21 dezembro 2022

A,B,C dos personagens do quadrinho brasileiro (De Nhô Quim, de Agostini aos Zeróis, de Ziraldo) (05)

De 14 de março de 1934 a 05 de novembro de 1970 o pesquisador Enrique Lipszyc fez um levantamento das edições brasileiras de HQ: Do total de 453 publicações, 291 (64,2%) são publicações com material exclusivamente estrangeiro e 28 (6,2%) são publicações com material exclusivamente nacional, enquanto 134 (29,6%) são publicações com material exclusivamente nacional. Um grupo de pesquisadores da Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, mapeou o mercado de quadrinhos em 1967, quarenta anos depois o estudioso Paulo Ramos atualizou parte dessa pesquisa. Resultado: 121 publicações regulares em 1967 (incluindo fotonovelas). Em 2007, que não registra mais fotonovelas, a média é de 84 títulos regulares. E com publicações não regulares o número aumenta para 110 títulos em 2007. Na primeira pesquisa, em 1967, havia 11 editoras atuando nas bancas, em 2007, 11 editoras. Na pesquisa de 1967, 70% das obras vendidas nas bancas tinham material estrangeiro. Em 2007 subiu para 84,1% das revistas de banca. Das 15,9% das revistas com heróis nacionais, todas são infantis.

 


Nas artes gráficas é possível sonhar. Assim como sonhamos na poesia, na música, no teatro e na literatura. A arte gráfica no Brasil renova os caminhos do olhar, reinventa a leitura, modifica a linguagem. É no lugar do desejo social que abarca a arte e o imaginário em seu torno. Em suas formulações conteudísticas, há sempre uma porta aberta para o social, para o poético, o politico, filosófico, religioso, para o demasiadamente humano, enfim.

 

As artes gráficas, embora estudadas com seriedade desde os anos 1960, ainda não foram devidamente mapeadas com relação a seus personagens, enquanto concreção ontológica, pelos próprios artistas. Por isso, a urgência em mapear esses personagens que são capazes de provocar, investigar, ousar, caminhar, a passos largos sobre a nossa cultura, comportamento e entretenimento.

 


A matéria-prima das artes gráficas nasce do sonho, que nasce do desejo, que nasce da paixão, que nasce de nossa mais profunda humanidade. Por isso, nossas artes gráficas podem seduzir, ser apaixonantes. E podem levar à reflexão.

 

Nessa trajetória de mais de 150 anos, os quadrinhos brasileiros buscam realizar narrativas fechadas onde o autor se debruça sobre ela livremente, sem a necessidade do uso de clichês típicos dos folhetins. E a criação de um personagem oferece a empatia com o leitor e abre a possibilidade de outros produtos que não apenas o gibi, aumentando as chances de lucro do autor. Mas é importante manter a qualidade do roteiro e que autor e leitor estejam dialogando no processo.

 


Se os quadrinhos preferem seguir o protótipo do herói brasileiro como a sensualidade despreocupada de Macunaíma, de Mario de Andrade, sem nenhum caráter fruto da antropofagia modernista, ou com o sucesso popular de Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, ou a sagacidade de Pedro Malazartes e outros personagens de Mazzaropi, ou mesmo o anti herói mórbido Zé do Caixão, de José Mojica Marins e até mesmo o cangaceiro Lampião, todos eles, ricos e poéticos.

 

Todos eles têm uma carga informacional e criativa sui-generis riquíssimos em variedade e ineditismo e pode influir distintamente na formatação cultural de seus cidadãos, contribuindo para esclarecera maneira que os brasileiros pensam e agem, e servindo de ferramenta para esclarecer novos conceitos antropofágicos, além de ajudar a desvendar suas psiques e almas.

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