21 março 2011

Rock, o grito negro que atravessou a América (1)

Primeiro foi o grito negro que cortou os céus americanos. O negro veio para a América como escravo. Seu grito era o reconhecimento do ambiente novo e hostil que o cercava. Em seguida o grito ia se alterando, assumindo novas formas. A única tábua de salvação era sua musicalidade. Seu lamento se transformou em grito. E o grito ia se alterando, assumindo novas formas Servia de suporte às canções de trabalho e às cantigas de escárnio, aos cânticos religiosos, a spirituals, gospel songs, e às canções de menestréis. Dessa forma, com música, o trabalho tornava-se menos pesado. A mão de obra negra, desde os tempos da escravidão, se refugiava na música (os blues) e na dança para dar vazão, pelo corpo, ao protesto que as vias convencionais não permitiam.


Foi do casamento do grito escravo com a harmonia europeia que nasceu o blues. A tonalidade blue (triste, melancólica) resulta de uma resistência cultural, uma inadequação do negro, incapaz de aderir completamente à tonalidade europeia. Essas notas (chocantes para os ouvidos da classe média) eram conhecidos como dirty notes (notas sujas).


Os blues eram marca de individualidade. Havia blues de Blind Lemon, de Willie Johnson e muitos outros. E os gritos se tornaram mais complexos: acompanhados pela guitarra, gaita de boca ou outros instrumentos rudimentares. O ritmo era marcado na batida do pé (nas zonas rurais). Já nas cidades, iam-se introduzindo os instrumentos europeus como cornetas, trombones, clarinetas e piano.


O rock and roll nasceu praticamente da fusão do rhythm & blues (velho blues rural em roupagem urbana) com o country & western). O country era a música rural do “branco pobre” dos EUA e o western a música dos cowboys do Oeste. Assim, houve o encontro de duas grandes correntes populares americanas: a branca e a negra. Uma mistura do velho blues rural, o rhythm & blues urbano, o country (música das zonas rurais brancols), o western (música dos vaqueiros do Oeste) e a tradição folclórica tanto negra (work songs, spirituals, gospels,etc) como branca, de origens americanas ou europeias.


GRITO > BLUES > RHYTHM & BLUES > ROCK AND ROLL > ROCK


Assim, Elvis Presley juntou o rhythm and blues ao contry and western. Chuck Berry, o blues com o country. Billy Halley, o boogie, o rhythm and blues e o country, e assim por diante. O resultado foi chamado de rock´n´roll.


Muita gente deve estar perguntando: porque a música europeia se misturou facilmente com a música da África Ocidental? Porque elas são parecidas. Em tempos antigos, a Europa e a África eram ligadas (por parte do mesmo continente) segundo os arqueólogos. Ambos, músicas europeia e africana, usam a escala diatônica (notas brancas no teclado do piano) e empregam em suas canções uma certa quantidade de harmonia.


A canção popular (derivadas dos grandes shows musicais da Broadway) preencheu seu papel no período entre guerras (eufórica nos twenties e melancólica nos anos da Depressão). Depois do choque da Segunda Guerra, ele não comunicava mais nada às novas gerações. Assim, por volta de 1950 a canção popular americana havia perdido sua função social. O blues não, sobreviveu a todas essas mudanças, olhando o mundo sem ilusões, como a coisa complexa que é.


Em fins de 1950, nos Estados Unidos, a chamada “geração silenciosa”, marcada pelo fim da Segunda Guerra Mundial, viu-se frente a um ritmo até então desconhecido, derivado da sonoridade de um povo marginalizado. O grito e o blues eram afirmações da individualidade do negro. Quando Elvis Presley juntou as duas correntes (o rhythm and blues e o country and western) o produto final, o rock and roll, surgiu carregado de ritmo negro e blue notes. E a voz humana ressurge, depois de um longo silêncio. O rock surgiu como o grito de revolta de uma nova geração.

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