Ângelo Roberto nasceu em 1938 no
município de Ibicaraí, sul da Bahia, mas fez toda a sua trajetória artística na
capital, onde se radicou desde 1944, chegando a receber o título de Cidadão de
Salvador, conferido pela Câmara de Vereadores, por sua contribuição à culturas
baiana, como artista plástico, ilustrador, caricaturista e muralista. Na década
de 50 era estudante do Colégio da Bahia e foi nessa época que se formou a
Jogralesca e se plasmou a chamada geração Mapa, revista que deu nome e
visibilidade a uma geração ímpar de artistas. Entre os colegas que vestiam a farda
daquele que era o colégio mais respeitado da época, estavam os cineastas
Glauber Rocha e Paulo Gil Soares, os artistas plásticos Sante Scaldaferri e
Calasans Neto, o jornalista e poeta Florisvaldo Mattos, o poeta Anísio Melhor,
o jornalista João Carlos Teixeira Gomes entre outros. Na época Glauber Rocha
instituiu um salão de artes plásticas, onde Ângelo ganhou o primeiro lugar em
desenho, com um auto-retrato a lápis.
A fase de criança é sempre presente na
sua obra porque foi um tempo bom. “Fui uma criança feliz graças ao professor
Adroaldo Ribeiro Costa. Um ano depois de chegar de Ibicaraí, em 1945, já
estudando na Hora da Criança, ele colocou um professor particular de desenho
pra mim, Álvaro Zózimo. Acho que foi ali que tudo começou“, disse o artista. Dali
em diante, Ângelo Roberto nunca mais deixou a prancheta. Aos 12 anos, desenhava
personagens infantis para a recém-inaugurada Biblioteca Monteiro Lobato, o que
rendeu uma exposição dele no VI Congresso de Escritores Infanto Juvenis, em São
Paulo. Foi amigo inseparável da bibliotecária Denise Tavares, a fundadora da
Monteiro Lobato. Aos 13 anos, também levado por Adroaldo Ribeiro Costa, passou
a ser o ilustrador das páginas infantis do Diário da Bahia e A Tarde.
Formado pela Escola de Belas Artes da
UFBa, fez cursos de pintura, gravura, escultura e cerâmica. Tendo optado pela
técnica do bico-de-pena, tornou-se, nesta área, um dos melhores artistas da
Bahia e do Brasil, participando de exposições no Museu de Arte de São Paulo, a
convite de Pietro Maria Bardi, da Primeira e da Segunda Bienal Nacional de
Artes Plásticas da Bahia e de mostras individuais e coletivas em quase todos os
espaços culturais e galerias importantes de Salvador. Produziu capas e
ilustrações para mais de 30 livros de escritores baianos, além de cartazes para
vários filmes baianos e para entidades e movimentos, como o Comitê Brasileiro
pela Anistia. No cinema, tem presença também como ator. Além do mercado de
publicidade, onde atuou por muito tempo como diretor de criação, realizou projetos
de decoração para o Carnaval baiano.
Retratar os amigos e pessoas mais
próximas sempre foi, aliás, um dos passatempos prediletos de Ângelo Roberto.
Humorista por excelência e observador da vida, ainda na Escola de Belas Artes,
surpreendeu colegas e professores com uma fantástica exposição de caricaturas
deles. Em 1984, retratou 30 políticos, artistas e intelectuais com quem dividia
a mesa de bar, como os escritores João Ubaldo Ribeiro e Guido Guerra, a atriz
Nilda Spencer, o dono da Cantina da Lua, Clarindo Silva, o poeta e Ruy
Espinheira Filho, o professor Cid Teixeira, o artista plástico Juarez Paraíso,
o vereador Celso Cotrim e o jornalista Béu Machado, amigo de infância. A
mostra, muito comentada na cidade, trazia o estilo de caricatura do artista: o
personagem de corpo inteiro e dentro do seu ambiente.
“O traço enxuto, a linha essencial, a
captação do fugidio, a retenção do imponderável fazem desta exposição –
comentou Cid Teixeira na época -, muito mais uma análise de caracteres, do que
de visões exclusivamente físicas dos eleitos. As pessoas são como que
desnudadas no seu jeito de ser” E acrescentou: “Poucas pessoas são tão Bahia
quanto ele”. Transitando na área de publicidade e da ilustração, como artista e
ser humano, ele procurou traçar na exposição de 1989 a geografia humana,
particularmente da Bahia, onde vive.
Os personagens podem ser crianças,
humildes, mendigos, vendedores de rua. Mas também os homens que contribuem para
a vida pública e cultural do estado, como os escolhidos para a mostra. Como
caricaturista, os traços são simples, precisos para uma percepção imediata de
quem as vê. O que ele faz é congelar a imagem psicológica do retratado, “com
extraordinária e expressiva síntese visual, na qual as sutilezas dos detalhes,
a atitude, o gesto, a ação, transcendem a mera enfatização das características
físicas”, observou Juarez Paraíso.
O mesmo traço das brilhantes caricaturas
de Ângelo Roberto é característico dos desenhos de cavalos, pássaros, animais e
crianças, que o caracterizam como um artista inspirado na infância. “Eu nunca
me desliguei da infância, acho até que ela me persegue, por mais que eu corra“,
disse certa vez.
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