22 dezembro 2022

A,B,C dos personagens do quadrinho brasileiro (De Nhô Quim, de Agostini aos Zeróis, de Ziraldo) (06)

 


Nem só de super-heróis imbatíveis e heroínas que nunca choram são feitas as HQs, seja no formato impresso, sejam as publicadas em páginas virtuais. Depressão, solidão,  melancolia,  ansiedade, crises existenciais, pessimismo, frustração – viram mote para diversos artistas do segmento do quadrinho alternativo ou independente. Quadrinhos reflexivos viram uma maneira de passar aos leitores a mensagem de que todos sofremos, em diferente grau e constância. Quadrinhos são uma linguagem complexa e podem servir para falar de qualquer coisa, só depende da intenção do autor.

 

O jeito convencional de produzir tiras com personagens regulares e um desfecho cômico inesperado, começou a ser repensado pelo cartunista Laerte em meados da virada do século. Foi quando ele começou a amadurecer a guinada de rumo que iria dar anos depois. Em 2003 ele produziu uma série de tiras abordando para onde teria ido o humor. Sem personagem fixo. Mas com humor. A partir de 2005 as tiras de Laerte tendem, a ter liberdades temática, estética e estrutural, ausência de personagens e situações fixas, experimentação gráfica.

 


A ausência de personagens regulares era algo que já ocorria no Brasil. Laerte fazia isso na série Classificados, publicadas na Folha de S.Paulo na segunda metade da década de 1990. Paulo Caruso enveredou pelo mesmo caminho ainda antes, na década de 1980 com a série Mil e uma Noites, no Jornal do Brasil. Em Violência Gratuita, publicada em 1994, Walmir Orlandeli, já utilizava o espaço de tiras de não possuir personagens fixos, abrindo possibilidades de falar do que quiser.

 


O novo caminho de Laerte influenciou a continuação de tiras mais descritivas de Caco Galhardo. O desenhista costumava chamar esses casos de Colirio na Folha de S.Paulo. Marcelo Campos produziu um conjunto de tiras para o livro Talvez Isso...(20007). Em 2010, o quadrinista Marcello Quintanilha estreou tiras no caderno de cultura do jornal O Estado de S.Paulo: Ensaio sobre a Bobeira, como um espaço de experimentação. Na internet, Rafael Sica registrou casos de experimentação no processo de criação de tiras em seu  blog intitulado Ordinário. Ainda nas páginas virtuais, Walmir Orlandeli deu início a série (SIC). José Aguiar é o autor de Nada com Coisa Alguma, série publicada no jornal paranaense Gazeta do Povo em 2011. Também circulou em mídias virtuais a tira H.E.I.T.O.R., de Heitor Isoda.

 

O mercado brasileiro de quadrinhos independentes está cada vez maior graças a iniciativas de financiamento coletivo e pequenas editoras incentivando a produção nacional. Para o estudioso Moacy Cirne, “só entenderemos os nossos quadrinhos entendendo melhor este país chamado Brasil: sua história, sua política, sua economia, sua variedade artística e cultural” (História e crítica dos quadrinhos, 1990, p.11).

 

 

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