18 dezembro 2022

A,B,C dos personagens do quadrinho brasileiro (De Nhô Quim, de Agostini aos Zeróis, de Ziraldo) (02)

 


Nos anos 30 tivemos as divertidas charges e cartuns do Juca Pato, magistralmente desenhadas por Belmonte. Durante 20 anos (1930/1940) Juca Pato torna-se um dos personagens mais populares no dia a dia dos paulistanos: mordaz, gentil e defensor dos fracos. Nessa década os quadrinhos que falavam sobre personagens históricos no Brasil surgiram junto com os primeiros suplementos infantis e juvenis, encartados no jornal. As revistas que tratavam de um personagem ou fato histórico surgiram na segunda metade da década de 1940, sob o governo de Getúlio Vargas, e atingiu o ápice depois de 1950 onde publicavam historias com temas históricos, religiosos e científicos.

 


Em meados dos anos 40 apareceu na revista O Cruzeiro um dos maiores nomes do humor e das artes gráficas do Brasil: Millôr Fernandes. E é nessa publicação que o pernambucano Péricles cria o genial e representativo O Amigo da Onça (1943):  cruel, sádico, maldoso, malicioso. Por três décadas foi o personagem mais popular do país. A irreverência do Amigo da Onça encantava o brasileiro. O seu mau caráter era amado.

 

1950 foi uma década próspera em editoras nacionais com um número considerável de gibis publicados. O grande passo nos quadrinhos brasileiros foi dado no final dos anos 50 com o traço estilizado de Ziraldo publicando Pererê (1959), o melhor exemplo de brasilidade que temos nos quadrinhos. A alegre fauna ziraldiana (o indiozinho Tininin, a onça Galileu, o macaquinho Allan Viviano, o tatu Pedro Vieira, o jaboti Moacir Floriano, o coelhinho Geraldinho Neves, a coruja General Nogueira, entre outros) representou no microcosmo da Fazenda do Fundão o clima de euforia nacionalista então vigente no país.

 


Nos quadrinhos, heróis, heroínas e vilões estão sempre surgindo em destaques no estranho mundo onde se passa da ficção para o real e vice-versa, sem que se estabeleça um limite exato para um ou outro. O grande segredo da arte de narrar por meio de quadrinho: não é apenas necessário que seja dito; o fundamental é que seja entendido exatamente o que foi dito. O cartunista Ziraldo procurou trazer seus heróis para o mundo real, como povo e como nação, consolidando nossas tradições, hábitos e costumes. Seu trabalho, ao mesmo tempo que mantém suas verdadeiras raízes, atinge uma universalidade de linguagem compatível com a HQ e com o mundo moderno onde a comunicação de massa se transforma em uma das mais importantes ciências.

 

Enquanto isso a indústria de quadrinhos estava praticamente paralisada nos EUA por conta da rigorosa censura do período macarthista (1950 – 1954) e pela perseguição aos comics, que são acusados inclusive de incitar a delinquência juvenil. O mercado editorial de quadrinho no Brasil acabou por gerir a clássica escola de terror e erotismo trazendo grandes mestres.

 


Nos anos 60 a censura dominou as publicações, mesmo assim tivemos um dos mais críticos e contundentes quadrinhos: Fradim, do mineiro Henfil. Ele contribuiu decisivamente para renovar o traço humorístico brasileiro e criou personagens que entraram para o cotidiano do país, como o anticlerical Fradinho, a masoquista Graúna, o amedrontado militante Ubaldo, o Paranoico, ou o Urubu, símbolo do time do Flamengo. 1964 trouxe não só os militares, como também os militantes do nacionalismo nas HQs. Fosse no humor, terror ou aventuras, os heróis precisavam ter sua brasilidade bem exposta e até exaltada nas historias.

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