Foi com o fanzine Na Era dos Quadrinhos
(1970) que surgiram as primeiras manifestações conscientes no sentido de se
construir HQ autenticamente nacional - e popular na Bahia. O quadrinho baiano
tomou fôlego com o surgimento do tabloide A Coisa, do jornal Tribuna da Bahia.
A Coisa foi um seguimento natural do Na Era e tinha como meta principal “uma
maior valorização do autor brasileiro e em particular baiano”. “Pretendemos
também – dizia o editorial -, divulgar e abrir novas perspectivas aos
humoristas e desenhistas que ainda não tiveram oportunidade de publicar seus
trabalhos”. Em pouco tempo o suplemento revelou novos cartunistas e desenhistas
de quadrinhos.
O lançamento do tabloide serviu para
aproveitar vários desenhistas que antes apenas trabalhavam em outros setores.
Jorge Silva, Carlos Ferraz, Romilson Lopes e Péricles Calafange foram as
revelações em termos de quadrinhos. Lessa e Aps (Anildson Pereira dos Santos)
tinham base cartunística e colocaram de maneira implícita a relação
quadrinho/cartum.
Nessa época o humor do cartunista Lage era
conhecido em toda a Bahia: humor engajado, militante sem ser partidário,
contestador. Essencial, puro, em estado bruto. Na trilha do humor de
comportamentos, ele criou personagens impagáveis, fazendo a melhor crítica de
costumes dos quadrinhos baianos. Desenho de traço nítido, econômico, o
cartunista Nildão em vez de fazer rir às custas da pessoa retratada, o ser
humano que aparece em seus desenhos é anônimo. E o espectador se identifica com
ele. Ele não ri mais às custas de um outro, mas às suas próprias custas. O cartunista
e quadrinista Setubal trafega bem pelos quadrinhos. A significação social de
sua obra e a elaboração narrativa trazem propostas extremamente ricas para
nossos quadrinhos. O dinamismo de seus planos reveste-se de uma significação
estrutural à altura das melhores produções gráfico visuais dos nossos tempos.
Ele costuma dar um traço próprio aos seus personagens: Maré Mansa, reflexo da
vida baiana, Argemiro e Garibaldo entre outros.
Flávio Luiz é muito conhecido pelas
tirinhas em quadrinhos de Jab, um lutador, Rotta 66, as revistas Jayne
Mastodonte, Au o capoeirista e pela graphic novel O Mesias em parceria com
Gonçalo Júnior, entre outras. Luís Augusto discutiu o relacionamento do mundo
adulto com a infância apresentando a diversidade do universo infantil e
contribuindo para que a criança tenha voz atuante na sociedade na serie Fala
Menino!.
Cedraz, um dos mais importantes
quadrinhistas da Bahia, principalmente na área do quadrinho infantil, gênero
que alcançou o auge das historietas cômicas nas séries Lúbio, Zé Bola, Joinha,
Ana, Pipoca e a Turma do Xaxado. Durante muitos anos Cedraz vinha publicando
seus trabalhos na Bahia, em outros estados e até fora do país. No mercado há
mais de 40 anos, sempre batalhou, lutando para abrir espaço para os quadrinhos
nacionais, mas com muita humildade. Nunca desistiu da luta, mesmo que
batalhasse com dificuldades e enfrentando o todo poderoso syndicate norte
americano.
Da simplicidade do traço à criatividade da
narrativa, Xaxado retrata a vida rural com todas as suas lendas e mistérios.
São aventuras de um garoto, neto de um famoso cangaceiro que vivia com o bando
de Lampião, às voltas com problemas do dia a dia, junto com seus pais e amigos.
A Turma do Xaxado reúne personagens tipicamente brasileiros e já recebeu diversos
prêmios. Todo o trabalho tem um bom acabamento visual das personagens, com
precisão no traço e originalidade temática. Através de um enredo fluente,
falando de um cotidiano em que se misturam o real e o simbólico, o objetivo e o
subjetivo, o autor constrói uma atmosfera da qual é difícil ficar alheio.
Através de Xaxado penetramos no universo gráfico de Cedraz, o imaginário
infantil cria asas e viaja na mente de todos nós.
O cartunista, publicitário e ambientalista
Paulo Serra lançou em 1976 o personagem Mero para criticar e alertar sobre a
devastação do meio ambiente. Também na década de 70 Dilson Midlej publicava as
tiras de Niquita e o cartunista Caó se destacava com O Porco com Cauda de Pavão.
Tem ainda nomes importantes como Tulio Carapia, Helcio Rogerio, Valmar
Oliveira, Wilton Bernardo, Bruno Aziz entre outros.
Bacuri, de Carlos França, a garota Bartira
de Péricles Calafange, a vida de um casal nos alagados, Nego & Nega, de
Romilson Lopes, o grafismo de Cleber Barros, o traço criativo e experimental de
Aps, Helson Ramos, o poema processo de Almandrade, e o experimentalismo gráfico
de Carlos Ferraz, Jorge Lessa e Jorge Silva num delírio visual nunca visto até
hoje na região, as pinturas influenciadas pelos quadrinhos de Juarez Paraíso,
Floriano Teixeira, Carybé, Chico Liberato entre outros. Até Castro Alves já
rabiscava caricatura, o cineasta Glauber Rocha também.
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