28 agosto 2012

Quadrinhos e rock: o grito de revolta de uma geração (1)

(Texto originalmente publicado na Tribuna da Bahia, Gutemberg Cruz – 20/02/1976)

Por volta dos anos 60, dois grandes acontecimentos marcaram o mundo jovem, ou seja, a repercussão do rock and roll e uma sensível mudança nas histórias em quadrinhos. Ambos propunham uma mudança, um mundo melhor. E, pela primeira vez, a juventude, os adolescentes requeriam uma participação efetiva na vida social e política de seus países. Tanto a música como a historieta deixaram de ser apenas uma distração, e passaram a traduzir uma insatisfação e apontar a solução nos problemas da relação juventude/sociedade.

Esse processo teria iniciado na década anterior quando os empresários e businesmen descobriram a viabilidade econômica do rock n´roll e passaram a divulgá-lo, contribuindo para tornar a música uma das expressões do pensamento jovem. Nesse período, o rock era tido como música selvagem, que ligava os jovens aos tóxicos e à violência.

A história em quadrinhos também nessa época foi acusada de representar para os jovens uma perda de tempo e de atenção, de desenvolver a preguiça mental, de não ter nenhuma sutileza, de tornar as coisas demasiadamente fáceis, de falta de estilo e de moral.

Os sindicatos norte americanos submeteram os desenhistas a uma rigorosa censura, acentuando a crise pela qual passaram os comics, que já vinham sofrendo com a concorrência da TV americana.

ELVIS E SUA GINGA OBSCENA

Com o aumento da delinquência juvenil, esses ataques se tornaram mais violentos e as acusações de psicólogos e pedagogos culminaram com a publicação da obra do psiquiatra alemão Fredric Wertham (The Seduction of the Inoccent – 1954). Um anos depois é lançado o filme Blackboard Jungle (Sementes de Violência) onde o tema sonoro é Rock Around the Clock, transformando em hino oficial do rock and roll. O filme aborda a juventude rebelde com absoluto realismo e – coisa inédita – fez do negro a personagem positiva.

E nesta metade da década de 50 que Elvis com seus remelexos causa excitação e enorme celeuma na época, passando a ser conhecido como Elvis Pelvis (por balançar a bacia pelviana). E, em 1956, a TV, veículo até então numa posição reacionária diante do rock and roll, se viu finalmente forçada, diante do estrandoso sucesso, a contratar Elvis para o famoso show de Ed Sullivan, mas impôs uma condição: que Elvis só fosse focalizado pelas câmaras da cintura para cima, pois a ginga dos seus quadris era considerada obscena.

A CONTESTAÇÃO

A década de 60 criou um estilo próprio de se expressar visual, sonora e verbalmente. Foi o grito de revolta de uma nova geração. O rock and roll, feito por músicos mais idosos para um público jovem é agora rock, feito por músicos jovens para jovens. Os hippies punham-se à margem da sociedade mais para provar que se pode viver perfeitamente bem sem se estar ligado aos bens materiais proporcionados pela sociedade tecno industrial do que por julgá-lo inadequada ou prejudicial: eles não queriam destruir a sociedade, apenas provar que ela podia melhorar.

Mas, sempre aparece alguma coisa boa, principalmente se for avançada demais para os padrões comuns à época em que ela aparece, alguém tem que deturpá-la. Assim, aos poucos, uma certa depravação foi se infiltrando nas camadas hippies, mas essa é outra história....

Em 1965, Allen Ginsberg, precursor dos beats, participando do Movimento de Liberdade da Palavra, na Universidade de Berkeley, lançou o Flower Power, slogan logo adotado internacionalmente. “Se a gente se organizar para cantar e fazer danças rituais nas ruas, para a nudez total contra os uniformes e para a distribuição de flores – barricas de flores, talvez consigamos triunfar”.

Esses movimentos juvenis tiveram imensa publicidade. Do foco principal atingiram através dos mass media todos os focos secundários, a um ponto que revolucionou profundamente a tradicional e conformada sociedade britânica, que por sua vez passou também a ser foco irradiador, principalmente através dos Beatles.
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