22 agosto 2016

Há 90 anos morria Amélia Rodrigues



Poetisa, romancista, contista e teatróloga. Amélia Rodrigues foi uma das mais completas literatas baianas, aliando essas atividades à de educadora. Há 90 anos, neste mês de agosto, ela se foi, mas sua obra continua na lembrança de todos.

Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues nasceu em Oliveira dos Campinhos, município de Santo Amaro, a 26 de maio de 1861. Fez estudos primários com o Cônego Alexandrino do Prado. Estudaria mais tarde com outros mestres do seu tempo e faria concurso para o magistério, a que se dedicou durante toda a vida. Desde jovem, vinha conseguindo publicar e levar à cena suas peças de teatro.  Ela estreou com o poemeto Filenila, em 1880, segue Bem-me-queres, Flores da Bíblia (1923) e Catecismos em Cânticos (1925). Inicia colaboração em jornais e revista da época. Por muito tempo colaborou em periódicos empresariais, na grande imprensa, alternando tal colaboração com a da imprensa religiosa. Nos últimos 15 anos de sua vida, porém, restringiu seu campo de atuação a esta última. Em 1888 escreveu o romance O Mameluco, publicando-o em folhetim no jornal Eco Santamarense. Também por esse tempo escreveu o drama, em quatro atos, Fausto, que é representado em Santo Amaro. É de sua autoria os romances A Promessa (1895), Mestra e Mãe (1898) e Um Casamento à Moderna (1924).


Transfere-se, em 1891, para Salvador, prosseguindo na missão de ensinar. Em 1891 escreve o poema Jesus em Belém. Em 1898 edita os versos Bem-me-quer, fazendo sucesso entre os intelectuais. A partir da entrada na imprensa religiosa, a atuação da escritora, lado a lado com a sua projeção profissional, é enorme e cumulativa. Escreve versos, tem colunas e colaboração intensa nos periódicos religiosos. Mais ou menos após dez anos de artigos, funda três revistas: A Paladina (1910) e A Voz (1912) na Bahia e, no Rio, Luz de Maria. Suas peças voltaram a ser editadas. No entanto, seus temas foram-se afunilando em torno da religião. A militância da autora insere-se entre o momento da luta pela igualdade de direitos  ( que se reduz, a uma melhoria na educação da mulher) e seu refluxo na primeira década do século XX e, na outra ponta, o recrudescimento da campanha pelo voto feminino nos anos 20/30. Em 1919 fixa-se no Rio de Janeiro, onde funda a revista Luz de Maria, publicando contos, artigos e poesias. Em 1926 retornara a Bahia.

São três etapas do processo de construção do pensamento feminista de Amélia Rodrigues: a primeira, que se inicia com poemas e culmina com a publicação do livro Mestra e Mãe (1898); a segunda, quando reforça a militância da mulher católica para uma ação fora do âmbito familiar, participando da atividade social no amparo das crianças desamparadas, assim como uma interferência na sociedade, exigindo da imprensa, do cinema, um respeito aos princípios éticos e morais deliberadamente cristãos. Esta etapa pode ser constatada através dos seus artigos nas revistas de Salvador e Rio. A última etapa, quando a autora, já no RJ, entra em contato com o debate amplo das idéias, com os primeiros ganhos da mulher na área profissional e na luta pelo direito ao voto. Ao longo de sua produção literária ela usava os seguintes pseudônimos: Cidade do Salvador ( pseudônimos Zé d’Aleluia - seção Musa Alegre, Musa Alegre e Borboleta - seção Entre rosas); Estandarte católico (Marphisa - Aljôfares), O Mensageiro da Fé (Juca Fidelis - Cena e Palestras), e Dinorah (em Cartas a Arthemia).

Amélia Rodrigues publicou ainda a biografia de Madre Vitória da Encarnação, intitulada Uma Flor
do Desterro. Em 1901 editou pela Tipografia Salesiana O Ódio Sem Fim, a propósito da perseguição religiosa; Verdadeira Missão Social da Mulher (discurso inaugural da Associação das Damas de Maria Auxiliadora, em 04/08/1907), O Feminismo e o Lar (conferência pronunciada em 27/10/1921 na Associação dos Empregados do Comércio da Bahia) e Ação Social Feminina (1923). É ainda de sua autoria as peças teatrais A Natividade (drama sacro - 1889), Marieta das Flores. O Bilhete de Loteria. Poesias (1901), O Charlatão (1901), A Madrasta (drama em um ato, 1917), Borboleta e Abelha (drama, 1921), No Campo da Imprensa (farsa, 1916), Antes do Leilão das Flores (1921), Almas Sertanejas (drama nordestino em três atos, 1923), Progresso Feminino (comédia, 1924), entre outras. Das peças infantis escreveu: Hoje, Amanhã, Santos Amores; O Meu Dever: Se Dependesse de Mim; As Duas Colegiais; Pedindo Desculpas no Começo de uma Festa de Férias; O Anjo dos Pobres; O Pintor Malogrado; O Meu Presente, etc. Entre as traduções que fez estão O Presépio de São Francisco de Assis (de Frei Mateus Achneiderwerth), O Bufarinheiro (de Y D’Isné, 1902), A Porteira Celeste (lenda da antiga Viena, tradução do alemão pela autora) e Responso de Santo Antônio (versão de Amélia Rodrigues do orbe seráfico).      

A trajetória intelectual de Amélia Rodrigues abrange mais ou menos 50 anos de mudanças marcantes dentro do contexto brasileiro e da Bahia. Ela viveu a monarquia, viu a abolição dos escravos, a primeira república, a primeira guerra mundial, a revolução russa, a separação da religião do poder político. Vivenciou a crescente laicização da sociedade, o crescimento dos movimentos socialistas, a luta da Igreja para permanecer no poder, a transformação da imprensa em empresa, a ampliação do conhecimento através da ciência. Dentro dessas mudanças, que imprimiam uma modificação contínua de atitudes, leu muito e informou-se sobre o movimento de emancipação da mulher. Além de publicar mais de uma dezena de livros, foi capaz de destacar-se nos meios culturais e de ocupar um razoável espaço na imprensa. Vale inserir seu nome no rol de mulheres escritoras que tiveram influência marcante em seus meios mas que, devido ao tempo e aos preconceitos literários, não têm um lugar na literatura, permanecendo uma espécie de limbo literário. No dia 22 de agosto de 1926 veio a falecer. Para não ficar esquecida, uma das ruas do bairro da Graça, em Salvador, foi denominada de Amélia Rodrigues. Desmembrando de Santo Amaro, sob a Lei Estadual 1533, no dia 20 de outubro de 1961 foi criado o município de Amélia Rodrigues, que fica localizado na região do Paraguaçu. (Esta biografia conta no livro Gente da Bahia. Volume 2. Editora P&A, 1998)

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