Em 1970, o desenhista gaúcho Edgar Vasques
se propôs a criar um personagem que tivesse a cara do Brasil: miserável,
esfomeado, marginalizado, pobre e desempregado, que vivia dentro de uma lata de
lixo. A primeira aparição de Rango foi na revista Grilus, a revista do
Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, onde Vasques então estudava. A partir de 1973, Rango ocupou as
páginas de vários periódicos brasileiros, como Pasquim e Folha da Manhã.
Fazendo parte do boom de humor da década de 70, simbolizou a resistência à
ditadura militar. Nos anos 80, Edgar Vasques tornou-se conhecido nacionalmente
pelos quadrinhos do Analista de Bagé, de autoria de Luís Fernando Verissimo,
publicados na revista Playboy. A inovação, neste caso, ficava por conta da
qualidade dos traços de aquarela, técnica inédita utilizada em quadrinhos.
O cartunista Henfil (1944-1988) teve uma
atuação marcante nos movimentos políticos e sociais do país, lutando contra a
ditadura, pela democratização do país, pela anistia aos presos políticos e
pelas Diretas Já. Com humor mordaz e desenho caligráfico, Henfil destaca-se
como um dos militantes mais ativos na resistência ao regime militar. De suas
mãos saem personagens antológicos como os fradinhos Baixim e Cumprido, a ave
Graúna, o bode Orellana, Capitão Zeferino e Ubaldo, o paranoico, que provocam
mudanças na história dos quadrinhos brasileiros não tanto pela inovação formal
- apesar de ser marcante o seu traço nervoso e espontâneo -, mas pelo uso dessa
linguagem gráfica específica como o melhor suporte para crítica e
comprometimento social. A lista de criações de Henfil consta a feminista
Zilda-Lib, a onça Glorinha, anarquista, líder do comando de Libertação do
Quadrinho Nacional. Henfil foi um homem de denúncias. Foi ele quem calibrou a
expressão Diretas Já e sofreu depois por ser contra o Colégio Eleitoral e,
consequentemente, contra o governo de Tancredo Neves e seu vice, eleitos indiretamente.
Um guerrilheiro do cartum, assim Henfil foi definido pelo cartunista Miguel
Paiva. Adotou o lápis como arma para denunciar e questionar tradições e
comportamentos sociais. Tocava em pontos-chave, desenvolvendo um inconformismo
contagiante.
Ele é importante por representar a
resistência dos quadrinhos de autor, adulto, fugindo das soluções bem-sucedidas
do humor e da pornografia. O paulistano Lourenço Mutarelli marcou seu início
nos anos 80, sobrevivendo a um incipiente mercado independente e mantendo em
sua obra a mesma dignidade até hoje. Na sua premiada obra “Transubstanciação”
(1991), o poeta Thiago sofre um angustiante estado de alteração mental. O Grito
é uma de suas obras mais conhecidas. O surrealismo escabroso de seus traços
fica por conta de uma personalidade depressiva, agravada por uma Síndrome de
Pânico que enfrentou em 1990 com pesadas doses de psicotrópicos. O território
das histórias de Lourenço está numa região oculta do cérebro – o inconsciente.
O Cheiro do Ralo trata de um universo bizarro e de um personagem que compra e
vende objetos usados. No álbum A Confluência da Forquilha ele mostra um artista
que não consegue unir palavra e imagem, minando a cada raciocínio sua
habilidade de perceber o mundo. Cínico e de humor negro cortante, o álbum traz
o incômodo dos malditos, dos que estão sempre à margem, subterrâneo,
espreitando a vida na superfície. Denso, cruel, infernal. Seus personagens são
claustrofóbicos. Seqüelas saiu em 1998. A partir de 1999 surge a trilogia do
detetive Diomedes – A Soma de Tudo. Esse universo sombrio, doentio, mais
psicológico que está fazendo com que a obra de Mutarelli seja ampliada em
outras linguagens. Vale a pena conhecer o trabalho do artista. Mas se prepare
para entrar no mundo das sombras, do interior das pessoas.
Cartunista, desenhista, jornalista,
cronista, chargista, pintor e dramaturgo brasileiro, Ziraldo lançou em 1960 a
primeira revista brasileira de quadrinhos e colorida, de um só autor,
intitulada Pererê. Em 1963, Ziraldo ingressou no Jornal do Brasil. Nessa época,
em plena ditadura militar, lançou os personagens “Supermãe”, “Mineirinho” e
“Jeremias, o Bom”, homem atencioso, elegante, vestido com terno e gravata e que
estava sempre disposto a ajudar os outros. O personagem marcou as charges fazendo
críticas os costumes e o comportamento da época. Foi um dos fundadores da
revista humorística O Pasquim.
Em 1969 lançou seu primeiro livro infantil
Flicts, que relata a história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo.
Em 1980 lançou o livro O Menino Maluquinho um dos maiores fenômenos editoriais
no Brasil. Ele é um ícone dos cartunistas brasileiros, uma referência para
quase todos os cartunistas. O segredo do seu traço está em exibir
expressividade e força de maneira muito econômica.
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