08 novembro 2019

HQ brasileira hoje está mais autoral com variedade de estilos (04)


Foi com o fanzine Na Era dos Quadrinhos (1970) que surgiram as primeiras manifestações conscientes no sentido de se construir HQ autenticamente nacional - e popular na Bahia. O quadrinho baiano tomou fôlego com o surgimento do tabloide A Coisa, do jornal Tribuna da Bahia. A Coisa foi um seguimento natural do Na Era e tinha como meta principal “uma maior valorização do autor brasileiro e em particular baiano”. “Pretendemos também – dizia o editorial -, divulgar e abrir novas perspectivas aos humoristas e desenhistas que ainda não tiveram oportunidade de publicar seus trabalhos”. Em pouco tempo o suplemento revelou novos cartunistas e desenhistas de quadrinhos.




O lançamento do tabloide serviu para aproveitar vários desenhistas que antes apenas trabalhavam em outros setores. Jorge Silva, Carlos Ferraz, Romilson Lopes e Péricles Calafange foram as revelações em termos de quadrinhos. Lessa e Aps (Anildson Pereira dos Santos) tinham base cartunística e colocaram de maneira implícita a relação quadrinho/cartum.




Nessa época o humor do cartunista Lage era conhecido em toda a Bahia: humor engajado, militante sem ser partidário, contestador. Essencial, puro, em estado bruto. Na trilha do humor de comportamentos, ele criou personagens impagáveis, fazendo a melhor crítica de costumes dos quadrinhos baianos. Desenho de traço nítido, econômico, o cartunista Nildão em vez de fazer rir às custas da pessoa retratada, o ser humano que aparece em seus desenhos é anônimo. E o espectador se identifica com ele. Ele não ri mais às custas de um outro, mas às suas próprias custas. O cartunista e quadrinista Setubal trafega bem pelos quadrinhos. A significação social de sua obra e a elaboração narrativa trazem propostas extremamente ricas para nossos quadrinhos. O dinamismo de seus planos reveste-se de uma significação estrutural à altura das melhores produções gráfico visuais dos nossos tempos. Ele costuma dar um traço próprio aos seus personagens: Maré Mansa, reflexo da vida baiana, Argemiro e Garibaldo entre outros.




Flávio Luiz é muito conhecido pelas tirinhas em quadrinhos de Jab, um lutador, Rotta 66, as revistas Jayne Mastodonte, Au o capoeirista e pela graphic novel O Mesias em parceria com Gonçalo Júnior, entre outras. Luís Augusto discutiu o relacionamento do mundo adulto com a infância apresentando a diversidade do universo infantil e contribuindo para que a criança tenha voz atuante na sociedade na serie Fala Menino!.




Cedraz, um dos mais importantes quadrinhistas da Bahia, principalmente na área do quadrinho infantil, gênero que alcançou o auge das historietas cômicas nas séries Lúbio, Zé Bola, Joinha, Ana, Pipoca e a Turma do Xaxado. Durante muitos anos Cedraz vinha publicando seus trabalhos na Bahia, em outros estados e até fora do país. No mercado há mais de 40 anos, sempre batalhou, lutando para abrir espaço para os quadrinhos nacionais, mas com muita humildade. Nunca desistiu da luta, mesmo que batalhasse com dificuldades e enfrentando o todo poderoso syndicate norte americano.

Da simplicidade do traço à criatividade da narrativa, Xaxado retrata a vida rural com todas as suas lendas e mistérios. São aventuras de um garoto, neto de um famoso cangaceiro que vivia com o bando de Lampião, às voltas com problemas do dia a dia, junto com seus pais e amigos. A Turma do Xaxado reúne personagens tipicamente brasileiros e já recebeu diversos prêmios. Todo o trabalho tem um bom acabamento visual das personagens, com precisão no traço e originalidade temática. Através de um enredo fluente, falando de um cotidiano em que se misturam o real e o simbólico, o objetivo e o subjetivo, o autor constrói uma atmosfera da qual é difícil ficar alheio. Através de Xaxado penetramos no universo gráfico de Cedraz, o imaginário infantil cria asas e viaja na mente de todos nós.



O cartunista, publicitário e ambientalista Paulo Serra lançou em 1976 o personagem Mero para criticar e alertar sobre a devastação do meio ambiente. Também na década de 70 Dilson Midlej publicava as tiras de Niquita e o cartunista Caó se destacava com O Porco com Cauda de Pavão. Tem ainda nomes importantes como Tulio Carapia, Helcio Rogerio, Valmar Oliveira, Wilton Bernardo, Bruno Aziz entre outros.



Bacuri, de Carlos França, a garota Bartira de Péricles Calafange, a vida de um casal nos alagados, Nego & Nega, de Romilson Lopes, o grafismo de Cleber Barros, o traço criativo e experimental de Aps, Helson Ramos, o poema processo de Almandrade, e o experimentalismo gráfico de Carlos Ferraz, Jorge Lessa e Jorge Silva num delírio visual nunca visto até hoje na região, as pinturas influenciadas pelos quadrinhos de Juarez Paraíso, Floriano Teixeira, Carybé, Chico Liberato entre outros. Até Castro Alves já rabiscava caricatura, o cineasta Glauber Rocha também.


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