A roupa toda listrada já foi
coisa de presidiário ou mafioso. Hoje é sinônimo de gente bem informada
e
cosmopolita . Na Idade Média, roupas listradas tinham conotação negativa e eram
associadas a quem estava à margem da sociedade - prostitutas, serventes,
criminosos. Nas pinturas medievais, o próprio diabo aparecia vestindo listras.
Mas, nos dois últimos séculos, o padrão ganhou um significado positivo e de
liberdade - principalmente por causa das bandeiras da França e dos Estados
Unidos. É possível que os americanos tenham escolhido um tecido listrado
(símbolo da escravidão) para exprimir a ideia do servo que rompe suas correntes
e, assim, inverter o código das listras, sinal de privação de liberdades, estas
se tornam, com a revolução americana, sinal de liberdade conquistada. Assim
vestir-se em listras pode ser um meio de proclamar a adesão ao movimento das
liberdades.
Dependendo do tipo físico, certas
roupas são proibitivas. Pessoas obesas não devem usar roupas listradas na
horizontal. Isso aumenta ainda mais seu tamanho, assim como as pessoas muito
magras, não devem usar roupas com listras verticais, pois ficarão ainda mais
magras. É fundamental usar roupas que
sejam harmoniosas com as formas do corpo.
Há uma milenar fama dos tecidos
listrados como "coisa do demo". Um ensaio do historiador e paleógrafo
francês Michel Pastoureau, intitulado O Pano do Diabo faz uma viagem no tempo
em busca de desvendar o significado das listras nas vestimentas da sociedade
ocidental . Qual o motivo da roupa dos presidiários ter sido listrada, assim
como a dos loucos e doentes contagiosos. Seria uma forma de diferenciar os que
estavam à margem da sociedade?. As listras de alguma forma também foram
relacionadas ao mar, nas roupas dos marinheiros e nos trajes para banhos de
mar. O esporte, em geral, também se apoderou delas, seja nos uniformes ou em
símbolos de marcas famosas.
As Sagradas Escrituras já não as
recomendavam. Está no Levítico: "Não levarás sobre ti uma veste que seja
feita de dois." Dois tons, bem entendido. A fama, portanto, não é antiga,
é antiqüíssima. Os muçulmanos sempre usaram mantos listrados. Por esse motivo
intriga a Igreja, avessa a qualquer parentesco com hábitos orientais. Os
tecidos listrados eram usados - em vestimentas, cintos, fitas, capuzes e
barretes - por judeus, heréticos, bufões, saltimbancos, carrascos, prostitutas,
leprosos e outros excluídos da sociedade daquele tempo. Caim, Judas, Dalila e
Salomé também haviam feito das listras um involuntário emblema de sua desonra.
Na obra, Pastoureau focaliza mais
de 800 anos de história da humanidade, através das listras e de seus múltiplos
significados. Na Idade Média, as listras eram reservadas aos loucos, aos
leprosos, aos doentes contagiosos, aos banidos da sociedade. As listras foram
olhadas com desprezo, isolando dos outros quem as vestia. Em uma cultura em que
o visível tem uma importância primordial, todos sabem ler o sentido dessas
barras. Prostitutas e saltimbancos na época medieval usavam roupas listradas reforçando
o status marginal da estampa – representações do diabo eram frequentemente
ilustradas com listras.
Até o século XV, as listras
tinham caráter depreciativo e serviam para designar loucos, doentes contagiosos
e banidos. Depois uma ambígua reviravolta passa a associar o listrado ao
servilismo e também à proteção – aparecendo em roupas de criados, protegidos
dos nobres. No século XIX, uma função higiênica e medicinal distingue os
costumes listrados: roupas de banho, de crianças, pijamas – usos do vestiário
que denotam assepsia, ao menos aparente. A reputação do pano listrado só
mudaria substancialmente do final do século XVIII em diante, depois de
representar, na França, a vitória do bem (burguês) contra o mal
(aristocrático), o triunfo da marginalidade, e, no Novo Mundo, a implantação da
democracia moderna.
No início do século passado,
chegaram à moda com Gerald Murphy, eleito o homem mais elegante da classe de
Yale em 1912. Ele teria sido o primeiro a usar listras, nos salões
aristocráticos da Riviera francesa: a camiseta tradicional dos marinheiros. Nos
anos 30 o pintor Pablo Picasso ajudou a celebrizar as listras nas rodas
intelectuais, divulgando o look em suas temporadas de verão na França e na
Espanha. Também nos anos 30, a grande costureira francesa Coco Chanel ajudou a
celebrizar as listras entre o público feminino. Negativas nos uniformes dos
campos de concentração nazistas e dos presidiários do cinema e dos quadrinhos,
as listras expandiram-se positivamente por outros corpos: de crianças, banhistas,
marujos e esportistas, seus mais benignos usuários. A semiologia das listras é
infinita e encontrou no estudioso Pastoureau um trabalho de ampla visão.
As listras apareceram em
figurinos de filmes que marcaram a história do cinema e fazem parte dos
ciclos
da moda, dos temas náuticos à alfaiataria risca-de-giz. Basta conhecer as
roupas de Coco Chanel nos anos 20, ou as camisetas de marinheiro do estilista
Jean Paul Gaultier . Nas histórias em quadrinhos os ladrões ou malfeitores
ainda apresentam vestidos de listras berrantes e horizontais. Os personagens de
Filochard na série Les Pieds Nickelés, os Irmãos Metralhas da Disney, os gêmeos
Dupondt de Tintin, ou o Coringa, a outra moeda do Batman, entre outros. Até a
figura da zebra, metáfora mais que repisada, tem caráter de exceção à regra, e
os peixes que apresentam listras são os mais procurados porque são raros.
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"Colóquio
História e Quadrinhos: a Bahia em HQ" terá oficinas de quadrinhos,
debates, exposição, feira de livros e lançamentos
Em comemoração à Semana do Livro e
Biblioteca que acontece em outubro, a Biblioteca Virtual 2 de Julho, unidade
vinculada à Fundação Pedro Calmon/ SecultBA, realizará o "Colóquio
História e Quadrinhos: a Bahia em HQ”. No Colóquio, será destacado a
importância das ilustrações (charges, quadrinhos, cartuns e animações) como
instrumento de divulgação da história e cultura da Bahia. Serão formadas três
mesas de debates: “A história e a cultura da Bahia pelos quadrinhos”, “Novos
traçados do mercado de quadrinhos na Bahia” e “Identidade nos traços”. O evento
será realizado no Complexo Cultural dos Barris, de 13 a 17 de outubro, e tem
inscrições abertas no site da Biblioteca Virtual 2 de Julho
(www.bv2dejulho.ba.gov.br).
Também haverá feira de troca e venda de
quadrinhos, espaço de interação, exposição e oficinas. Dentro do site da
Biblioteca será disponibilizado o acervo digitalizado do cartunista Hélio
Roberto Lage. Além de lançamento de publicações de editoras baianas, da
Diretoria do Livro e Leitura (FPC). No dia 17, no encerramento do Colóquio, a
Banda Herbert & Richard animará o público com músicas ligadas ao universo
HQ.
Dentre os convidados, estão confirmadas
as presenças dos cartunistas CAu GomeZ, Nildão, Gentil, Gutemberg Cruz, Caó Cruz
Alves, Priscila Pimentel, Bruno Marcello, Jamile Coelho, Edu Santana, Danilo
Dias, André Betonassi, Naara Nascimento, Hector Salas e Lila Cruz. Nos
encontros serão discutidos itens como a produção e o mercado editorial de
quadrinhos na Bahia, promovendo um intercâmbio entre profissionais de
diferentes regiões do Brasil nesta área, além de uma oportunidade de ensinar a
arte de construir um gibi, por meio de oficinas.
Toda a programação do evento pode ser
consultada no site da Biblioteca Virtual 2 de julho, no endereço
www.bv2dejulho.ba.gov.br
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