O western é a forma cinematográfica mais adequada para espelhar a América contemporânea. O gênero é amaldiçoado pela Academia de Hollywood. Mas em 1991 a indústria do cinema quis colocar o ator Kevin Costner em um pedestal, ele partiu para um projeto pessoal: um western falado em sioux. Disseram que ele estava louco. Doze indicações para o Oscar provaram que não. Ganhou sete Oscars (melhor filme, diretor, fotografia, montagem, som, roteiro adaptado e trilha sonora) e foi o primeiro faroeste premiado desde Cimarron, em 1931.
“Dança com Lobos” (Dances with Wolves) é um western épico com três horas de duração, em que Kevin Costner não só interpreta o papel de um oficial renegado da União (exército do Norte dos EUA durante a Guerra da Secessão), que vive entre os índios de uma tribo sioux, como também fez sua estreia como diretor. Costner mostrou tudo que a dita “civilização” protestante, branca e anglo-saxã perdeu com o monstruoso genocídio racial que cometeu no Oeste. As ambições humanistas de Costner passaram por cima de tudo: má propaganda boca a boca, duração de três horas e um terço falado em linguagem nativa lakota, com legendas (coisa que o público americano detesta) e num gênero que é, definitivamente, fora de moda. Ele também abriu mão de cerca de US$2 milhões de seu salário de US$5 milhões como ator para que os produtores pudessem usar esse dinheiro para atender às despesas que a produção teria no final das filmagens.
“Dances with Wolves” foi um absoluto sucesso de crítica e público. Como ator, Kevin Costner esbanja simpatia; como diretor, detalhista e impecável. O resultado, um filme irretocável, merecendo os Oscars a que foi indicado. Costner fez o épico que a América, obcecada pelos crimes contra o meio ambiente, estava esperando. O personagem principal do filme, John Dunbar, se perde no tempo e no espaço e se iden
tifica com a natureza representada pelo lobo. Seu caminho é longo e culmina com a sua transformação num outro homem – um índio, como se percebe na cena em que ele, prisioneiro dos seus antigos colegas de farda, responde aos brancos na linguagem dos sioux.
FÚNEBRE - Hollywood negou ao índio o mais elementar dos direitos, que é o reconhecimento da sua condição humana. Basta assistir aos westerns de John Ford. Um dia, ele se redimiu e fez “O Crepúsculo de uma Raça” (Cheyenne Autumn), transformando o Outono dos cheyennes no canto fúnebre não só dos índios mas do western também. O filme é de 1964. Nesse mesmo período, o cineasta Gordon Douglas mostrou, em “Rio Conchos”, que, um dia, o caçador de índios descobre num pele-vermelha uma dignidade e uma retidão a que não estava acostumado. Em 1970, Dustin Hoffman trafega entre duas culturas, a branca e a índia. “Pequeno Grande Homem” (Little Big Man), de Arthur Penn, ganhou fama como um dos westerns desmistificadores da história do cinema. Richard Harris vive um prisioneiro dos sioux que, depois de vários rituais e torturas, é aceito pela tribo, tornando-se líder. O filme é “Um Homem Chamado Cavalo” (1970), western antropológico de Elliot Silverstein, que fez tanto sucesso que deu origem a uma série.
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