21 junho 2007

Onda cover: os replicantes chegaram nos anos 90 (2)

Quase todos os astros pop possuem um clone brasileiro. Alguns são calcados mais na filosofia do que na aparência (caso da cover de Frank Zappa, The Central Scrutinizer Band). Já Guns ´N`Cover, Billy Idol, U2, Duran Duran, Faith No More, George Michael e até Beatles com o visual sixties figuram na lista dos exemplares nacionais, vestidos a caráter e com os mínimos trejeitos, para fã nenhum botar defeito. Só na cidade de São Paulo, nos anos 90 existiam mais de 100 bandas desse tipo. No Rio, umas 50 e em Salvador, 15.

Surgidas no Dama Xoc, casa noturna em São Paulo que abrigava o maior número de shows de cover, bandas como U2 Cover, Guns N´Cover e Duran Duran Cover têm se apresentado em lugares nobres como o Olympia, e levado a eles mais público do que Lulu Santos, Barão Vermelho ou lobão. Duas dancenterias paulistas que lançaram o gênero – o Aeroanta e o Dama Xoc – resolveram diminuir o número de shows de cover. Segundo os responsáveis pela casa noturna, o modismo saturou.

“Muitas bandas covers surgiram porque as gravadoras não deram espaço para produções próprias”, informou Milton Machado, do U2. “Tem gente do grupo Gueto que é obrigado a fazer cover do Talking Heads para sobreviver”, disse Tadeu Elieser, guitarrista do Rock Memory, a banda cover mais antiga de São Paulo. O Rock Memory, que começou em 1981 a apresentar hits dos anos 60 e desde então já reproduziu músicas de três décadas, e foi a única banda cover a gravar discos.

O grupo carioca Terra Molhada é veterano em covers. Eles começaram em 1980, acompanhando Tavito. Três anos depois passaram a tocar Beatles. Depois de um rodízio por diversas casas noturnas, o quinteto aportou no People. “Essa turma sublima seus ídolos e, como sabem que eles dificilmente virão ao Brasil, contenta-se com cópias”, disse o baixista Márcio Silveira. Se antes esses músicos encontravam dificuldades junto às gravadoras, depois eles foram procurados para ajudar no lançamento dos discos das bandas originais.

Nem todo fã é um cover mas a recíproca é verdadeira. A cantora Ione Papas é fã e pesquisadora da vida e obra de Noel Rosa. Ela interpreta muito bem suas composições. O mesmo para Rita de Cássia com as canções de Caymmi. Alexandre Leão interpreta músicas do poeta Vinícius de Morais. Tom Tavares apaixonado pela obra dos Beatles, canta as músicas dos quatro de Liverpool. E os espaços se abriram para performance sonoro do Pink Floyd, Raul Seixas (banda Caverna Club), Rolling Stones e tantas outros.

REGRAS

Como são raras as apresentações dos super-astros da música no Brasil, o público, então, aplaude os melhores similares que se esforçam para que a audiência se sinta diante dos legítimos. Para quem quer trilhar a tão desejada estrada do sucesso, eis as dicas para montar uma banda cover:

  1. Escolha imitar um astro popular como as bandas Rolling Stones ou Beatles. A imitação de um astro menos comercial não é tão bem-sucedida como a de quem canta o sucesso da novela.
  2. É preciso conhecer o máximo possível da vida e obra do ídolo. Conhecer todos seus hits.
  3. O sósia tem de se preocupar com as roupas, a marcação do palco e as caras e bocas do ídolo imitado. A regra é ser artista e tiete.
  4. Os que não têm compromissos com a semelhança física têm que buscar a harmonia musical, a pureza sonora.
  5. Recrute bons instrumentos e treine bastante a discografia da banda escolhida. Não acrescente uma ponta sequer de alteração ou novidade às versões. Tudo deve soar exatamente como o original.
  6. Ao escolher o nome, abuse dos trocadilhos, seja malicioso e brinque com as palavras. Exemplos? Guns´N´Cover, U2 Cover, Homenagem a Pink Floyd...

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