A Ciência Em Si (Gilberto Gil e Arnaldo Antunes)
Se toda coincidência
Tende a que se entenda
E toda lenda
Quer chegar aqui
A ciência não se aprende
A ciência apreende
A ciência em si
Se toda estrela cadente
Cai pra fazer sentido
E todo mito
Quer ter carne aqui
A ciência não se ensina
A ciência insemina
A ciência em si
Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar
Do avião a jato ao jaboti
Desperta o que ainda não, não se pôde pensar
Do sono do eterno ao eterno devir
Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar
Para alcançar o que já estava aqui
Se a crença quer se materializar
Tanto quanto a experiência quer se abstrair
A ciência não avança
A ciência alcança
A ciência em si.
Claro (Florisvaldo Mattos)
Pelas tardes de fogo homens
pedras movem com capacetes
de sombra mergulhados
em ruas de verão e sal.
Nada me diz que as coisas
se passam como me dizem
além
da parede de vidro que nos divide
aquém
das algemas de sono que nos unem.
Sou como posso fiel
a meu projeto mesmo
que de pronto não o achem
meus olhos – anônimos
minhas mãos – rachadas
meus lábios – rebeldes
nos espaços burocráticos
nas relações de amizade
nos desertos duros da fome.
Liberdade é meu ser
e tempo. É o meu nome.
Razão – o meu sobrenome.
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