Nesta sociedade tudo se desmonta
rapidamente. Tudo é temporário. Nossas instituições, quadros de referências,
estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se
solidificar em costumes, hábitos e verdades auto-evidentes.
No passado tudo isso se fazia lentamente
para ser novamente se enraizado. Agora as coisas todas tendem a permanecer em
fluxo, voláteis. E em todos os aspectos a vida humana foi afetada quando se
vive a cada momento sem que a perspectiva de longo prazo tenha mais sentido.
Jean Paul Sartre aconselhou seus
discípulos a terem um projeto de vida, a decidir o que queriam ser e, a partir
daí, implementar esse programa consistentemente, passo a passo, hora a hora. A
ter identidade fixa. Hoje, nesse mundo fluído, tal decisão é suicídio.
Se na época da modernidade solida (o
passado recente), quem entrasse como aprendiz nas fábricas da Ford iria com
toda probabilidade ter ali uma longa carreira, hoje em dia, quem trabalha para
grandes corporações de computadores por um salário cem vezes maior não tem
ideia do que poderá lhe acontecer dali a meio ano. Antes uma das maiores
ameaças da existência humana era a fome e para neutralizá-la só mesmo o
alimento. Os riscos de hoje são de outra ordem como por exemplo a deterioração
das condições climáticas, os níveis de radiação e poluição, a diminuição das
matérias-primas e fontes de energias não renováveis, os processos de
globalização sem controle político ou ético.
Se a antiga condição de emprego poderia
destruir a criatividade humana (habilidades), mas construía a vida humana que
podia ser planejada. O patrão dependia do empregado e vice versa. Hoje nada
disso existe. A maioria das pessoas não pode planejar seu futuro por muito
tempo. E é dessa forma, a sociedade líquida, que o renomado sociólogo Zygmunt
Bauman compreende a complexidade e diversidade da vida humana.
Identidade nacional
A busca de uma identidade nacional
aconteceu na cultura brasileira durante o século XX. Poeta e artistas
encontraram nossa originalidade na ideia de um brasileirismo afetivo e gentil.
Isso é recorrente no luso tropicalismo de Gilberto Freyre com homem cordial de
Sérgio Buarque de Hollanda, do macunaísmo de Mário de Andrade à civilização
gazosa de Darcy Ribeiro, do populismo carinhoso de Jorge Amado aos malandros e
heróis de Roberto da Matta.
A ditadura militar destruiu esse mito do
estilo brasileiro. E começaram a desenvolver uma cultura de dublagem. Em vez de
produzir, começavam a reproduzir. E descobriram que o inferno, além dos outros,
somos nós mesmos. E aí é preciso se reinventar.
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