Cresce cada vez mais o número das chamadas “cover bands”, conjuntos especializados em tocar o som de gente famosa como U2, Guns N´Roses, Beatles, Raul Seixas e Madonna. A idéia desses grupos – cujo nome vem da palavra inglesa cover, que significa cobrir – é fazer tudo igualzinho ao que a banda original faz. Quanto mais parecido, melhor. Na falta do original, a cópia, desde que bem feita, pode satisfazer. Prova disso é o sucesso que as bandas paulistas de cover têm conseguido. A onda pegou com nomes como Raul Seixas Cover, Let it Blitz, Let it Beatles entre outros, com casas lotadas nos finais de semana.
A falta de shows internacionais no Brasil abre um espaço para as bandas e cantores covers. Se alguém não sabe, cover é o sósia do artista original, cópia quase perfeita. Clones. De tanto ouvir fitas e discos, de tanto ver shows, fitas e clips dos ídolos, de tanto ler sobre eles em revistas nacionais e/ou importadas, o cover incorpora a personalidade do artista. E há cover de qualquer astro em voga: Madonna, Guns´N´Roses, U2, Beatles, New Kids On the Block entre outros. São iguaizinhos aos originais, só que não duram mais que três anos. Vestem-se com roupas iguais às dos astros, cortam o cabelo do mesmo jeito e, além de tudo, dançam as mesmas coreografias. Alguns até cantam, ou tentam.
Acusadas de matar o rock nacional, as bandas de cover lotam ginásios e casas de espetáculo. Em 1989, elas despontavam como uma alternativa para shows em pequenas casas noturnas, com propaganda feita boca a boca. Hoje, as bandas de cover são um fenômeno. O sucesso tem provocado reações negativas de críticos e músicos que fazem seu próprio trabalho. Para o jornalista Marcel Plasse, do Estado de S.Paulo, “o que impressiona no atual boom, objeto de consumo da geração pós-karatê, é a maneira como ocupa o espaço que supostamente pertenceria ao rock nacional (...) A ânsia pelo lucro criou um movimento não-declarado contra a emergência de novas bandas no cenário pop nacional. Se a parada de sucessos promove uma volta ao passado das versões sessentistas, e os grupos de covers enchem os poucos lugares existentes para a apresentação de bandas de rock, não é de estranhar que a música não se renove”.Escreveu o crítico no início dos anos 90.
Henrique Lima, guitarrista do Guns´N´Cover, se defendeu: “Isso é hipocrisia. Todos sabem quais são as regras do jogo. Nós somos músicos que estamos há muito tempo na batalha, todos com trabalhos próprios paralelos. O cover surgiu da falta de oportunidade e não de criatividade. E o resultado é do que eu chamaria de questão social do músico”, conclui.
Os covers são tratados com distância pelas bandas com trabalhos próprios e estigmatizados pela parcela mais exigente dos consumidores pop – são chamados de replicantes, que ocupam os espaços dos novos. O sucesso conferiu uma aura de respeito às bandas covers. Em junho de 1991 o Guns´N´Cover, U2 Cover e Duran Duran Cover reuniram no Olímpia cinco mil pessoas num show. Foi o recorde de público da casa, mais um entre muitos recordes colecionados pela onda. Grupos de cover foram escalados no festival Rock nas Montanhas, em Campos de Jordão em julho daquele mesmo ano, e o Ultrsaje a Rigor abriu o show do U2 Cover. Os músicos do Guns N´Cover chegaram a ganhar CR$1 milhão por mês, saldo de cachês que ultrapassam os de bandas com CDs próprios. E eles só aceitaram hotéis cinco estrelas, fizeram
Cabelos oxigenados, crucifixos e espartilhos compõem o universo da aeromoça e cantora cover Silvia Malanzuk, que encarna a Material Girl nos palcos paulistas. Sua peculiar trajetória inclui uma filiação artística (seu pai foi ator da extinta TV Tupi), um título de Miss Amapá 86, algumas novelas no SBT, fotos como modelo e uma curta temporada cantando bossa nova no Japão. Mas o currículo dessa moça que em 1991 tinha 28 anos não foi suficiente para ela se destacar como um novo valor da MPB. Além da voz de mezzo-soprano, Silvia era dona de um corpo de violão e sonhava com noites na Broadway. Para chamar a atenção do público, formou a banda The Virgin´s Soldiers e transformou-se na personalidade que caía como uma luva na sua loirice e ambição profissional: Silvia era a Madonna nacional.
Assim surgiram os covers. Impossibilitados, pela falta de dinheiro e de apoio às novidades, de mostrar o seu trabalho, os músicos recorrem aos seus ídolos. Treinam a voz, decoram o repertório, estudam as posturas e sobem no palco afinadíssimos com as características das suas fontes de inspiração.
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