No ano de 1968 a sociedade foi
posta em questão. Surgiram os hippies e a idéia de uma sociedade alternativa.
Revolução sexual, mudanças no comportamento, uso de drogas alucinógenas e
outras técnicas de expansão da consciência. Foi o ano do nascimento da
contracultura. Sua crítica abrange tanto a injustiça social (como em Freud) ou
a variada gama dos valores vigentes – estéticos (como na arte de vanguarda),
éticos (a liberdade sexual, a marginalização) e religiosos (o ocultismo,
pensamento oriental).
Em maio de 1968 (há 50 anos),
ocorreu uma rebelião popular na França que ultrapassou as divisões étnicas,
religiosas e de classes. A revolução estudantil de maio de 68 começou por um
motivo simples. No mês de março, o reitor da universidade de Nanterre proibiu
os rapazes de visitar as moças em seus dormitórios. Em protesto, um grupo de
cem estudantes invadiu a secretaria da universidade. O reitor, assustado,
suspendeu as aulas e chamou a polícia. Naquele protesto na secretaria da
universidade nasceu a figura de um líder estudantil que inspirou uma geração
inteira: Daniel “le Rouge” (o vermelho, em francês). Dias depois ele incentivou
os estudantes da Sorbonne a seguirem o exemplo da Nanterre. Resultado: a
polícia invadiu a universidade e as aulas foram suspensas. Os estudantes e o
sindicato de ensino entraram em greve.
Os estudantes tentaram retomar o
prédio e resolveram enfrentar as tropas policiais. As ruas viraram um campo de
batalha. De um lado, jovens armados de paralelepípedos arrancados das ruas; de
outro, policiais e suas bombas de gás lacrimogênio. Sirenes foram ouvidas por
dias, fogueiras queimavam em toda parte, centenas de estudantes foram presos.
Feridos dos dois lados. Entre uma série de muros pichados, uma frase ficou
famosa: “Défense d`interdire!” (É proibido proibir!)
Além dos estudantes, os operários
também entraram nas manifestações. Centenas de fábricas foram ocupadas e o
número de grevistas chegou a 10 milhões. Bandeiras de Mao, de Fidel, de Che
Guevara e de Lênin se juntaram às manifestações. Quase todos os setores da
sociedade se envolveram. Pessoas de todas as idades discutiam em auditórios
lotados e liam diariamente os boletins dos estudantes.
Assim, entre 1965 e 1970,
concentraram–se várias manifestações de estudantes, negros e trabalhadores em
geral contra o assim chamado “establishment” (o sistema político estabelecido).
Eram movimentos organizados, basicamente, em torno da efetivação dos direitos
humanos declarados pela ONU (Organização das Nações Unidas). Destacaram–se,
sobretudo, os protestos contínuos ocorridos de 3 a 30 de maio de 1968, em
Paris, França. Inicialmente, exigia–se a reabertura da Faculdade de Letras de Naterre,
mas devido à reação agressiva da polícia parisiense, uma onda de passeatas se
levantou.
Uma revolta permanente foi
implantada de um modo geral contra o governo conservador do general Charles De
Gaulle (herói da resistência francesa, durante a Segunda Guerra). Sem um fim
único concreto, passou a envolver, literalmente todo mundo – EUA, Alemanha,
Itália, Inglaterra e América do Sul –, nas reivindicações dos trabalhadores,
por melhores salários; dos negros, contra a discriminação racial e dos estudantes,
por uma reforma mais democrática do ensino e contra a Guerra do Vietnam.
Os maios de 68 se repetiram ao
redor do mundo, com diversos personagens e uma série de realidades diferentes.
Zuenir Ventura, em seu livro “1968, o ano que não acabou”, diz que “movida por
uma até hoje misteriosa sintonia de inquietação e anseios, a juventude de todo
o mundo parecia iniciar uma revolução planetária”.
O movimento estudantil de maio de
1968, iniciado na Universidade de Nanterre e que prosseguiu na Sorbonne, em Paris,
desde o início foi saudado com uma saraivada de significados, mas foi uma
revolução do desejo e da libido, como escreveu Gilberto de Mello Kujawski. Maio
de 68 não foi produto da luta de classes, e sim da luta de gerações, os jovens
contra os seniores, o novo contra o velho. A faísca que incendiou os espíritos
em maio de 68 foi a proposta apresentada pelo desconhecido e inconformado
estudante Daniel Cohn-Benedit ao então ministro da Juventude e dos esportes, M.
Missoffe, no centro esportivo da faculdade de Nanterre.
Em documento oficial divulgado
pela revista L`Express, foi registrado o que se passou: “À saída do sr.
Missoffe, cerca de 50 estudantes que o esperavam o receberam com gritos hostis.
O ministro tentou iniciar um diálogo. Um estudante de origem alemã, o sr. Marc
Daniel Kohn-Bendit, pediu-lhe, então, que se discutisse a questão sexual. O
ministro achou que era uma brincadeira. No entanto, o estudante insistiu no
tema e declarou que a construção de um centro esportivo era um método hitleriano
destinado a dirigir a juventude ao esporte para desviá-la dos problemas reais,
ainda que fosse necessário, acima de tudo, assegurar o equilíbrio sexual do
estudante”. A interpretação ao ministro tinha que ver com a proibição, pelo
reitor da Universidade de Nanterre, de uma conferência sobre Wilhelm Reich, um
dos mentores da revolução sexual, fixado nas funções revitalizadoras do
orgasmo.
Viver com paixão, com prazer, com
utopia, é cada vez mais uma impossibilidade numa sociedade que segue os
ensinamentos do romance Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, sabendo que a
estabilidade social só é viável pela impossibilidade da emoção e do desejo. O
maio de 68, foi um dos momentos decisivos que o sistema capitalista viveu
porque se configurou a convergência de grupos e classes sociais, em vários
locais do mundo, insatisfeitas com um regime visivelmente injusto e absurdo,
reforçadas por uma nova crítica social que dissecava impiedosamente esse
regime, possibilitando a sua compreensão.
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