16 dezembro 2022

Fulu: a saga da escrava negra pela liberdade

 

Há anos sonhava em ler essa obra, Fulu que a Editora Trem Fantasma está lançando no Brasil. Trata-se de um hino à liberdade, uma aventura de uma escravizada no Brasil colonial. Foi publicada originalmente na Argentina entre 1989 e 1992 na revista Puertitas, depois editado em diversos idiomas até chegar ao Brasil pela primeira vez em sua versão integral. Esse é um dos mais emblemáticos trabalhos da dupla Carlos Trillo e Eduardo Risso com desenhos cheio de sombras e ângulos. O uso do preto e branco ao invés de cores causa um efeito no significado de uma história. Belíssimos!

 

Todos nós aficionados por HQs sabemos da alta qualidade do quadrinho argentino e seus grandes nomes nunca foi segredo entre as editoras do Brasil, sobretudo porque os argentinos têm destaque e prêmios na Europa. Mas poucas editoras brasileiras se arriscaram a importar os clássicos dos hermanos. Parabens para a excelente edição da Trem Fantasma. É o mercado brasileiro surfando na onda argentina.

 


E o que vemos é esse canto pela liberdade em meio aos horrores da escravidão. Capturada por traficantes de escravos e levada para a Bahia, Fulù precisa retornar ao seu lar, na África, a todo custo. Para alcançar seus objetivos, usará todas as armas a seu dispor, sejam lâminas, sedução ou… magia. Tem a forte presença do bandeirante Domingos Jorge Velho que sitiou os quilombos e levou ao fim o famoso Quilombo de Palmares. Todo esse realismo fantástico é muito bem construído e consegue prender a atenção do leitor nas 250 páginas desta obra apresentando o contexto histórico, étnico, social e cultural do Brasil no século XVII.

 

A dupla

 

Carlos Trillo (1943-2011), um dos mais importantes roteiristas que os quadrinhos já tiveram, com mais de 30 anos de produção, publicou suas primeiras tiras em 1964, na revista Patoruzú, para a qual trabalharia até 1968. Em 1972 passou a colaborar com a recém-lançada Satyricón — revista que inovou o humor gráfico no país —, da qual tornou-se editor artístico em 1973. O título foi cancelado pelos militares em 1976.

 

Foi nesse período que conheceu Alberto Breccia, com quem fez Un tal Daneri, história lançada na revista Mengano, em 1975; e Horacio Altuna, seu colaborador na série El Loco Chávez, que era um reflexo da vida social e econômica da Argentina. Nas décadas de 1970 e 1980, colaborou com Altuna em Charlie Moon, Merdichesky, Las puertitas del Sr. López, publicada em El Péndulo, em outubro de 1979, El último recreo, HQ lançada em 1982, no famoso título espanhol, 1984, e republicada na Argentina, em Superhumor e Fierro, e Tragaperras.

 


Entre 1977 e 1982, lançou a série Alvar Mayor, ilustrada por Enrique Breccia, filho de Alberto. Em 1978, foi considerado o melhor autor internacional no Festival de Lucca, na Itália, pelo qual recebeu o prêmio Yellow Kid. Sua colaboração com Domingo Mandrafina começou em 1979, com Los misterios de Ulises Boedo. Seria um de seus relacionamentos mais prolíficos. Outros trabalhos incluem: Historias mudas, El contorsionista, Dragger, Peter Kampf, Cosecha Verde, El Iguana, El Husmeante, Spaghetti Brothers e Viejos Canallas.

 

Em 1999, Trillo ganhou o prêmio de Melhor Roteirista, no Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, por seu trabalho no álbum La grande anarque (edição francesa que publicava as histórias Cosecha Verde e El Iguana). Ainda na década de 1980, Trillo foi homenageado no Salón Internacional del Cómic de Barcelona, como o melhor roteirista do ano de 1984. Em 1987, escreveu Gangrène, história desenhada pelo espanhol Juan Giménez.

 

Foi nesse período que Trillo começou sua parceria com autores como o espanhol Jordi Bernet (de Torpedo) e Eduardo Risso (de 100 Balas). Seus principais trabalhos com Jordi Bernet são as HQs A Bela e a Fera, de 1985, Custer, Light & Bold, Clara da Noite, Ivan Piire e Cicca Dum Dum. Com Risso, seus trabalhos mais conhecidos são Borderline, Fulù, Chicanos, Video Noir, Simon, Point de rupture e o Menino-Vampiro.Junto com Carlos Meglia, Trillo escreveu Irish Coffee, de 1987, e Cybersix, que foi lançada na revista Skorpio em 1992.

 


Dono de um traço marcante, facilmente reconhecível, Eduardo Risso (1959-   ) é um dos grandes herdeiros da tradição argentina em historietas, firmando-se como um dos maiores expoentes dos quadrinhos mundiais na atualidade, tendo seus trabalhos sido publicados por algumas das maiores casas editoriais do planeta. Vencedor de três Prêmios Eisner (2001, 2002 e 2004), três Prêmios Harvey (2002, 2003 e 2008), um Prêmio Yellow Kid (2002), além do Prêmio Inkpot (2017), por seu apoio aos quadrinhos mundiais.

 

Ele iniciou sua carreira de desenhista como ilustrador do jornal La Nación, em 1981. A seguir, publicou diversos trabalhos avulsos nas revistas Eroticon e Satiricon, da Editorial Columba. Em 1987, junto com o roteirista Ricardo Barreiro, iniciou a série Parque Chas, na revista Fierro. No ano seguinte, ainda em dupla com Barreiro, publicou Cain e Los Mistérios de la Luna Roja. Também em 1988, publicou Borderline, com roteiros de Carlos Trillo, iniciando uma duradoura parceria em vários trabalhos para editoras da Europa. Fulù, de 1989, foi a primeira. Depois, vieram outras como Simon, um Aventureiro Americano, de 1994, e Chicano, de 1997. Por essa época, começaram suas publicações nos Estados Unidos.

 

Para a Dark Horse, fez a minissérie Alien: Wraith e adaptou o filme Alien: Ressurrection. O ano de 1998 marca o início de sua parceria mais famosa: a com o roteirista Brian Azzarello. A primeira foi a minissérie Jonny Double. Em 1999, é lançada a série 100 Balas, pela Vertigo, selo adulto da DC Comics. E Risso continuou produzindo histórias com Carlos Trillo como Eu sou um Vampiro. Embora tenha desenhado alguns trabalhos avulsos para a Marvel e para a revista Heavy Metal, é para a DC que Risso tem produzido seus trabalhos mais conhecidos, inclusive a graphic novel Batman: Broken City. Mesmo assim, é 100 Balas, sem dúvida, sua obra consagradora. Com esse título, ele conquistou o prêmio Eisner em 2001, na categoria Melhor História Seriada; em 2002, como Melhor Artista e Melhor Série Continuada; e em 2004, nessa última categoria. Em 2002, recebeu dois prêmios Harvey como Melhor Artista e Melhor Série Continuada, além do prêmio Yellow Kid. Seu trabalho mais recente para a Vertigo é a minissérie Spaceman.

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