16 março 2011

Alternativa para produtores do semiárido baiano: vinho de umbu

O fruto mais popular e generoso do sertão baiano é o umbu. Em todos os quintais, praças e plantações se veem umbuzeiros carregados, e os agricultores aproveitam para participar de cursos de capacitação e se valer dos benefícios que o umbu pode oferecer. Uma alternativa para os produtores do semi ariado baiano é o vinho de umbu. A bebida está sendo desenvolvida por um projeto de pesquisa do engenheiro de alimentos Breno de Paula, mestrando da Ufba.

A pesquisa conta com a parceria da Embrapa, Agroindústria de Alimentos (RJ) e do Senai de Vassouras (RJ). Breno vai apresentar o projeto na sua banca de mestrado em Farmácia na Ufba neste mês de março. Segundo ele, o processo foi realizado com a polpa da fruta, da qual após as fases de correção da acidez e medição do teor de açúcar, parte para a fermentação com a levedura selecionada. Com 25 kg de polpa de umbu, é possível produzir cerca de 50 litros do vinho.


POPULAR - Umbu, imbu, ombuzeiro, ambu, giqui, imbuzeiro, taperebá, são inúmeros os nomes populares dados ao umbuzeiro, a árvore-símbolo da Bahia. Árvore frondosa e de bons frutos, originário dos chapadões semi-áridos do Nordeste brasileiro, a exemplo da caatinga baiana, a planta encontrou boas condições para seu desenvolvimento encontrando-se, em maior número, nos Cariris Velhos, seguindo desde o Piauí à Bahia e até norte de Minas Gerais.

No Brasil colonial era chamado de ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra tupi-guarani "y-mb-u", que significava "árvore-que-dá-de-beber". Suas raízes superficiais exploram um metro de profundidade, possuindo uma estrutura conhecida como xilopódio, uma espécie de batata da raiz, na qual se armazena água, daí tal acepção. Pela importância de suas raízes foi chamada "árvore sagrada do Sertão" pelo escritor Euclides da Cunha.


É uma árvore de pequeno porte (em torno de 6m de altura), seu tronco é curto, sua copa tem forma de guarda-chuva, a qual projeta sombra densa sobre o solo, além disso, sua vida é longa, cerca de 100 anos. O fruto, o umbu, contém proteína, cálcio, ferro, fósforo, vitaminas A, B, C e B1. A frutificação inicia-se em período chuvoso e permanece por 60 dias, cada planta chega a produzir 300 kg de frutos por sofra.


TUDO SE APROVEITA - O umbu tem bom valor comercial, é consumido in natura ou preparado na forma de sorvete, refresco e, principalmente, como ingrediente da tradicional umbuzada, que é a polpa do umbu “de vez” (estágio entre o verde e o maduro), cozida com leite e açúcar. Das batatas da raiz do umbuzeiro é fabricado um doce de grande apreciação nas feiras livres da Bahia, prática que tem contribuído para a presença cada vez menor da árvore na paisagem nordestina.


Suas folhas frescas podem ser consumidas em saladas, já as folhas verdes bem como seus frutos, são consumidos por bovinos, caprinos, ovinos e animais silvestres. A casca do tronco e dos galhos é utilizada pelo sertanejo no combate as diarréias e verminoses, entre outros males, se cozida, tem propriedades adstringentes e é usada para combater infecções da garganta. A água que se acumula nos ocos dos troncos e galhos do umbuzeiro serve para lavar olhos doentes e inflamados, já a água da batata é usada como vermífugo.


O sertanejo também usa o umbu para fabricação de "sabão de decoada". A sombra do umbuzeiro é sempre procurada pelo trabalhador nas horas de descanso e calor. A árvore fornece ainda tinta extraída da madeira, esta por sua vez, é usada como lenha, para carvão, para fazer cachimbos, para obras internas, caixotaria e pasta para papel. Como se vê, o umbuzeiro é merecedor do título de árvore-símbolo do Estado, no qual as adversidades jamais se sobrepõem ao desejo maior da sobrevivência de um povo, e a natureza, generosa como sempre, dá todos os subsídios para garantir a vida onde pensamos não ser possível.


VÁRIOS PRODUTOS - Segundo estudiosos, a “ameixa do Nordeste” pode gerar cerca de 48 produtos, entre doces, farinha, bebida feita com o caroço torrado e moído, gelatinas, umbuzada, sorvetes, polpas, sucos, iogurtes, acetona, extrato (semelhante ao de tomate), vinagre, vinho, entre outros. Todos ricos em vitamina C e muito saborosos.

É da árvore sagrada do sertão que centenas de famílias do semi-árido nordestino garantem sua sobrevivência durante a seca. Mas a fartura na safra do umbu não se limita a alguns meses do ano. Em pequenas comunidades de Uauá, Canudos e Curaçá, no Norte da Bahia, o trabalho com a fruta transformou em fonte de renda fixa. As famílias se organizaram em cooperativa e estão beneficiando o umbu. O trabalho que começa com a colheita da fruta, reúne principalmente os jovens e as mulheres da comunidade.


A integração dessa fruticultura às atividades de pequenas indústrias de beneficiamento e transformação dos frutos em doces, geleias e sucos sinaliza para um mercado promissor. Nos municípios de Curaçá, Uauá e Canudos os pequenos produtores rurais aprenderam a beneficiar esses frutos. O doce de umbu produzido no semi árido baiano conquistou os europeus e já está sendo exportado para a França.

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