Hoje, dia 21 de setembro
comemora-se 100 anos do nascimento do escritor baiano Herberto de Azevedo Sales.
Ele nasceu em Andaraí, Bahia, a 21 de setembro de 1917. Em 1930 mudou-se para
Salvador, frequentando o Colégio Antônio Vieira. Voltou depois para Andaraí
(1936), onde fez comércio e negócio de madeira, e foi funcionário de cartório.
Em 1939 inicia seu contato não escolar com a literatura pela obra de Eça de
Queirós, uma de suas prediletas. Lê também, com constância, os autores nordestinos.
O ambiente da região fixaria na sua obra ficcional a vida em torno da
garimpagem, que o situaria no ciclo da ficção regionalista, com assunto local.
Era um ambiente violento, com vida aventureira e histórias cruas de crimes e
lutas sobre diamantes e carbonatos. Aí entregou-se às leituras literárias e
começou a escrever contos e reportagens sobre a vida da região. Ele iniciou sua
trajetória literária com o romance Cascalho (1944). A obra retrata em todos os
aspectos a vida nas lavras diamantíferas de Andaraí. São várias narrativas
inter-relacionadas, que envolvem coronéis, capangueiros, garimpeiros e
representantes de outras atividades, direta ou indiretamente vinculadas ao
exercício do poder, como policiais e jagunços.
O cerne do livro é a
denúncia da constante exploração que se encontra na base das relações desumanas
de trabalho mantenedoras dos privilégios e das arbitrariedades, realizada pelo
confronto entre as ações das personagens e não pelo comentário que a elas
pudesse ser sobreposto, o que minimiza o mecanismo ideológico e amplia a
veracidade das situações e personagens criadas. Pressionado pela repercussão de
Cascalho em Andaraí, por retratar criticamente as personalidades da cidade,
Herberto Sales transferiu-se, em 1948 para o Rio. E iniciou sua carreira
jornalística nos Diários Associados, O Cruzeiro, onde permaneceu até 1973. Em
1951 publicou a segunda versão de Cascalho, revisada e diminuída, pois a
primeira tinha mais de 600 páginas.
Com a publicação de
Além dos Marimbus, 1961, ele recebeu o Prêmio Coelho Neto da Academia
Brasileira de Letras e o Prêmio Paula Brito da Biblioteca Municipal do Rio.
Três anos depois é publicada a tradução tcheca de Cascalho. Vários de seus
livros são editados no exterior, recebendo versões romena, japonesa, inglesa,
italiana, coreana e espanhola, além de edições portuguesas. Após Cascalho e
Além dos Marimbus, ambos referentes a Andaraí e suas principais atividades
econômicas, Sales editou Dados Biográficos do Finado (1965) Marcelino
reportando-se à cidade de Salvador dos anos 30, onde uma burguesia, a princípio
florescente, é vista depois em decadência. Em 1966 ele iniciou sua carreira de
contista com o volume Histórias Ordinárias, e em 1969, começou sua trajetória
como autor de literatura infantil com o livro O Sobradinho dos Pardais. É
também de sua autoria os livros A Feiticeira de Salina, A Vaquinha Sabida, O
Homenzinho dos Patos (1974), O Casamento da Raposa com a Galinha (1975) e O
Burrinho que Queria Ser Gente (1980). Publicou ainda os livros de contos: Uma
Telha de Menos (1970), Transcontos (1974) e Armado Cavaleiro e o Audaz
Motoqueiro (1980). Publica os romances O Fruto do Vosso Ventre (1976) e
Einstein, O Minigênio (1983).
Outros romances:
Pareceres do Tempo, A Porta de Chifre, Na Relva de Tua Lembrança, Rio dos
Morcegos, Rebanho do Ódio e seu último trabalho, A Prostituta, onde o autor
volta a Salvador, onde decorre quase toda a história. Publicou suas memórias em
três volumes: Subsidiário - Confissões, Memórias e Histórias; Subsidiário:
Andanças por umas Lembranças; e Subsidiário: Eu de Mim com cada Um de Mim. Em
1971 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e em 1974, assumiu durante
onze anos a direção do Instituto Nacional do Livro. Ocupou o cargo de Adido
Cultural do Brasil na França. É membro ainda da Academia Maçônica de Letras e
da Academia Brasileira de Literatura Infanto Juvenil. Para o Ministério da
Agricultura escreveu a monografia Garimpos da Bahia (1955), e editou o ensaio
Para Conhecer Melhor Aluísio de Azevedo (1973). Sales detém inúmeros prêmios
literários: Luísa Cláudio de Souza (Pen Clube do Brasil, 1966), Jabuti (Câmara
Brasileira do Livro, 1977), além da Medalha do Mérito do Estado da Bahia, 1977,
e Medalha Euclides da Cunha (Clube do Estado, SP, 1980). Em 1996 recebeu o
título de Doutor Honoris Causa pela UFBA.
Herberto Sales é um
escritor que, muito embora se tenha iniciado no encalço da literatura do
Nordeste, sem trair suas origens, não se contentou com, achada a fórmula de um
garantido sucesso, repeti-la à sociedade. Ao contrário, aventurou-se na busca
de temáticas pouco usuais no âmbito da literatura brasileira, sem se
despreocupar, em contrapartida, com a manutenção de sua identidade. De Cascalho
a O Fruto do Vosso Ventre, um vasto caminho foi percorrido. A diversidade de
temas e o tratamento dado a eles colocam em questão justamente o que é central
na sua elaboração romanesca: a preocupação constante com o desmascaramento dos
motores da sociedade contemporânea. Para isso, não se volta apenas para o
passado e para o Brasil desconhecido dos leitores dos grandes centros
consumidores (como faz em Cascalho e Além dos Marimbus), mas visa com agudeza à
compreensão do presente degradado (Armado Cavaleiro o Audaz Motoqueiro) e se
lança para o futuro (O Fruto do Vosso Ventre ou Einstein, o Minigênio) que se
vislumbra a partir dos absurdos contemporâneos.
“A característica
principal da ficção de Herberto Sales é o mergulho na alma humana. Claro que
ele também é mestre em abordar épocas e ambientes, mas, sem dúvida, seu
interesse maior é a nossa essência”, escreveu o escritor Ruy Espinheira Filho.
Crítico preocupado em remexer as mínimas chagas, Herberto Sales jamais se
descuidou da construção rigorosa de suas narrativas, tanto do ponto de vista
lingüístico como do estrutural, o que é atestado pelas constantes reelaborações
de seus romances, na busca da melhor forma de expressão. Enfim, entrega-se com
amorosa dedicação às histórias que conta porque acredita ser esse o seu modo de
interferir no andamento do mundo.
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