13 julho 2010

Roland Schaffner e suas paixões transculturais

Ele viveu situações políticas e sociais distintas no Rio, Salvador, Calcutá e Belo Horizonte. Em Salvador por quase duas décadas à frente do Instituto Goethe nos anos 70 e 90, Roland Schaffner é uma referência de liberdade para artistas e intelectuais. Ao sair do Instituto Cultural Brasil Alemanha (Icba) em 1999 começou a escrever um livro com suas experiências interculturais. A obra será publicada pela Edufba ainda este ano. Intitulada Memoráveis paixões transculturais, em que contextualiza sua experiência, está sendo esperado com ansiedade por todos.

Nos anos 70 o Brasil vivia tempos difíceis com os direitos políticos e sociais proibidos. Uma parte da nossa história que não foi esquecida. A nossa Salvador teve um espaço de liberdade, onde artistas, intelectuais e o público puderam se encontrar, produzir e fazer experimentações artísticas. Esse espaço, o Icba (Instituto Cultural Brasil Alemanha) teve à frente o alemão Roland Schaffner. Durante quase duas décadas à frente do Icba em Salvador (1970 e 1990), Schaffner foi uma referência de liberdade para artistas e intelectuais.

ESPAÇOS PARA OS ARTISTAS

Verdadeira fundação cultural, o Instituto Cultural Brasil Alemanha (Icba) com Schaffner à frente criou cooperativas artísticas, barracas para montagem de cinema, artes plásticas, direção de teatro, núcleo de vídeo, quadrinhos, formação de ator e música eletrônica. Basta lembrar o Baiafro, grupo de percussão liderado por Djalma Correia; o teatro étnico Palmares Ynãron, de Antonio Godi, Interarte, de artes visuais; o desenho animado com Chico Liberato; Intercena com Carmen Paternostro. E por lá no Icba que a atual Jornada de Cinema da Bahia, fundada por Guido Araújo como Jornada Baiana, pôde se desenvolver, além de produzir o primeiro curso profissionalizante de Cinema da Bahia. Os artistas visuais e cartunistas Paulo Setúbal, Nildão, Lage e muitos outros frequentavam o local

O nosso Centro de Pesquisa de Comunicação de Massa (grupo que estudava as artes gráficas – quadrinhos, cartuns, caricaturas) realizou no período de 01 a 12 de junho de 1976 uma exposição sobre Quadrinhos na Bahia. E de 01 a 15 de setembro de 1977 realizamos no mesmo local a mostra

Quadrinhos na Imprensa Baiana. Ao levar a proposta sobre quadrinhos para o Icba, Schaffner foi mais que receptivo, ele foi participativo, procurou incentivar os artistas gráficos da Bahia e abriu as portas da instituição para reuniões e debate. Foi uma época de crescimento.

MODELO PARA OS DEMAIS

Roland Schaffner nasceu em Dresden, uma cidade que foi destruída pelos nazistas. Ele cresceu em Colônia, e desde os 14 anos pegava carona pelo sul da Europa e norte da África. Na Austrália trabalhou como carpinteiro. Ao voltar para a Alemanha descobriu a literatura comparada. Dos estudos literários, por 12 anos, seu interesse passou para a contextualização sociológica e política das artes. Seu trabalho foi único e modelo para os demais institutos. A coletividade escolheu o Icba como porta-voz de seus anseios, centro de realização e intercâmbio.

Depois ele foi trabalhar em Calcutá, na Índia. Retornou, desta vez para Belo Horizonte onde mobilizou o cenário cultural de forma inédita. Em 1992, Schaffner recebeu o título de cidadão soteropolitano e, em, agosto do mesmo ano, voltou a assumir o Icba em Salvador realizando o I salão de Arte Digital, fundou o primeiro núcleo do vídeo baiano, agitou o teatro musical e diversos outros artes. Em 1999 ele saiu do Icba e começou a escrever um livro com suas experiências interculturais. O livro deverá sair este ano pelo Edufba: “Memoráveis paixões transculturais”, em que contextualiza sua experiências

Em 2009 por iniciativa do ator e antropólogo Antônio Godi, membro do Conselho Estadual de Cultura da Bahia, Roland Schaffner foi homenageado por sua contribuição à cultura baiana. Verdadeira universidade à parte, um “campus livre”, o trabalho de Schaffner foi revolucionário, participativo, compartilhado. Roland Schaffner é o nome que está gravado na memória de todos.

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