Em 1900 o Brasil ainda era um país
predominantemente agrícola. A economia girava em torno dos oito produtos de
exportação: café, açúcar, erva-mate, cacau, fumo, algodão, borracha e couro. O
estilo art nouveau invadiu o Brasil. Ele estava nos postes de iluminação
elétrica que substituem os velhos lampiões de gás, no vaso de flores, nos
móveis de quarto, nos espelhos das confeitarias, nas portas e portões, nas
fachadas e interiores, e até na silhueta esguia da nova mulher. A novidade
permeou o cotidiano de cariocas e paulistas. É o automóvel, o bonde elétrico, a
fotografia, o cinematógrafo, os discos e as vitrolas. O campo da música popular
ouvida no Brasil era regido por uma extrema variedade de estilos e ritmos:
maxixe, modas, marchas, cateretês e desafios sertanejos. Nenhum desses estilos
musicais, apesar de suas modas passageiras, parecia ter fôlego suficiente para
conquistar a hegemonia no gosto popular da época. Nenhum deles era considerado
o ritmo nacional por excelência.
ANOS
10
Até 1910, haviam entrado no Brasil
portugueses, italianos, espanhóis, alemães, japoneses, perfazendo mais de 2.400
habitantes (105 da população do país, que girava em torno de 24 milhões). A
maioria desses imigrantes iria formar o operariado brasileiro. As fábricas
urbanizavam o Brasil. As indústrias vão transformando as cidades em metrópoles.
Na base das grandes fortunas está o trabalho de milhares de operários que vivem
um cotidiano de privações, esquecidos pela legislação trabalhista. As migrações
externas e internas determinam o excesso de mão-de-obra. E a crescente
mecanização da grande indústria, desempregando operários, deprime o salário e
agrava a já precária situação do trabalhador.
O cinema brasileiro atravessou uma
verdadeira febre de produção a partir de 1908. Os atores do cinema nacional
eram, em sua maioria, recrutados no teatro ou no circo. Homem que se prezasse
no Brasil era bem-falante. A oratória compunha a personalidade masculina do
mesmo modo que o fraque, o chapéu-coco, o cravo na lapela e o soberbo bigode –
tudo isso acompanhado, naturalmente, de um título de doutor. Escravas das
convenções, a mulher tinha um horizonte reduzido. Sua atuação social se resumia
às demonstrações de fé nas missas dominicais, de caridade, nas reuniões
beneficentes, e de boa anfitriã, nos salões onde expunha seus dotes musicais.
Sem direito a voto ou participação política, sobrava à mulher o papel de mãe e
educadora, sua principal tarefa na sociedade patriarcal.
O baiano Ruy Barbosa era o mestre da
oratória e defensor das grandes causas. Candidatou-se à Presidência da
República, mas perdeu e declarou: “Fora da lei não há justiça”. Os jornais
começavam a modernizar-se. Acompanhando a maré do progresso no Brasil, as
pequenas oficinas de tipografia compravam máquinas e iam se tornando grandes
empresas. Acompanhando as inovações técnicas das oficinas de impressão, foram
aparecendo inúmeras revistas com fotografias, páginas coloridas, ilustrações e
caricaturas. Caricaturistas de talento como Raul Pederneiras, K-Lixto e
J.Carlos tornaram-se a principal atração de revistas humorísticas como
Fon-Fon!, Careta, O Malho, entre outras. O Tico-Tico ganhou, imediatamente, a
preferência do público infantil.
A primeira revista exclusivamente de
quadrinhos, O Tico Tico, um grande sucesso entre crianças e adolescentes de seu
tempo. Foram 2097 edições e quase 57 anos de existência, encerrou uma saga
ainda não igualada pelas revistas infantis nacionais (1905-1962). Marco de
nossas publicações infantis, a infância de muitos brasileiros, passando a fazer
parte do imaginário coletivo da cultura nacional. Criada com o objetivo de
entreter e educar o leitor infantil pertencente à parcela média da população, a
revista O Tico Tico veiculava uma visão ingênua da infância. Os tipos que
aparecem em cenários da natureza com árvores e mato, onde animais, como vacas e
cavalos, aparecem soltos e livres. Personagens matutos, visto que normalmente usam
botas, chapéu de palha, macacão e camisas listradas.
Criado por Alfredo Storni (1881-1966)
especialmente para a revista infantil O Tico Tico em 1908, Zé Macaco é o personagem que mais durou na história dos quadrinhos
brasileiros. Foram quase 50 anos aparecendo na mesma revista, sem parar. O
detalhe é que Zé Macaco envelhecia de acordo com o passar do tempo, e se tornou
velho e barrigudo. A dupla que reúne o malandro Zé Macaco e a cabrocha
Faustina, casal típico brasileiro tornou-se tão popular que se transformou até
em motivo publicitário de casas de roupas e sapatos. Esses personagens foram
tão importantes quanto o Pafuncio e Marocas (Bringing Up Father), de McManus.
Trata-se de uma crítica à classe média urbana ascendente e deslumbrada.
Inicialmente, a mulher não tinha nome e era identificada como Madame Zé Macaco.
Um concurso entre os leitores definiu seu nome. O par tinha um filho Baratinha,
que apareceu apenas por um breve período nas histórias que focavam nas
tentativas frustradas da dupla de aparentar ter educação e inteligência e de
estar na moda.
O casal carioca era marcado pela feiúra e
idiotice, mas se esforçava para aparentar boa educação, inteligência e estar na
moda. Desde sua primeira aparição até 1957 a dupla foi publicado com a
característica de irem envelhecendo e Zé Macaco tornou-se careca e barrigudo.
Nessa história, o autor elabora a fórmula básica das histórias em quadrinhos
familiares, tem-se a mulher feia e atrapalhada, o marido querendo dar uma de
esperto, e seus amigos. Um casal feio, mas divertido. Mais tarde, essa estranha
família cresceu com Serrote, o filho, e Baratinha, o cachorro. Utilizando
traços caricaturescos, a série marcou toda uma época, divulgando as
características brasileiras da primeira metade do século 20. Storni explorou o
cotidiano de uma família carioca encantada pelos modismos europeus e ao mesmo
tempo desajustado em suas tentativas de ascensão social. Seu traço marcou a
revista por muitos anos.
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