Na primeira metade do século XX, uma
trinca de gênios do humor gráfico se destacou no Brasil: Raul Pederneiras,
K.Lixto e J.Carlos. Os três estrearam na
imprensa quase ao mesmo tempo - na virada do século 20. A caricatura
genuinamente brasileira surge a partir desta estréia. Com eles nascia a caricatura de autor, cada
um mantendo um estilo próprio que se evidenciava inclusive na escolha das
temáticas.
Raul Paranhos Pederneiras (1874-1953) —
Raul, como ele assinava, ou Pederneiras, como ficou conhecido na crônica
editorial brasileira destacou-se no jornalismo da primeira metade do século XX.
Intelectual de fina formação, mas tinha também alma boêmia — por genuíno gosto
pela noite e como fonte de inspiração essencial para as observações da rotina
do Rio, que publicava nas suas “Cenas da vida carioca”, um olhar crítico e
bem-humorado sobre a cidade e sua população. Irmão do poeta Mário Pederneiras,
Raul cursou direito, além de exercer atividades como professor, caricaturista
(que lhe deu notoriedade), poeta, teatrólogo, compositor, publicitário e
jornalista (exerceu o cargo de presidente da Associação Brasileira de Imprensa
por dois mandatos: 1916-1917 e 1920-1926). E para lembrar que ele foi um dos
pais das histórias em quadrinhos brasileiras, a historiadora Laura Nery vai
lançar, ainda este ano, pela Editora Noir o livro “Devaneios Cariocas, os
quadrinhos revolucionários de Raul Pederneiras”.
Segundo o pesquisador Gonçalo Júnior,
foi no álbum Cenas da vida carioca, coluna que fazia para a Revista da Semana –
também publicava sátiras no Jornal do Brasil – que ele se mostrou um exímio
autor de quadrinhos, embora jamais usasse o recurso dos balões, preferia as
legendas. Numa das histórias, intitulada “No municipal”, ele retratava com
graça um dos prazeres da elite carioca – ir a espetáculos no mais pomposo
teatro da cidade. Mas foi com “O povoamento do solo, nos sábados, à tarde”, que
mostrou refinamento.
Ainda nessa coluna, em “Casa de
cômodos”, de 1924, que ele dava um corte lateral num sobrado de quatro andares
que permitia ao leitor observar tudo que acontecia em todos os pavimentos e
personagens ao mesmo tempo, numa surpreendente síntese que não se vira até
então.
O primeiro desenho de Raul foi publicado em 1898 (há 120 anos) em O
Mercúrio, que por ser totalmente colorido era uma revolução para a época.
Depois sua fama só fez aumentar com a publicação de seus trabalhos em
periódicos como O Tagarela, D.Quixote, Fon-Fon, O Malho, Correio da Manhã, o Paiz, Jornal do Brasil e outros.
Entre suas criações de mais sucesso estavam as
Cenas da Vida Carioca (sátira aos usos e costumes da classe média de então) e
os Onomatogramas (representações gráficas de nomes). Estes conquistaram
aplausos até no exterior. Até hoje seu trabalho é reverenciado, pelo
pioneirismo e pelo traço incomparável, como um dos mais influentes e elegantes
da história do humor gráfico do Brasil.
Um comentário:
muito legal! eu tenho aqui em casa método de desenho e caricatura do raul, de 1950, uma raridade.
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