O personagem é fascinante, verdadeira
ode a liberdade. Corto Maltese está sempre em busca de
aventuras. Para os novos
leitores uma oportunidade de conhecer esse marinheiro, “alter ego” do autor. “A
Balada do Mar Salgado” (re) lançada no Brasil pela editora especializada em
quadrinhos, a Pixel. È o ponto inicial nos vários títulos do italiano Hugo
Pratt que pinta sonhos com as cores da realidade.
Nascido em Rimini (a cidade do cineasta
Fellini) em 1927, o pequeno Pratt foi levado por seus pais em uma longa viagem
pela África, onde entrou em contato com os costumes e tradições culturais que
marcariam sua formação. Morou na Etiópia, retornou à Itália, fixando-se na casa
da família em Veneza, onde cresceu e se educou. Ingressou na Cruz Vermelha
quando estourou a Segunda Guerra Mundial. É ali que faz seus primeiros
registros iconográficos, desenhando uniformes, construções e costumes dos
países por onde passou.
Quando a guerra terminou, criou com os
roteiristas Faustinelli e Ongaro uma revista onde desenhou o personagem Ás de
Espadas. Fracasso. Parte então numa viagem pelo mundo como marinheiro. Nos anos
50 desenvolveu junto com o roteirista Oesterheld os personagens Sargento Kirk,
Ticonderoga e Ernie Pike. É nessa época que escreve seus próprios roteiros a
partir de suas experiências de guerra e
de suas viagens pela áfrica.
Em 1967 escreve e desenha o personagem
Corto Maltese, um marinheiro romântico do início do século que vive viajando
pelo mundo, como seu autor. A suave melancolia do personagem transformou Pratt
numa celebridade. Com Corto Maltese, conquistou os mais importantes prêmios
mundiais, entre eles o Yellow Kid, conferido pelo Festival de Lucca. Corto foi
inspirado em Lord Jim, de Conrad, o escritor de sua juventude. Corto Maltese é
uma verdadeira febre na Europa, e foi um sucesso ao ser editado nos EUA sob o
aval do jovem mestre dos quadrinhos americano Frank Miller.
Alto, esguio, sempre vestido com uma
capa azul de marinheiro acompanhado de um quepe branco com a aba inclinada
sobre os olhos, o cabelo negro e a pele morena, brinco na orelha, Corto
Maltese, garboso e intrépido aventureiro, é fascinado pelo mar, esse eterno
desconhecido. A aventura corre em suas veias. Nascido na Ilha de Malta, na
virada do século, cedo descobriu que o mar era o seu meio natural. E rodou meio
mundo perseguindo seus ideais. Forneceu armas para os exércitos de Zapata e
Sandino. Lutou pela libertação da Etiópia das mãos dos colonizadores europeus.
Organizou o cangaço em seu combate ao coronelismo no sertão brasileiro.
A trajetória se inicia com “A Balada do
Mar Salgado” (lançado no Brasil pela L&PM e agora relançado pela Pixel)
onde mistura ação, história, filosofia e misticismo. De lá para cá o marinheiro
romântico e aventureiro participou de várias histórias na companhia de muitos
personagens, entre os quais se destacam Rasputim (um bandido sanguinário), o
professor Steiner (um cientista), Cush, o Etíope (guia do deserto), Tarao
(indígena da Nova Zelândia), Duquesa Marina Seminova (aristocrata e cativante),
Shangai Lil (jovem ativista da seita dos Lanternas Vermelhas) e Boca Dourada
(feiticeira baiana).
Em suas andanças, Corto também encontra
diversas figuras históricas como Jack London (jornalista e romancista americano),
John Reed (cuja vida salva durante um motim), Stalin (que lhe salva a vida), o
Barão Vermelho, Butch Cassidy, Sundance Kid e Herman Hesse. Pratt tem um
desenho muito particular, marcado pelo traço quase cinematográfico, e suas
histórias têm um forte conteúdo literário e poético.
Os álbuns com suas aventuras são as mais
autênticas graphic novels (quadrinho com estrutura de
romance). Afinal o fôlego
de romancista é a marca registrada de seu estilo. Quando se pôs a serviço de
Corto e passou a mapear suas aventuras, partiu numa viagem sem volta em busca
do sentimento da natureza humana. A necessidade de aventuras de Corto passou a
ser a sua própria. Pratt visitou muitas vezes o Brasil, teve vários amigos na
Bahia com os quais se correspondia. Basta ler as séries “Sob o Signo de
Capricórnio” e “Corto Malteses na Amazônia”.
A exemplo de seu marinheiro de argola na
orelha, que escolhe o destino desenhando uma linha da vida na palma da mão, à
navalha (lembram de sua história quando garoto?), Pratt “parte à procura de si
mesmo em lugares conhecidos”. Há algo de alquimia, de colecionador neste
ficcionista que revisita perpetuamente a vida, suas certezas e sonhos. E, de
passagem, ver “contando histórias de uma geração apaixonada pela existência,
pois possuía o sentimento de haver sobrevivido”.
Nossas editoras demoraram para publicar
algo mais desse profundo marinheiro. Restaram as publicações portuguesas das
Edições 70 e distribuídas pela Martins Fontes. Agora, em boa hora a Pixel
publica seus álbuns. Vamos aguardar: "Sob o Signo do Capricórnio",
"As Célticas", “Corto Maltese na Etiópia", "Corto Maltese
na Sibéria", "Fábula de Veneza", "A Casa Dourada de
Samarcanda", "Tango", "Mû", “As Mulheres de Corto”
(que reúne todas as personagens femininas que se envolveram com ele), e “O
Labirinto de Corto Maltese”, livro esotérico listando todos os lugares,
culturas e mitos que o personagem conheceu em suas viagens.
Aclamado como um dos maiores autores das
histórias em quadrinhos de todo o mundo, Hugo Pratt faleceu em1995, na Suiça,
mas sua obra artística permanece sendo continuamente republicada em todas as
partes do mundo.
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Biblioteca
Virtual 2 de Julho realiza colóquio sobre a história da Bahia em quadrinhos
Aliada no incentivo à leitura e à
escrita, por meio do lúdico e criativo, a arte das ilustrações estará em
destaque em Salvador, desta quarta a sexta-feira (15 a 17), durante o Colóquio
História e Quadrinhos: A história da Bahia em HQ’, realização da Biblioteca
Virtual 2 de Julho, unidade da Fundação Pedro Calmon, vinculada à Secretaria de
Cultura do Estado (Secult). O evento, gratuito, acontece no Complexo Cultural
dos Barris, com inscrições pelo site da BV (www.bv2dejulho.ba.gov.br).
O propósito do colóquio é discutir a
técnica e o uso das ilustrações como instrumento de divulgação da história e
cultura da Bahia. Para isso, convidou cartunistas baianos para os debates. Eles
vão falar da possibilidade também de apreender enredos históricos e fictícios
que simbolizam a história e a cultura do estado por meio desta arte.
Entre os convidados, está confirmada a
presença dos cartunistas Cau Gomez, Nildão, Caó Cruz Alves, Edu Santana e Lila
Cruz. Nos encontros serão discutidos itens como a produção e o mercado
editorial de quadrinhos na Bahia, promovendo um intercâmbio entre profissionais
de diferentes regiões do Brasil nesta área, além de uma oportunidade de ensinar
a arte de construir um gibi, por meio de oficinas.
A programação consta de três rodas de
conversa, exposição sobre o cartunista e ilustrador Hélio Roberto Lage, feira
de venda e escambo de quadrinhos. A BV fará ainda homenagem póstuma ao
cartunista, Antonio Cedraz, falecido dia 11 de setembro deste ano. Mais
detalhes estão disponíveis no site do evento.
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