05 novembro 2019

HQ brasileira hoje está mais autoral com variedade de estilos (01)


Nos últimos anos, a HQ nacional ficou mais autoral, com uma variedade de estilos. No final dos anos 90 o melhor caminho para entrar no ramo dos quadrinhos era investir em tirinhas para jornais e revistas. Os tempos mudaram. Os quadrinistas dessa geração já começam a desenhar e a escrever pensando em álbuns que possam ser vendidos nas livrarias. Em parte, a internet é grande responsável por essa nova tendência. Através dela é possível criar fanzines e se tornar conhecido antes mesmo de ter algum trabalho publicado. Os artistas estão experimentando o estilo livre, mais atento ao roteiro que somente ao virtuosismo do traço.

Após um período de estagnação econômica geral na década de 1990, uma série de fatores contribuiu para a retomada do quadrinho brasileiro no século atual. A difusão da internet como meio de divulgação, agenciamento, compra e venda contribuiu para formar carreiras de artistas, fundação de editoras e potencialização da crítica especializada. Os festivais de quadrinhos foram pontos de convergência importantes na fase recente do quadrinho brasileiro. O Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (bienal, desde 1997), a Bienal Internacional de Quadrinhos de Curitiba (desde 2011) e a Comic Con Experience (anual, desde 2014) são os principais eventos de encontro da cena nacional, com grande impulso de vendas, contato com influências estrangeiras e promoção dos quadrinhos. Entre os maiores beneficiados dos festivais estão os quadrinistas independentes, que planejam lançamentos e campanhas de financiamento coletivo conforme as datas de cada evento.


Temos o paulistano Danilo Beyruth, criador das HQs Necronauta, São Jorge, Bando de Dois entre outros, de alta voltagem gráfica, desenha agora para a Marvel. Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho são dois quadrinistas mineiros que começaram a trabalhar juntos no blog Quadrinhos Rasos, que adaptava letras de músicas em quadrinhos. A primeira HQ deles foi Achados e Perdidos, o primeiro quadrinho brasileiro financiado via crowdfunding, história de um menino que descobre um buraco negro em sua própria barriga. Seguiram Cosmonauta Cosmo, Bidu – Caminhos (para a série Graphic MSP) e Quiral.


Os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá foram premiados internacionalmente pela série Daytripper, Em 2015, lançaram uma adaptação em quadrinhos do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum, além de Casanova, publicada nos Estados Unidos pela Marvel Comics. Gabriel Bá também é autor da HQ The Umbrella Academy, roteirizada por Gerard Way e que virou série na tevê.

Já o jovem paulistano Felipe Nunes depois de lançar duas HQs independentes e com baixa tiragem, S.O.S. e Orome - Vol.1, o autor publicou Klaus (2014), pela Balão Editorial, seguida de Dodô. Nunes usa o universo infantil para abordar temas delicados como abandono, o inconformismo e o distanciamento familiar. Outro paulistano - Gustavo Duarte é um mestre dos quadrinhos sem falas. Seus dois primeiros trabalhos foram compilados em Có e Birds, lançado em 2014 pela Companhia das Letras. Pela mesma editora, ele também lançou Monstros (2012), Duarte também é autor de Chico Bento - Pavor Espaciar (2013), da coleção Graphic MSP. O trabalho rendeu a ele oportunidades no exterior, desenhou edições do grupo Guardiões da Galáxia, da Marvel Comics, e do personagem Bizarro, da DC Comics.


Donos de traços delicados e autores do sucesso Turma da Mônica - Laços (2013), da série Graphic MSP, os irmãos mineiros Lu e Vitor Cafaggi mantiveram a qualidade em seus trabalhos posteriores, a sequência Turma da Mônica - Lições (2015), e em seus trabalhos individuais: a série Valente, de Vitor, e Quando tudo começou (2015), de Lu.


Aclamado em países com mercado de quadrinhos tradicionalíssimos, como Espanha e França, o niteroiense Marcello Quintanilha é um dos principais nomes brasileiros no exterior. É autor do premido Tungstênio (2014), uma história sobre uma confusão envolvendo um ex-militar, um traficante, um policial e sua esposa. Também escreveu e desenhou Talco de Vidro (2015), assim como Almas Públicas e Sábado dos meus amores, coletâneas de histórias curtas do autor, publicadas pela Editora Conrad. Em janeiro de 2016, Quintanilha venceu um prêmio no Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, na França, principal premiação de quadrinhos na Europa

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