Canini (1936 - 2013) é um
ilustrador brasileiro, conhecido por seu trabalho em diversas publicações, como
Pasquim, Pancada e para a Editora Abril, onde ilustrou histórias em quadrinhos
da Disney e destacou-se desenhando o personagem Zé Carioca, ao qual atribuiu
seu traço pessoal e uma identidade mais brasileira, distanciando notavelmente
este personagem do estilo Disney original. Ele mudou o visual do Zé Carioca,
trocou a gravata borboleta e o paletó por uma camiseta e uma bermuda, tirou o
chapéu panamá e o charuto. Tirou o bicho das ruas sem vida para levá-lo aos
morros, campinhos de futebol de terra batida e favelas. Canini criou diversos
outros personagens, entre eles o Dr. Fraud, o indiozinho Tibica, e Kaktus Kid,
uma paródia inspirada nos velhos caubóis do faroeste norte-americano.
O quadrinhista Francisco Marcatti, considerado
o mais importante autor de histórias em quadrinhos underground do Brasil. Tanto
pelos temas que abraçou com as mãos, pernas, línguas e tripas, quanto pela
forma que encontrou de publicar e distribuir seus trabalhos. Imprimindo por
conta própria as suas revistas e livros, vendendo pelas ruas e se associando à
mais famosa banda punk do país, este paulistano escreveu com lodo, mijo e
nanquim o seu nome. Os traços arredondados e "sujos" de Marcatti são
reconhecíveis de longe por fãs de quadrinhos. Como títulos ele escolheu as
palavras Mijo, Lôdo, Ventosa. Entre as histórias, criou o personagem sem pudor
repleto de desejos e com um nome nada comum, Frauzio. Também transformou os
integrantes da banda de hardcore Ratos de Porão em personagens.
Um comentário:
Caro Gutemberg, gostaria muito de contatá-lo. Sou Levi Jucá, pesquisador residente no Ceará. Poderia, por favor, informar seu e-mail ou enviar-me um para que eu possa detalhar o assunto?
Segue:
levijuca@gmail.com
Obrigado!
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