Rio morre
de sede
Existem rios de
navegar
navegam barcos, barcaças
e balsas
no vai e
vem de um dia
a dia sem parar
e suas corredeiras
partem de seu curso
d'água para o mar
mas a poluição
fluvial pode provocar
sua morte
seja na ocupação
desenfreada para industrialização
ou moradia de
terrenos ribeirinhos,
e os danos
são irreversíveis ao
rio
cujas águas podem
parar
e no seu leito
o rio secar
Assim, o rio
morre de sede,
as águas não
mais escorrerão
e da nascente
até a foz
nada poderá salvar
esse rio que
um dia corria para
o mar
e no seu
córrego, no seu
regato,
igarapé, buritis e
muitos pássaros
nunca mais irão
passar
esse rio, agora
jaz!
(Gutemberg Cruz, 2014)
Amor lilás
O vento da noite
está soprando
o cheiro forte de amor lilás.
O dia morreu na orgia
do pôr do sol roxo de vinho.
E eu alimento os deuses
de meus pensamentos insanos
Nesse momento sinto seu sopro
modiscando meu pescoço
Fecho os olhos e abro o coração
me exponho nesse chão agreste
Você feito flecha se apressa
em atingir meu corpo sã
Agora só resta o vento
caminhando em frestas e flores
e em todos meus amores. (Guto)
COMEÇO
entrava batendo a
porta
me fotografava
com o olhar ardente
me beijava mastigando
os dentes
e me abraçava
sofregamente;
No começo você
foi mais gente
apertava minhas mãos
sedento
beijando meu corpo
fervendo
e conversava
altas horas no relento.
No começo você
foi eterno
parecia feito em
sal
eu levava os
lábios sôfregos
e ungia o
seu corpo todo
você não se
desprendia
vibrava em mim,
vivia em mim
no começo foi
somente amor.
CALIGRAFIA
Você é intrigante
e instigante
vive sob o
signo da multiplicidade
das confluências
e dos campos disciplinares
transita entre um
movimento e outro
é aberto a
outras linguagens
a outras sensibilidades
E está sempre
atento ao meu mundo
e ao seu.
E na dança
do tempo
entre o estranho
e o insólito
entre o belo
e o feio, o
bem e o mal
você passeia nesse
território natural.
Na caligrafia
do amor escreve à
flor da pele
alcança primeiro com
os olhos
depois com o
olfato faz o extrato
sintetiza no toque
e no paladar
tem sensações
que vai além mar.
Viaja nos verbos
do infinito
e na pele
a condição transparece
nos gestos, entrecortados
por suspiros vulgares
e respirações
profundas
e num impulso
subterrâneo
para um gozo
insano
É a delicadeza
se encontrando
na sombra do
medo e do desconhecido
tudo nesse espaço
infinito.(Guto)
MULHERES
Há mulheres que
amam sem pudor
passam as noites
em pleno furor.
E há as
que sentem felicidade
no ar,
beijam, abraçam, tateiam
e querem mais
Há mulheres que
não sabem o que
fazem,
tiram a roupa
e toda a cumplicidade.
E há as
que a gente não
esquece, deixam suas
marcas
e saem fora
do set.
Há mulheres que
não dá para recordar,
transam na noite
só para gozar
Mas há as
que amam, as que
sonham e as que
fogem
todas temem a
esperança nos corações,
recordem.
APANHADOR DE PALAVRAS
Sou um apanhador
de palavras
encostadas em um
livro qualquer
uso para compor
meus silêncios
repor meus desalentos
e reunir meus
tormentos
Quero secar as
palavras
molhadas em meus
sentimentos
controlar as lágrimas
Umedecendo minha alma
prestes a desaguar
rio acima
tipo de doença
que rói
e rói silenciosamente.
As palavras voam
e a escrita permanece
é o que
garante o adágio
vindo do latim
escrita é que
nem ódio, só envelhece
e o amor
nunca se esquece, é
que nem prece.
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