25 maio 2018

Mais importante do que a felicidade, é a alegria de estar vivo


“À Procura da Felicidade” é um filme com Will Smith (de “Eu, Robô”, “Bad Boys 1 e 2”), dirigido pelo italiano Gabriele Muccino. O filme se baseia na história verídica de um desempregado e sem-teto aos trinta de idade, ele vivia com o filho em um banheiro de São Francisco quando decidiu se empenhar no objetivo de virar um banqueiro. Primeiro por meio de estágios e empregos menores. Aos poucos, criou a sua própria empresa de especulação financeira e investimentos, enriqueceu. “A Felicidade Não Se Compra”, foi outro sucesso na tela. Filme de Frank Capra (1946). Em 1998 o cineasta Todd Solondz lançava “Felicidade”. O título resume muito bem a intenção do filme de explorar a hipocrisia, a falsidade, os contrastes. Tudo para provar que não há fórmula infalível na busca desse tão almejado “estado de contentamento”. Quanto maior a ilusão de felicidade, maior a decepção. Avassalador.

Vivemos mais e melhor, mas não somos mais felizes do que nossos antepassados. Isso porque a felicidade era algo, para nossos antepassados, que acontecia e não um produto de nossas vontades. Quem busca uma alegria contínua e soberana, ou a ausência total de sofrimento, certamente nunca será feliz. É preciso amar a vida, mesmo quando ela é difícil.  O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844/1900) falava em alegrar-se com o que é, e não esperar o que não é. Conhecer, mais que crer. Amar e agir, mais que esperar e temer. Para o pensador francês André Comte-Sponvillle (autor do livro “Felicidade, Desesperadamente”), “ser feliz é desejar o que temos, ou o que é. Esperar é ter medo. Ser feliz é ser sereno. O conteúdo da felicidade é a alegria. Não há alegria maior que amar. Amar é contentar-se com o que existe. A única felicidade está dentro da verdade”. Eis um trecho de seu pensamento:


“Portanto a felicidade é a meta da filosofia. Para que serve filosofar? Serve para ser feliz, para ser mais feliz. Mas, se a felicidade é a meta da filosofia, não é sua norma. O que entendo por isso? A meta de uma atividade é aquilo a que ela tende; sua norma é aquilo a que ela se submete. Quando digo que a felicidade é a meta da filosofia mas não sua norma, quero dizer que não é porque uma idéia me faz feliz que devo pensá-la – porque muitas ilusões confortáveis me tornariam mais facilmente feliz do que várias verdades desagradáveis que conheço. Se devo pensar uma idéia, não é porque ela me faz feliz (senão a filosofia não passaria de uma versão sofisticada, e sofística, do método Coué: trata-se de pensar ‘positivo’, como se diz, em outras palavras ludibriar-se). Não, se devo pensar uma idéia é porque ela me parece verdadeira”.


“A felicidade é a meta da filosofia mas não é a sua norma, porque a norma da filosofia é a verdade, pelo menos a verdade possível (porque nunca a conhecemos por inteiro, nem absolutamente, nem com total certeza), o que chamaria de bom grado, corrigindo Spinoza por Montaigne, a norma da idéia verdadeira dada ou possível. Trata-se de pensar não o que me torna feliz, mas o que me parece verdadeiro – e fica a meu encargo tentar encontrar, diante dessa verdade, seja ela triste ou angustiante, o máximo de felicidade possível. a felicidade é a meta; a verdade é o caminho ou a norma. Isso significa que, se o filósofo puder optar entre uma verdade e uma felicidade – felizmente, o problema nem sempre se coloca nesses termos, só às vezes –, se o filósofo puder entre uma verdade e uma felicidade, ele só será filósofo, ou só será digno de sê-lo, se optar pela verdade. Mais vale uma verdadeira tristeza do que uma falsa alegria”.


Blaise Pascal, físico, matemático e filósofo francês, escreveu no século XVII: "A felicidade é o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar". Querer ser feliz é uma lei natural da alma humana. Ou, como diz outro filósofo francês, atual, Pascal Bruckner, é uma réplica moral da lei da gravidade. Dinheiro, prestígio, sexo e tudo mais que julgamos ser a nossa felicidade é transitório. As circunstâncias mudam e com elas, na maioria das vezes, os nossos humores. Além de misteriosa, portanto, a felicidade é talvez a coisa mais fugidia deste mundo.


"A melhor maneira de definir felicidade é vê-la não como um estado (prazer ou bem-estar, por exemplo), mas como um modo de vida, o que implica o exercício de determinadas capacidades, a realização de nossas potencialidades", diz o doutor em filosofia Cláudio Reis, da Universidade de Brasília. "O problema é saber o que exatamente compõe esse modo de vida, algo impossível de ser reduzido a uma fórmula”.

“No século XVIII, felicidade já deixara de ser um direito para se tornar um dever. Mas essa inversão de valores só se consolidou no século XX, depois de 1968, quando se fez uma revolução em nome do prazer, da alegria, da voluptuosidade. A partir do momento em que o prazer se torna o principal valor de uma sociedade, quem não o atinge vira um indivíduo fora-da-lei” revela o autor do livro “A Euforia Perpétua”, o romancista e ensaísta francês Pascal Bruckner. Ele questiona o dever de felicidade na sociedade ocidental, e exorta as pessoas a não se sentirem culpadas por não serem felizes. “Mais importante do que a felicidade, é a alegria de simplesmente estar vivo, de estar aqui na terra para esta aventura efêmera", diz Bruckner.



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