23 julho 2010

O faroeste nos gibis italianos (2)

Em 1977, os italianos apresentam uma antítese do cowboy americano: Ken Parker, fruto o escritor Giancarlo Berardi e do desenhista Ivo Milazzo. Trata-se de um mocinho de estatura mediana, feio, de nariz aquilino, que nunca utilizou revólver. Esse cowboy solitário, que lê Shakespeare e Walt Whitman ao som de Woody Guthrie, é uma testemunha angustiada da marcha violenta do homem americano na conquyista do continente. Baseado diretamente no personagem de Robert Redford em “Jeremiah Jonhson”, de Sydney Polack (tem a mesma cara, mesmo rifle de um só tiro – um velho Kentucky de carregar pela boca – o mesmo nariz com o osso saliente, mesmo olhar bíblico), o herói mantem uma integridade obsessiva e cativante nas mais absurdas situações.


Sua trajetória é a trajetória da América da segunda metade do século XIX. Parker, que viveu um período de sua vida entre índios, testemunha o progresso com uma sabedoria incomum para um simples scout, caçador e trakker do Oeste bravio. Ao servir de guia para uma lady britânica, ele foi iniciado na literatura, tornando Shakespeare inseparável de sua mochila. Além de questionar profundamente os valores de sua época. As referências são uma constante na obra do argumentista Berardi. O episódio “O Homem Inútil”, por exemplo, é uma homenagem ao filme “A Legião Invencível”, de John Ford. Boston reúne num trem os principais detetives do século passado, Sherlock Holmes, Elery Queen, Dupin, Vance e Hercules Poirot.


A trama é uma sátira aos romances intrincados de Agatha Christie, a la Assassinato por Morte, a com´dia de Robert Moor. No Brasil, Ken Parker teve 53 volumes lançados pela Editora Vecchi, que faliu em 1983. Em 1990 a Best News começou a publicar Ken Parker e fechou suas portas dos “tiros ao alvo” (medidas econômicas) do presidente Collor. O personagem vem sendo publicado com sucesso em países como Itália, França e Espanha. Curiosamente, este western, que está para os quadrinhos assim como John Ford está para o cinema, até o momento (1991) nunca foi editado nos EUA. Desa forma, tanto nos quadrinhos quanto no cinema, as histórias de faroeste foram “reforçadas” pela lenda e pela fantasia. Agora, chegou o momento de mostrar o verdadeiro panorama de uma rude época, que viu desfilar tipos insólitos, homens e mulheres em busca de um caminho no horizonte selvagem.



Blueberry - O tenente Mike Steve Donovan, verdadeira identidade de Blueberry, existiu de verdade. Fisicamente, a inspiração foi o ator francês Jean-Paul Belmondo. Malicioso e teimoso, começou a ser publicado no Brasil em 1976. De tenente, o mocinho passa a ser agente federal.


Tex Willer - Criado na Itália em 1948, Tex é o maior dos "fumetti" (quadrinhos italianos) e também o maior caubói do Brasil: já tem mais de 50 anos de bancas e é o que mais vende, até hoje. Tex teve suas feições inspiradas em Gary Cooper. Conhecido como Águia da Noite, tem em Kit Carson seu parceiro inseparável e é também amigo do índio Jack Tigre. Foi salvo da morte pela índia Lilyth (ou Lírio Branco) e casou-se com ela. Da união saíram dois bons frutos: o filho Kit Willer e o título de Chefe dos Navajos – adquirido após a morte do sogro, o poderoso índio Flecha Vermelha.


Epopéia Tri - O nome original desta série italiana é História do Oeste. No Brasil, foi publicada como Epopéia Tri pela editora Ebal porque era trimestral. Os gibis duraram 17 anos, ou 73 edições. A série, criada por Gino D’Antonio e Renzo Calegari em 1967, contava a história do Velho Oeste através de várias gerações das famílias MacDonald e Adams, a partir de 1804, durante a primeira expedição em direção ao Oeste norte-americano, até 1890. Nela, grandes nomes da história se misturavam a personagens fictícios, fossem políticos, bandidos, mocinhos, índios ou pioneiros.


Ken Parker - Nascido em 1974, Ken Parker teve suas feições inspiradas no ator Robert Redford e estreou no Brasil em 1978. É o mais "humano" dos heróis de western: ele apanha, sofre e se machuca um bocado nas histórias. Tinha um irmão, Bill, assassinado no primeiro número. Por isso, passa o tempo caçando os matadores. É chamado também de Rifle Comprido, graças à sua antiga arma de fogo Kentucky, herdada do avô, que a usou na Revolução Francesa.

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3 comentários:

Lucas Pimenta disse...

Mestre, posso publicar a parte referente ao Ken Parker no meu blog?

http://kenparker.blogspot.com

Em tempo já conheceu o Quadro a Quadro?

http://quadro-a-quadro.blog.br

Obrigado desde já.

Grande abraço,

Lucas Pimenta disse...

Em tempo, dá uma rápida olhada no texto (erros de digitação) e acrescentar que KP foi publicado no Brasil pela mythos Editora e pela Tapejara e Cluq, sendo que a Tapejara relançou a série original publicando os 55 números anteriores lançados no Brasil pela Vecchi e Best News e os quatro inéditos que compõe os 59 números da primeira série.

Abração mestre!

Gutemberg disse...

Lucas,
Fique a vontade para publicar o que desejar.
Obrigado pelo conserto sobre a publicação do Ken Parker.
Conheço o Quadro a Quadro e é bem informativo.
Um grande abraço
Gutemberg