12 dezembro 2012

Ruy Espinheira Filho: 70 anos (2)

Poesia, crônica, conto, novela, romance compõem sua obra literária. “Um trajeto literário seguro inscreveu o nome de Ruy entre o melhor das nossas letras”, escreveu Cid Seixas. Para Carlos Drummond de Andrade, Ruy faz “poesia concentrada e de sutil expressão. Já Mário da Silva Brito diz que “Ruy é poeta que escreve no peito dos homens” e o crítico Carlos Felipe Moisés, “a poesia de Ruy Espinheira registra, no seu conjunto, de maneira muito pessoal e autêntica, algumas das linhas de força da poesia e da vida cultural do País nas últimas décadas”.

Uma das vozes mais autênticas de nossa poesia. Lirismo de grande vôos”, atestou Fábio Lucas. “Ruy Espinheira é poeta de reminiscências e utopias, de grande poder evocativo e impregnação local. Sua poesia é hoje uma referência importante na renovação que se processa no lirismo brasileiro”, confirmou Antonio Carlos de Brito, Cacaso.

Além do cronista, porém, está o poeta erguendo bandeiras vitais num verso denso e caloroso, original e puro. Voz terna e ardente, Ruy Espinheira Filho coloca-se, a meu ver, na primeira fila dos jovens poetas baianos. Entre os melhores cronistas também, fazendo, numa época de jornalismo cão, prosa solidária e confiante” comentou Jorge Amado.

Há na linguagem e na dicção deste poeta algo que o distingue de seus pares, algo que não se define nem se dá a uma primeira leitura, mas que de pronto cintila e arrebata, conduzindo-nos àquelas regiões do espírito onde ganha corpo e voz o inexpresso, onde o verbo poético, mercê de insólitos e inesperados sortilégios, diz o indizível e reconstitui o tecido arruinado da vida”, observou Ivan Junqueira.

Com 16 livros publicados e dois grandes prêmios na bagagem (levou o Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Souza, concedido em 1981, pelo Governo de Santa Catarina, pelos poemas de As Sombras Luminosas, e tirou o segundo lugar no Prêmio Rio de Literatura de 1985, na categoria Romance, com Ângelo Sobral Desce aos Infernos, Ruy lançou em 1996 pela Nova Fronteira, o sétimo livro de poesia, Memória da Chuva.

Para Iacir Anderson Freitas, em tese de mestrado sobre a poesia de Espinheira Filho apresentada na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, o único território para onde Ruy escapa em sua poesia é o da memória. “Sempre achei que o autor escreve sobretudo com a memória. É a memória retrabalhada que se transforma em arte. A memória não é um registro como uma gravação, é uma reelaboração, tem imaginação, cria, é um material sempre reinventado”, diz o poeta. Já para a poesia, nenhuma definição é suficiente segundo ele, assim como não se pode definir arte alguma.
É tempo de Ruy Espinheira Filho


Numa manhã de novembro, em Barra de Jacuípe, deitado na rede, contemplo os versos de Ruy Espinheira Filho. E que versos, lindos, livres a passear pelo meu corpo, minha mente e transcender por todo o ambiente. Não há como resistir. As pulsações de seus poemas, sereno e profundo, transparente como águas do rio que passa e deixa recordações. Cada palavra tem seu tempo certo, fragmentos do passado tão presente, constante.

“Elegia de Agosto e outros poemas” (edição Bertrand Brasil) é de uma leveza melancólica que arrepia. “Canção Matinal”, por exemplo, produz prazer, reflexão: “Acorda bem cedo o homem/da casa de telha-vã/e abre janela e porta/como se abrisse a manhã.//E eis que a vida não é mais/nem triste, nem só, nem vã./É doce: cheira a goiaba/e brilha como romã//orvalhada. E ele caminha,/o homem, com passos de lã/para em nada perturbar/a quietude da manhã.//Já não há mágoas de perdas/nem angústias de amanhã,/pois a alma que há na calma/entre a goiaba e a romã//é a própria alma do homem/da casa de telha-vã,/que declara a noite morta/e acende em si a manhã”.

E o que dizer da beleza de “Soneto da Negra”? Faz fluir como sonoridade, feito de emoção, memória pessoal, impressão digital: “A cor da suavidade é que a modula./Nela se abisma a luz e se revela/incapaz de alterar nada daquela/penumbra que a atrai, absorve, anula.//Nessa paisagem que coleia, ondula/como um rio, ou o mar (e é dela e ela),/um vento violento me desvela/um animal que me trucida e ulula.//O tom da suavidade não se altera,/eleva um canto cálido e me diz/que são garras de amor, e é bela a fera.//E assim, em carne rubra e cicatriz,/entrego à cor profunda que me espera/estes despojos em que sou feliz”.

E naquele amanhecer de novembro, “os deuses estavam felizes e sopraram suavidade especial sobre a manhã”. Os versos de Ruy transpiravam, ascendiam. Estava saudoso de ritmo e de verso. “Chegar, assim, a um dia/como este, quem diria?//Ninguém, que não poderia/alguém saber deste dia.//Nem eu, que me prometia/varandas de calmaria//se a uma hora tardia/da vida chegasse um dia.//No entanto, eis-me neste dia,/o qual jamais urdiria//nem em pesadelos; dia/ardendo contra a alegria,//a paz, o amor, a poesia,/o corpo, a esperança; dia//como nenhum: pedraria/fulgurante de agonia” (Este dia).

E em sua canção da alma meditativa o poeta escreve: “Sopra o vento, sopra o tempo/- e o que se medita a alma?/Não diz. Mas, seja o que for,/será, como tudo, nada”. “Amor antigo, de quando/nem me sabia te amando//Sabia só que se abria/o dia quando te via//e alguma coisa doía/com uma dor de alegria//- ou como feliz desgosto/aceso à luz do teu rosto” (trecho de Canção do Amor Antigo). Dessa forma o poeta da memória cria um mundo de sentimentos ternos e melancólicos sustentado em suas lembranças e sonhos. Versos escritos de 1996 a 2004, numa consistente construção lírica, de peito aberto e língua franca. Dividida em duas partes, “Elegia de agosto” e “A cidade e os sonhos”, o poeta retorna ao passado e ilumina. Nessa abertura de temporalidade ele freqüenta o espaço de alma e sonho, de memória.

“O silêncio sonha nas telhas” abre o poema “Insônia” onde o poeta tenta em vão dormir e mostra sua natureza frágil e perene, restando apenas, memórias: “e guardo/como vêem/memórias/que o tempo faz cada vez mais fundas”. E é nessa memória que o poeta encontra a fonte de sua poesia. E registra: “depois ainda escreve/mais; escreve (e até/escreve que escreve)//para que a vida/seja um pouco menos/obscura e breve” (Epígrafe). Assim o homem existe porque existe como memória (“e por isso escrevo estas palavras que parecem/fáceis e indiferentes mas são/difíceis e dolorosas”).

Entre um verso e outro, voltado para o humano, vividos na alma, interligando tempos, sentimentos, o poeta transporta suas experiências existenciais. E recorda amigos, mulheres, parentes e os momentos marcantes. E como escreveu Miguel Sanches Neto na orelha do livro, “Ruy Espinheira encontra no tempo morto os símbolos da permanência. Somente olhando para o que acabou, podemos descobrir aquilo que sobrevive à morte. Na verdade, cantar o presente é que nos deixa confundidos, pois não conseguimos distinguir no agora aquilo que guarda possibilidades de transcendência”.

A intensidade poética dos versos de “A Musa” e “Nome” imprime em toda sua obra. E mesmo navegando nas águas do rio heraclitiano em corrida permanente, suas águas aparecem represadas seja em cacimba, açude ou moringa. Água em repouso, tranqüila, transparente. “Cai a tarde, indiferente,/sobre os muros e o jardim./Nunca me senti tão vasto/na história contada em mim” (Epílogo). E assim ficam os versos de Ruy, naquela manhã de novembro, um feriado de finados, em minha memória. Versos impregnados de sonoridade, lirismo, saudade, verdade. (Gutemberg Cruz).

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)





11 dezembro 2012

Ruy Espinheira Filho: 70 anos (1)

Ensaísta, cronista, romancista, jornalista e poeta. Ruy Alberto D’Assis Espinheira Filho nasceu no Amparo do Tororó, em Salvador, a 12 de dezembro de 1942 (há 70 anos). Quando tinha três anos de idade, seu pai se transferiu para Poções, onde foi advogar. Até os 12 anos viveu sua infância naquela pequena cidade. Vai estudar no Colégio de Jequié, em regime de internato. Foi um dos fundadores da Associação Jequieense dos Estudantes Secundários promovendo debates, conferências, concursos de oratório. Publicava um jornal e ocupava um espaço na Rádio Baiana de Jequié, de propriedade de Lomanto Júnior. Em Salvador faz o curso clássico no Colégio Estadual da Bahia.

Diplomado em Jornalismo pela UFBA e fundador do jornal Tribuna da Bahia, assinava a coluna Temponáutica. Na atividade jornalística fez quase tudo: foi de copy-desk a editor. Em 1981 saiu da Tribuna da Bahia, e em 1983 foi para o Jornal da Bahia escrever crônicas.

Colaborou com O Pasquim. Durante muitos anos ensinou na Faculdade de Comunicação da UFBA, transferindo-se em 1995 para o Instituto de Letras, onde ensina e conclui o doutorado sobre o universo de Mário de Andrade, de quem o próprio Ruy aprendeu que “a poesia deve ser suja de vida”. E em 1998 lançou pela Record, Poesia Reunida e Inéditos.

Um novo romance que Ruy reserva aos seus leitores para lançamento próximo, fala “sobre um poeta muito louco e a vida boêmia dos anos 60”. O título é Príncipe das Nuvens. De 1989 a 1993 foi diretor da Faculdade de Comunicação da UFBA. Jornalista, mestre em Ciências Sociais, professor adjunto do Departamento de Letras Vernáculas do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.

Seus poemas foram publicados na revista Serial, incluídas nas antologias 25 Poetas da Bahia - de 1933 a 1968 e Breve Romanceiro do Natal (1972). Publicou, com Antônio Brasileiro, Poemas (1973). Concorrendo com pequenas coletâneas, ganhou o Prêmio de Poesia da Universidade Federal da Bahia nos anos de 1969, 70, 72 e 73 - tendo também, em 1970, conquistado premiação na categoria Ensaio Literária com o trabalho sobre Manuel Bandeira - No Caminho de Passárgada.

Com o dinheiro que ganhou com os prêmios da UFBA lançou Heléboro (1974) editado por Antônio Brasileiro. No ano seguinte lança o livro de crônicas Sob o Último Sol de Fevereiro (Civ. Brasileira). Em 1979, pela Civilização, lança o segundo livro de poemas, Julgado do Vento.

Em 1981 sai o livro de poesias As Sombras Luminosas (Florianópolis, FCC Edições) e o de contos O Vento no Tamarindeiro (RJ, Codecri). Segue, Morte Secreta e Poesia Anterior (RJ, Philobiblion/INL, 1984), o romance Ângelo Sobral Desce aos Infernos (RJ, Philobiblion/Fundação Rio, 1986), o livro infantil A Guerra do Gato (Ed. Jornal da Bahia, 1987) e a novela O Rei Artur Vai à Guerra (SP, Contexto, 1987). Outras novelas suas são publicadas: O Fantasma da Delegacia (1988) e Os Quatro Mosqueteiros Eram Três (1989, Contexto).

Em 1990 lança pela Brasiliense/Ed. Jornal da Bahia, A Canção de Beatriz e outros poemas, e o ensaio O Nordeste e o Negro na Poesia de Jorge de Lima (Fundação das Artes/Empresa Gráfica da Bahia. Em 1991 publica o romance Últimos Tempos Heróicos em Manacá da Serra, pela Oficina de Livros, de BH.

Em 1995 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro publica o livro de poesia Antologia Breve, e, em 1996, Antologia poética, pela Fundação Casa de Jorge Amado/Copene
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10 dezembro 2012

Mascarados da pop music (2)

1971 foi o ano dos Secos & Molhados. João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad explodiram. O rosto pintado, o corpo reluzente de purpurina, o rebolado e uma voz aguda interpretando uma mistura de rock com ritmos latinos e brasileiros, com letras que iam do folclore à poesia de protesto. Assim Ney Matogrosso e seus companheiros Gerson Conrad e João Ricardo levaram à frente um dos maiores fenômenos da história da música brasileira, o Secos & Molhados. Em 1973, saíam o primeiro disco da banda. A capa, com as cabeças dos integrantes servidas em bandejas, a atitude e o repertório, fizeram do disco um fenômeno, com 800 mil cópias vendidas.

Um fenômeno musical e comportamental que dominou a Grã Bretanha entre 1971 a 1974 foi o rock purpurina (ou glam – abreviação de glamour-rock). A banda T. Rex, de Marc Bolan causou sensação com o visual extravagante: plumas e paetês, maquiagem, jaquetas de cetim e sapatos plataforma e de salto alto.

Esse visual tomou conta das ruas, privilegiando o brilho e a androgenia. Amigo de Bolan, David Bowie entrou na onda e tornou-se ainda mais popular, com figurino futurista e cabelo abóbora metálico. Seu álbum The Rise ad Fallof Ziggy Stardust and the Spiders from Mars ele criava o personagem Ziggy, um rockstar androgino e bissexual vindo de outro planeta.

Outro grande nome foi a banda Roxy Music, que revelou Bryan Ferry e Bria Eno. No som, calcado no rock'n'roll dos anos 1950 e no pop melódico, o glitter também era pura sensualidade e diversão.

Ainda da Inglaterra veio a banda Wizzard, que surgiu em 1971. Liderados por Roy Wood, eles faziam um som que misturava rock progressivo, glam rock e hard rock. Wood tinha seu estilo de pintar o rosto e foi um dos grandes influencia na maquiagem do Kiss.

No lado americano surgiram poucas bandas de glam rock. Kiss, Alice Cooper e New York Dools. Esse último visualmente eram os mais escrachados de todos, parecendo verdadeira drag queen em sua maneira debochada de se vestir e se apresentar ao vivo.

Em 1972 o baiano Edy Star, parceiro de Raul Seixas em disco de 1971, é tido como o primeiro artista glitter do Brasil. Ele consagrou-se em shows em boates da Praça Mauá no Rio de Janeiro em 1972 e 1973. E é em 1973 que a banda de hard rock formada em Nova Iorque popularizou a maquiagem – Kiss.

O vocalista e guitarrista Paul Stanley (o da estrela) se tornava em um ser andrógino, encarnação do amor. O guitarrista Ace Frehley (o de maquiagem prateada) se tornava em um alienígena interplanetário. O baterista Peter Cris se tornava em um gato (ou tigre de dentes de sabre conforme outras versões). O baixista e vocalista Gene Simmons (o com cara de mau) por sua vez se transformava em um demônio, encarnação do mal.

Durante anos a identidade real de todos foi guardada a sete chaves. Como se isso tudo já não fosse marketing suficiente os shows eram muito mais do que espetáculos de som, luz e gelo seco. Entre outros pequenos detalhes a guitarra de Ace Frehley soltava fumaça e rojões em meio aos solos, o baixista Gene Simmons voava sobre a plateia, vomitava sangue e cuspia fogo (literalmente, sem truques). A kissmania rapidamente tomou conta dos Estados Unidos. A imagem da banda estava em qualquer coisa que pudesse ser vendida, máquinas de fliperama, bonecos, máscaras, kits de maquiagem, cereais, escovas de dentes..

Na música, o grupo Marilyn Manson buscou como influência Ozzy Osbourne, David Bowie e Ziggy Starter. Sua fórmula de sucesso vem principalmente pela mídia. No palco a banda utiliza satanismo, homossexualismo e sadomasoquismo como ferramentas para atacar a cultura americana. Seu nome artístico foi formado a partir dos nomes Marilyn Monroe e Charles Manson, mostrando o que ele considerava o último e mais perturbante dualismo da cultura estadunidense.

O circo de horrores de Marilyn Manson não ficou sozinho. No final da década de 90 aparece o Slipknot, banda que adotou o visual de máscara de Hallowen, inspirado no personagem Jason, do filme Sexta Feira 13. Em 1995 o Slipknot é o heavy metal do grupo, surgido em Iowa, já é decorrência de quase tudo que veio antes, com acréscimo de pirotecnia e uma imagem de fim de mundo. As letras da banda sempre foram niilistas, sombrias, raivosas e melancólicas, o que estava em alta no mercado musical da época. Tem ainda Rob Zyumbie, Panic'at the Disco...

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07 dezembro 2012

Mascarados da pop music (1)

A década de 1970 foi de explosão da música de grupos de mascarados. Tinha Alice Cooper, David Bowie, Secos & Molhados, Kisss... Mas bem antes desses existia Os Mamíferos na cena musical de Vitória, Espírito Santo, a partir de 1966. O trio era composto de Afonso Abreu, Mário Ruy e Marco Antônio Grijó. Eles assanhavam as plateias com uma performance psicodélicas, os rostos pintado, maquiagem pesada e a atuação insana e performática de um cantor andrógino (Aprígio Lírio).

A banda tornou-se uma espécie de célula vanguardista no decorrer dos anos e foi amealhando intelectuais e músicos pelo caminho. Torquato Neto, por exemplo, menciona a banda no livro póstumo Os Últimos Dias de Pompeia. Depois disso ninguém mais nunca ouviu falar do grupo, entrou no limbo junto com o movimento beat americano que eles eram tão fans.

Em 1969, Vincent Furnier trouxe um circo de excessos para o rock na virada dos anos 1960 para os 70. Alice Cooper chegou. Ele inventou o rock teatral, afrontou costumes, criou tendência, incitou uma verdadeira revolução sexual e acima de tudo, escreveu em forma de música uma verdadeira biblioteca de rock clássico. Vincent Furnier começou usando o nome Alice Cooper para o personagem andrógino que encanava durante seus shows. As apresentações eram regadas de violência performática como um verdadeiro circo repleto por psicodelia e rock progressivo.

Alice Cooper no palco era um espetáculo à parte. Um maluco numa camisa de força que escapa e estrangula a enfermeira, Alice sempre usou uma série de elementos de teatro para representar suas músicas e em todos os shows ele era executado como uma tentativa de redimir a plateia que o acompanhava ensandecida. No início ele era executado numa cadeira elétrica, mas conforme suas transgressões aumentavam, sua morte também foi sendo cada vez mais fantástica. Ele foi enforcado e chegou a ser guilhotinado em seus shows. Mas outro assunto com o qual Alice sempre gostou de mexer é a ressurreição. Alice sempre voltava dos mortos a tempo de fazer o último bis!

O ano de 1970 o Major Tom chegou na música inglesa, e em 1972 a androgenia definitiva de David Bowie com a explosão do glam rock trazendo Ziggy Stardust e o disco The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. É a história de um alienígena, encarnado pelo cantor inglês, que vem à Terra com o intuito de passar uma mensagem de esperança nos últimos cinco anos de existência do planeta, que iria acabar devido à falta de recursos naturais
Bowie utilizou toda a sua apurada imaginação e senso estético para criar o personagem do rock star alienígena que vinha do espaço para salvar a Terra. O disco reúne algumas das composições mais famosas de Bowie como “Starman”, Sufragette City” e a homônima “Ziggy Stardust”, e se tornou um verdadeiro marco do chamado glam rock. Pouco tempo depois, Bowie assassinaria seu personagem em pleno palco. Era o fim de uma verdadeira febre que tomou de assalto a Inglaterra e, posteriormente, o mundo. Mas errou quem profetizou que o fim de Ziggy Stardust era o fim de Bowie. O camaleão ainda tinha planos muito ambiciosos para o futuro. Depois viriam o andrógino Aladdin Sane, o sombrio Thin White e o isolado artista kraut dos discos gravados durante o autoexílio na então murada cidade alemã de Berlim. Até que vieram os anos 80 e a confirmação de Bowie como um megastar do rock´n´roll, agora desprovido de personas e alter-egos.

Na época, aqui no Brasil, Os Brazões, criado pelo baiano Miguel de Deus (o mesmo mentor de Assim Assado), inspirava-se principalmente na umbanda. Miguel nasceu em Ilhéus, na Bahia. Já morando no Rio de Janeiro em meados de 1969, formou a banda Os Brazões que explorava as influências africanas na música e na maneira de vestir e dançar. A banda fazia uma mistura de rock e psicodelia com elementos da música brasileira e africana e chegou a acompanhar Gal Costa em uma de suas turnês no final dos anos 60. Em 1974, Miguel de Deus criou a banda “Assim Assado”, muito bem “inspirado” no grupo Secos e Molhados. A banda fez sucesso como Gotham City, em 1969, música de Jards Macalé que o grupo defendia no IV Festival Internacional da Canção. Em 1974 o progressivo Assim Assado surgiu como uma continuidade de Os Brazões e fez um só disco. Depois disso, Miguel de Deus enveredaria pelo funk.

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06 dezembro 2012

Gerônimo, coração de liberdade (3)

Em 1989 lança Dançarino, mas o disco não aconteceu porque o ex presidente Fernando Collor de Mello tomou o dinheiro de todo mundo no banco (poupança) e as gravadoras ficaram sem condições de investir no artista. Em 1992 ele decretou a união entre o sagrado e o profano na Bahia – gravou a oração do Pai Nosso em samba reggae. “Ser Tão Forte”, título com o qual Gerônimo batizou sua obra, baseada na oração mais conhecida da Igreja Católica, marca o passo no ritmo cadenciado do sincretismo religioso baiano.

A ideia surgiu num momento de crise pessoal do cantor logo após o último carnaval, depois de uma briga desgastante com o coordenador do carnaval de Salvador, Alberto Tripodi. Em um teatro vazio ele começou a dedilhar o violão, improvisando com sua banda. Gerônimo acrescentou o refrão “ser tão forte”, entre os versos de oração e retirou um dos pedidos do Pai Nosso, “Não nos deixai cair em tentação”. A frase, segundo o cantor revelado ao jornalista Biaggio Talento (O Estado de S.Paulo) não é melódica para o samba reggae e, na sua opinião, é muito restritiva. “Acho esse trecho a única falha do meu parceiro”, brincou, referindo-se a Jesus Cristo, mas garantindo que em nenhum momento teve a intenção de descaracterizar a oração e ofender a Igreja. Ele gravou Ser Tão Forte num pequeno estúdio de Salvador, mas não lançou em disco. Tirou uma cópia da fita original e a cedeu para veiculação da FM Itapoan, emissora que dedicou a maior parte de sua programação à música baiana.

Tem composições gravadas por A Cor do Som (Dentro da minha cabeça), Diana Pequeno (Mensageiro da Alegria) entre outros artistas, além disso, Dança das Águas, de seu primeiro disco, está incluído no LP Brazil Today vol.2, uma compilação de canções brasileiras editada exclusivamente na Europa. Ele já passou uma temporada na Europa (Espanha, França, Hungria e Portugal) e já trabalhou na área de publicidade, criando jingles para diversas firmas e instituições.

Em abril de 1991 em depoimento ao jornalista Eduardo Bastos ao Correio das Bahia, o cantor e compositor detonou o esquema mafioso das rádios, a vulgarização dos trios elétricos, o corporativismo dos blocos carnavalescos, o anti profissionalismo de colegas e o jogo escuso das gravadoras, entre outros componentes deste sistema vicioso, desgastante e semi emperrado que se compactua sob o carimbo de música baiana. “A maioria da música que se faz na Bahia é rica em monossílabos em que medíocres competentes exploram a mediocridade”, endureceu. “Sou um guerrilheiro que vai endurecer sempre, mas com minha ternura, dizendo que prefiro ser cidadão do mundo, falando de minha aldeia”, revelou.

Nessa época ele rescindiu um contrato com a EMI-Odeon (pelo qual lançou o LP O Dançarino, com release de Jorge Amado) por haver se recusado a gravar o obrigatório disco anual.

Independente e alternativo, irônico e sem meias palavras nas críticas à indústria musical baiana: “Espero que, algum dia, minha escolha vira uma opção musical para o povão. Quero ser sempre uma alternativa, um colírio para os olhos de quem está com cisco e um alívio para que, anda com dor de cabeça”, ironiza, referindo-se ao velho império da repetição que reina no repertório carnavalesco da Bahia (no início do ano 2000).

Dentre suas músicas, É d'Oxum está incluída na trilha sonora da minissérie Tenda dos Milagres. E a composição Mameto Kalunga é uma composição feita para ajudar aos desabrigados das inundações de Salvador e que contou com uma gravação da qual participaram Batatinha, Riachão, Luís Caldas, Sara Jane, Chocolate da Bahia, Lazzo, Chico Evangelista, Silvio Ricarti, Ricardo Amado e Coleta de Omolum.

Em 1992 ele teve oito discos gravados, sendo dois na França, além do EP Eu Sou Negão, de 1985 que vendeu 150 mil cópias. Em 1997, depois de anos sem gravar discos, ele lançou o CD Eu Te Amarei (Continental Warner) com apoio do governo estadual. Em 2001 lançou o independente Rei do Lambadão, e em 2005, É do Mar.

Em 2011 lançou o DVD Maré de Lançamento. Trata-se de um registro do show que o cantor apresentou com a banda Mont'Serrat em 2011 no Teatro Castro Alves pelo projeto Domingo no TCA e com a participação especial de Bira Marques com a Orquestra Afro Sinfônica. Há nove anos ele vem se apresentando show na Escadaria do Paço, no Centro Histórico.


Bibliografia consultada:

BASTOS, Eduardo. Um não aos medíocres. Salvador: Correio da Bahia. Arte & Lazer, 08 de abril de 1991, página 1.

CRUZ, Gutemberg. Gente da Bahia. Salvador/ Editora P&A, 1997. Página 47.

GARCIA, Lauro Lisboa. Gerônimo cria cordel acústico neotropicalista. São Paulo: O Estado de S.Paulo. Caderno 2, 15 de novembro de 1988. Página 4.

JUNIOR, Lago. Gerônimo: Querendo gozar em você. Salvador: Tribuna da Bahia. 16 de novembro de 1987. Página 6.

TALENTO, Biaggio. Pai nosso cai no samba reggae. São Paulo: O Estado de S.Paulo. Caderno 2, 30 de agosto de 1992. Página 1.

UZEL, Marcos. “Faço parte da resistência!. Salvador: Correio da Bahia. Folha da Bahia, 04 de fevereiro de 1998. Página 1.

O Faraó da Cultura. Salvador: Tribuna da Bahia. Cultura. 12 de maio de 1989. Página 1.
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05 dezembro 2012

Gerônimo, coração de liberdade (2)

No verão seguinte lança um mix que trazia duas composições, “Eu Sou Negão( Macuxi Muita Onda)” e “Jubiabá”. Além disso, ele teve “Dança das Águas” editada no exterior através de um LP internacional editado em 1983 por Alfred Victory, então diretor da Polygram. A antológica Eu Sou Negão, uma declaração de orgulho negro é citação fundamental na história da música baiana, principalmente por ter conseguido, nos anos 1980, abrir caminhos para que o samba reggae dos blocos afros de Salvador chegasse aos meios de comunicação e se transformasse em um fenômeno de popularidade. Foi uma mistura de samba reggae com roquenrol e rap. A música foi sucesso no carnaval baiano de 1986 e sacudiu as paradas de sucesso. Verbalizou porém um sentimento universal no refrão “meu coração é a liberdade” que a cantora Marisa Monte aproveitou no seu segundo disco.

Em 1987, a Continental lançou seu terceiro elepê, Dandá, uma mistura de ritmos e alegorias. O título é um aglomerado de significações que vão do dialeto africano, a expressão utilizada pelas crianças em fase de aprendizado da verbalização. É também uma raiz trazida pelos escravos africanos transfigurada numa “mágica benéfica para iluminar os caminhos das pessoas”. No disco, Gerônimo utiliza a expressão com todos os sentidos possíveis, mas sobretudo para questionar a ambição humana: “Dandá também significa questionar quem tem para ganhar deseja mais do que tem”, explica, correlacionando a expressão ao antigo dito popular “Dandá pra ganhar tentem” (vintem).

“Dandá” é um ijexá de batida lenta e estilizada, assim como “Abecedário”, uma homenagem ao advogado dos pobres, Cosme de Farias. “Jubiabá”, uma soca, resumo da história de Antonio Balduíno, do livro de Jorge Amado. “Lambada da Delícia” foi outro sucesso. E “Abafabanca” é uma música urbana do Nordeste. Para quem não se lembra, abafabanca é um sorvete caseiro, vendido nos cubinhos de gelo e extraído da própria fruta. Só quem podia fazer abafabanca, na época, era os petroleiros, porque também podiam ter geladeira. O poder aquisitivo da população era muito baixo e Gerônimo soube captar como ninguém esta fase nessa canção.

Em 1988 lançou Gerônimo, elepê apresentando ritmos afro baianos e caribenhos em músicas feitas juntamente com outros compositores baianos como Dito, Batatinha, Vevé Calazans e Ildasio Tavares. O crítico Lauro Lisboa Garcia, do jornal O Estado de S.Paulo (1988) comentou:

“Intermediário da intelectualidade de um Gilberto Gil ou Caetano Veloso com a popularidade dos blocos carnavalescos de Salvador, Gerônimo se firma como o representante da nova síntese musical baiana. Poeta e músico por excelência ele é considerado no circuito artístico de lá uma autoridade nos assuntos de música e cultura de conexão 'Africaribahia', muito antes de esse papo bater nos pára-lamas. A despeito da fúria dos xenófobos contra a invasão do reggae no carnaval, a música neobaiana não dobrou os joelhos. Comeu mais rock, reggae, merengue, salsa e com seus derivados temperou mais samba, forró, afoxé. O disco de Gerônimo – acentuado mas radicalmente na latinidad que no baianismo – injeta misso tudo em composições significativas (…) Gerônimo conta uma de muitas histórias possíveis até na épica - “com mil imagens glauberianas, exóticas” - Surpresas Tem o Pelô, Fino cordel. Do bloco Muzenza, a versão mais requintada de Brilho e Beleza - um tributo a Bob Marley, como não poderia deixar de ter. (…) O álbum vale por inteiro. A música neotropicalista gerada no mormaço baiano já perdeu a vergonha da própria cara. Falta a 'modernidade' paulista-carioca tomar a sua e desfazer o equívoco da segregação que destina aos 'regionalistas'. Gerônimo dá o lance em Porto dos Sonhos: 'Meu horizonte tem algo mais/eu tenho capa e espada em qualquer sonho aportarei”.

Em 1989 foi diretor da Fundação Gregório de Mattos, na administração do prefeito Fernando José.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

04 dezembro 2012

Gerônimo, coração de liberdade (1)

Ele é o melhor representante da raça mulata ascendente da Bahia. Nascido em Itaparica e absorvendo os sons negros das vielas e ladeiras da cidade de Salvador, Gerônimo conseguiu estruturar uma nova linguagem para a nossa música, seguramente a mais forte depois do Tropicalismo. Na ilha aprendeu o gingado da gente e o balanço do mar. E foi dali que ele saiu para se tornar poeta.

Gerônimo cresceu ouvindo Nelson Gonçalves, Dolores Duran, Vicente Celestino e Rita Pavone. Um veranista apareceu com um disco dos Beatles e, neste momento, Gerônimo já fazia suas incursões como músico na filarmônica local.

Ele resgata o discurso popular porque combina a musicalidade bem dita com o sorriso folgado de gente brejeira. Gerônimo faz a festa e arrasta atrás de si uma multidão que conhece as letras que cria e o acompanha no ritmo temperado de salsas, rumbas, sambas reggae, ijexá e tantos outros. Na opinião de Jorge Amado ele é “o melhor letrista, o poeta mais terno, romântico e sensual, voz de dolência de desejo, morna e enluarada”. Gerônimo é de fato um artista de múltiplos talentos, que aliou seu nome o de movimentos musicais da Bahia, não se acomodou e continua um experimentalista.

Ele se firmou como um dos mais sólidos nomes da composição baiana, sem sair do lugar. Encontrá-lo na cidade, nas ruas do Pelourinho, Liberdade, Saúde ou em qualquer lugar onde o povo de Salvador está fazendo história. Aí está Gerônimo com um coração da liberdade

Signo de câncer, criado na Ilha de Bom, Jesus dos Passos (Baia de Todos os Santos), Gerônimo é um homem do mar que transmite em sua música fluência, simplicidade e riqueza.

TRAJETÓRIA - Gerônimo Santana Duarte nasceu no dia 26 de março de 1953, em Bom Jesus dos Passos, localidade próxima à Ilha dos Frades, Bahia. Iniciou sua carreira musical aos 14 anos. Passou a adolescência no Stiep, em Salvador, quando o bairro ainda era habitado pelos trabalhadores de petróleo. Seu avo Esmeraldo era muito conhecido no Recôncavo por tocar seu sax alto. No Nordeste de Amaralina participou do programa Calouros do Gustavo, realizado por um tenente reformado da polícia. E já participava do coral da professora Eva, do Colégio Manoel Devoto. Venceu um programa na TV Itapoan (Poder Jovem) e a partir daí, começou a compor com outros artistas.

Ele venceu com a música “Fim de Semana na Bahia”. Entre 1974 e 76 foi percussionista do Trio Elétrico de Dodô e Osmar que interpretou uma de suas primeiras composições, “Fazer” em 1974. Entre 1976 e 79, estudou com Smetak na Universidade de Música da UFBa. Fez curso técnico de composição e regência na Universidade Católica de Salvador. Por seu ecletismo musical (tocava guitarra baiana, harpa, violão, atabaque e agogó, além de ser capoeirista), foi convidado a integrar o Balé Brasileiro da Bahia, dirigido pela professora Emília Biancardi, excursionando pela Europa. Ao retornar, em 1980, partiu para carreira solo.

Incansável estudioso da salsam soca, ritmo da Guiana Inglesa que se tornara muito popular na Bahia após o corte das relações de Cuba e EUA, ele também se dedica profundamente à mitologia negra. Sua formação musical serve como força impulsora e transporta para os dias de hoje desses ritmos e melodias ancestrais. A fascinação que provoca a cultura negra fez do artista um defensor da identidade e conservação da memória de vida dos negros no Brasil, além de ser adepto da religião afro (candomblé). Utilizando recursos linguísticos do ioruba e até mesmo de dialetos indígenas do Brasil, Gerônimo constrói em suas letras versões sociológicas da cultura de seu povo.

Destaque do Trofeu Caymmi como Melhor Espetáculo, Melhor Intérprete, Melhor Arranjo, Melhor Composição (Marujada) e Melhor Banda no primeiro semestre de 1985.

DISCOS - “Página Musical”, seu primeiro disco gravado em 1983 pela gravadora Polygram teve como carro chefe a música “Cigarro Colomy” marcando o início de uma intensa produção musical. Seu segundo elepê, “Mensageiro da Alegria”. O segundo, através da Nova República, saiu em 1985.
 
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03 dezembro 2012

Gente baiana: os filhos mais ilustres do interior da Bahia

A Bahia, o Brasil e o mundo, sem dúvida conhecem o cantor e compositor Caetano Veloso, também sabem que ele é baiano, mas será que todos sabem em que cidade ele nasceu? O artista nunca imaginou que, saindo de um pequeno município do Recôncavo Baiano, faria tanto sucesso, tornando-se inclusive umas das principais expressões da Música Popular Brasileira. Mas foi isso o que aconteceu. Filho de Santo Amaro, Caetano Veloso, já cantou em seus versos a beleza e o mistério de sua terra, a exemplo das músicas “Céu de Santo Amaro” e “Adeus, meu Santo Amaro” onde ele se despede dizendo “Adeus, meu Santo Amaro, que eu dessa terra vou me ausentar/ Adeus, minha cidade, adeus felicidade”.

Outra grande personalidade que nasceu na Bahia e que espalhou a gente e os cantos do Estado para o mundo conhecer e admirar foi o escritor Jorge Amado. Filho de um fazendeiro de cacau, ele nasceu em Itabuna, criado nas terras do sem fim do sul baiano, onde viveu sua infância em meio a outros fazendeiros, jagunços, soldados, comerciantes árabes e prostitutas, e fez dessas figuras, seus principais personagens ao se tornar um dos escritores mais importantes do Brasil. Em uma de suas obras mais famosas, “O Menino Grapiúna” (era assim que ele chamava a região, “nação grapiúna”), ele retrata seu universo particular, suas histórias e memórias infantis vividas em Itabuna, na verdade, ele é o próprio “menino grapiúna”.

UMA MULHER BEM BAIANA – Nas sangrentas e intermináveis lutas pela independência do Brasil, uma mulher baiana tornou-se heroína. Maria Quitéria nasceu em Cachoeira. Mulher do Recôncavo, hábil no manejo das armas de fogo e na prática da caça, disfarçou-se de homem e alistou-se em um Regimento de Artilharia para lutar contra os portugueses nos conflitos que se seguiram à Proclamação da Independência do Brasil. Antes, a guerra que era só para homens, presenciou a valentia de uma mulher teimosa, que ousou cortar os cabelos bem curtos, vestir fardamento militar, usar o nome de soldado Medeiros, enfrentar os padrões rígidos da época e entrar para a História do país.

“Se não entendo tudo, devo ficar contente com o que entendo. E entendo que vejo estas árvores e que tenho direito a minha língua e que posso olhar nos olhos dos estranhos e dizer: não me desculpe por não gostar do que você gosta; não me olhe de cima para baixo” (Vila Real). Advogado, cientista político, jornalista, romancista e membro da Academia Brasileira de Letras, João Ubaldo Ribeiro, nascido em Itaparica, é, antes de tudo, versátil como todo bom baiano. Em sua obra “Arte e Ciência de Roubar Galinhas” ele reúne algumas de suas melhores crônicas em torno da Ilha de Itaparica. No livro, o autor descortina as suas memórias de infância e juventude, o seu dia-a-dia na ilha, os casos e conversas com personagens locais, representantes reais da gente brasileira - uma boa opção para conhecer a cidade-ilha mais famosa da Bahia.

Nascido em uma fazenda perto de Curralinho (atualmente a cidade leva seu nome), terras então comarca de Cachoeira, hoje de Muritiba, o “poeta dos escravos” Castro Alves usou a pena como sua arma na luta contra a escravidão africana. Caracterizado pelos seus ideais abolicionistas e republicanos, sendo considerado a maior expressão da época, o escritor tem entre suas obras mais expressivas, o livro “Os Escravos”, sob o qual repousa dois de seus poemas mais fortes e lembrados: Vozes D’África e O Navio Negreiro. No primeiro, o poeta implora justiça divina e mostra toda sua indignação diante do crime escravocrata. Já o segundo poema, evoca os sofrimentos dos negros na travessia da África para o Brasil.
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30 novembro 2012

Reverência ao samba

Compositor de alma, Riachão foi reverenciado como o sambista de maior expressão e longevidade da Bahia. Em 2007 ele foi personagem-símbolo da maior festa popular do Brasil, o Carnaval. A reverência ao samba como forma de folia momesca foi uma forma de resgate e a busca por uma maior valorização deste gênero. E foi justamente em 1917 (há 95 anos) que o conhecido samba carnavalesco, “Pelo Telefone” estourou no Carnaval. Gravado pela Casa Edison, na voz de Baiano, a composição assinada por Donga e Mauro de Almeida ainda tem muito do maxixe, ritmo hegemônico na época, e vira cantiga nordestina em um dos trechos. E a história do samba já começou marcada pelas misturas que sempre envolveram o gênero. Os puristas preferem o samba original, os apologistas das fusões querem misturar com o rock, frevo e pop.

Quando Noel Rosa compôs o samba “Feitio de Oração” e Vinícius de Moraes em “Samba da Bênção” afirma que “o bom samba é uma forma de oração”, estavam certos. A palavra samba veio do lamento “kusamba”, rezar, orar. “Quem se atreve a me dizer, do que é feito o samba?” pergunta Marcelo Camelo na composição “Samba a Dois”. E quem responde é Caetano Veloso em “Desde que o samba é samba” ao compor: “O samba é o pai do prazer/o samba é o filho da dor/o grande poder transformador”.

“É melhor ser alegre que ser triste/Alegria é a melhor coisa que existe/É assim como a luz no coração/Mas pra fazer um samba um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/Senão não se faz um samba, não//Senão é como amar uma mulher só linda; e daí?/Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza/Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora/Qualquer coisa que sente saudade/Um molejo de amor machucado,/Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher,/Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor/E para ser só perdão//Fazer samba não é contar piada/Quem faz samba assim não é de nada/O bom samba é uma forma de oração/Porque o samba é a tristeza que balança/E a tristeza tem sempre uma esperança/De um dia não ser mais triste não...//Ponha um pouco de amor numa cadência/E vai ver que ninguém no mundo vence/A beleza que tem um samba não/Porque o samba nasceu lá na Bahia/E se hoje ele é branco na poesia/Se hoje ele é branco na poesia/Ele é negro demais no coração” (Samba da benção, de Vinícius de Moraes)

Fernanda Porto e Alba Carvalho falam que nunca foram numa roda de samba, mas seu sambar tem repique e batuque sampleando reco-reco e agogô. “Esse samba é meu groove da vez/com guitarras e drum´n´bass/só pra ver como é que fica/eletrônica e couro da cuíca//Samba assim assado/de hit acelerado, será que é samba assim?/samba assim assado/de hit acelerado, é samba, sim” canta em “Sambassim”. Em 2005 o baiano radicado em São Paulo, Péri lançou seu quarto CD dedicado inteiro ao samba. Mesclando a batida bossa-novista de João Gilberto, a elegância de Paulinho da Viola, e a suavidade da voz e violão ele canta: “o samba é como a vida. Só na maciota. Um samba pequenininho. Um samba diferente. Um samba passarinho. Que voa quando está contente” (Samba Passarinho).

Já o compositor Assis Valente teve nova leitura do seu “Brasil Pandeiro” na voz dos Novos Baianos: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor/eu fui na Penha, fui pedir ao Padroeiro para me ajudar/salve o Morro do Vintém, pendura a saia eu quero ver/eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar/o Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada/
anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato/vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará/na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá//Brasil, esquentai vossos pandeiros/iluminai os terreiros que nós queremos sambar/há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente/num batuque de matar//Batucada, batucada, reunir nossos valores/pastorinhas e cantores/expressão que não tem par, ó meu Brasil/Brasil, esquentai vossos pandeiros/iluminai os terreiros que nós queremos sambar/Ô, ô, sambar, iêiê, sambar.../queremos sambar, ioiô, queremos sambar, iaiá”.


E Jadir de Castro e Luiz Bittencourt atacaram de “Samba do Ziriguidum” na voz de Jackson do Pandeiro: “Ziriguidun, ziriguidun/Meu coração num teleco-teco/Puxe e largue/Como no futebol/A onda vai, vai, vai/E, balança mas não cai/E o samba continua/Na base do ziriguidum/Abre a roda moçada/Pra entra mais um/Abre a roda moçada/Pra entra mais um”. Para encerrar só mesmo o “Samba e Amor” de Chico Buarque: “Eu faço samba e amor até mais tarde/E tenho muito sono de manhã/Escuto a correria da cidade que arde/E apressa o dia de amanhã/De madrugada a gente ainda se ama/E a fábrica começa a buzinar/O trânsito contorna a nossa cama – reclama/Do nosso eterno espreguiçar/No colo da benvinda companheira/No corpo do bendito violão/Eu faço samba e amor a noite inteira/Não tenho a quem prestar satisfação/Eu faço samba e amor até mais tarde/E tenho muito mais o que fazer/Escuto a correria da cidade - que alarde/Será que é tão difícil amanhecer?/Não sei se preguiçoso ou se covarde/Debaixo do meu cobertor de lã/Eu faço samba e amor até mais tarde/E tenho muito sono de manhã”.
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29 novembro 2012

Abre a roda que o samba vai passar

O samba surgiu na Bahia, mas se popularizou nacionalmente através do Rio de Janeiro, que, com uma indústria fonográfica forte, teve um papel fundamental na divulgação dessa música. Ao primeiro toque do tambor, homens e mulheres se colocavam a postos, em círculos. E iam se alternando no centro da roda, dançando sozinhos ou em pares, enquanto os outros acompanhavam em palmas. “A dança consiste num bambolear sereno do corpo, acompanhado de um pequeno movimento dos pés, da cabeça e dos braços. Estes movimentos aceleram-se, conforme a música se torna mais viva e arrebatada, e, em breve, se admira um prodigioso saracotear de quadris”, informa o antropólogo Edison Carneiro em seu livro “Samba de umbigada”. Quando dançam sozinhos, convidam outro a substituí-lo com uma umbigada, que chamam de “semba”.

Filho legítimo das danças africanas, especialmente dos povos de língua banto, o samba veio dos batuques e lundus. Onde se plantava cana, tabaco, algodão, café e minas de ouro, havia negros e onde havia negros, havia dança e música, lembra Carneiro. Assim, os batuques foram se espalhando pelo país e se misturando com sonoridades e danças dos portugueses e dos índios, dando origem ao coco (no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), ao jongo (no Rio, São Paulo, Minas e Goiás) e ao samba (no Maranhão, Bahia, Guanabara e São Paulo), afirma o pesquisador.

Considerado obscena, ofensivo, os sambas eram vistos como locais de orgia e bebedeira, dignos da mais severa perseguição. Apesar de tudo, o samba sobreviveu. Os negros eram a maioria da população e o samba, a forma que eles conheciam de celebrar, se divertir, brincar. E apesar da base africana, o samba é natural do Brasil, onde descobriu novos instrumentos, coreografias e sotaques.

Os pesquisadores são unânimes em afirmar que o centro de tudo, o local onde o samba ganhou vida foi no recôncavo baiano, onde a música estava nas plantações, na pesca, na hora de construir, no lazer. O samba, naquela época cadenciava o trabalho. O coração do samba no recôncavo é a região que inclui Santo Amaro, Acupe, Santiago do Iguape e Cachoeira. E foi de Cachoeira que saiu Hilária Batista de Almeida, ou Tia Ciata, a mulata baiana que, no começo do século XX, ensinou o Brasil a sambar. Ela promovia em sua casa festas onde estava presentes os grandes músicos da época e foi lá que surgiu “Pelo Telefone”, o samba que lançaria no mercado fonográfico um novo gênero musical. A gravação de Donga foi em 1917 (há 95 anos), mas antes dele, em 1902 (há 110 anos), o santo-amarense Baiano foi o responsável pela primeira gravação feita no Brasil, o lundu “Isto é Bom”, do baiano Xisto Bahia. A partir daí o samba se espalhou por todo o país.

Há várias vertentes do samba como o choro, um samba em forma de canção, ou a bossa nova, ritmia do samba a serviço do requinte melódico da região. O samba de roda foi a grande fonte de inspiração do pagode baiano, assim como o samba duro e o pagode carioca.

Depois que a Unesco reconheceu o samba de roda como Obra-prima do Patrimômnio Oral e Imaterial da Humanidade, todas as atenções se voltaram para essa expressão cultural que, desde os tempos da escravidão, floresce no entorno da Baía de Todos os Santos. O samba de roda do Recôncavo Baiano sobrevive em dezenas pequenas comunidades interioranas, sendo a principal manifestação folclórica nas datas festivas, comemorações do dia a dia ou nos batuques que animam o encontro de amigos nos butecos.

“Desde que o Samba é Samba”, composição do mano Caetano diz: “A tristeza é senhora,/Desde que o samba é samba é assim/A lágrima clara sobre a pele escura,/a noite e a chuva que cai lá fora/Solidão apavora,/tudo demorando em ser tão ruim/Mas alguma coisa acontece,/no quando agora em mim /Cantando eu mando a tristeza embora//O samba ainda vai nascer,/O samba ainda não chegou/O samba não vai morrer,/veja o dia ainda não raiou//O samba é o pai do prazer,/o samba é o filho da dor/O grande poder transformador”.

Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Roberto Mendes e outros artistas baianos já se renderam à beleza do ritmo tendo gravado vários samba de roda. De raiz africana, era a diversão dos escravos e se subdivide em vários formatos como a chula, o samba de corrida, o de parada, de quadra, o samba duro, entre outros. O samba não é apenas um ritmo, é algo mais que uma simples música, ele evidencia o sentimento de um povo, uma espécie de herança que passa de gerações a gerações sendo, portanto, um conjunto de emoções.

O poeta Vinícius de Moraes sintetizou, com extrema felicidade, a origem do samba brasileiro, seu compromisso com a herança africana e as contribuições que lhe foram trazidas pela cultura européia, ao dizer que “o samba nasceu lá na Bahia e se hoje é branco na poesia, ele é negro demais no coração...”.E Zé Keti completa: “Eu sou o samba/A voz do morro sou eu mesmo sim senhor/Quero mostrar ao mundo que tenho valor/Eu sou o rei do terreiro/Eu sou o samba/Sou natural daqui do Rio de Janeiro/Sou eu quem levo a alegria/Para milhões de corações brasileiros/Salve o samba, queremos samba/Quem está pedindo é a voz do povo de um país/Salve o samba, queremos samba/Essa melodia de um Brasil feliz”.

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28 novembro 2012

Saudade de Lage (1946/2006)

Foi com o suplemento semanal A Coisa, publicado na Tribuna da Bahia nos anos 1970 que conheci mais de perto o cartunista Lage. No final da década de 1960 havia criado um movimento (clube) de estudo das histórias em quadrinhos e artes gráficas em geral na minha comunidade, o bairro do Pero Vaz aqui em Salvador. Com a publicação do fanzine Na Era dos Quadrinhos e as exposições e palestras sobre o tema nas escolas e bibliotecas da cidade ficamos conhecidos em toda Salvador (até mesmo contato com o desconhecido, na época, Umberto Eco). Defendíamos com unhas e dentes o movimento em prol das artes gráficas – cartuns, quadrinhos, charges e poema processo.

A força de nossas ações deu origem em reunir os cartunistas para a criação de uma publicação local para reforçar o trabalho desses artistas “invisíveis” da sociedade. Depois do suplemento A Coisa (publicado todas as sextas na Tribuna da Bahia), lançamos o jornal quinzenal Coisa Nostra, revista Pau de Sebo, além de exposições dos trabalhos dos cartunistas onde a interação era uma das molas do evento porque o público participava votando no melhor cartum da mostra. A mídia também, oferecendo prêmios aos melhores.

Referência na área do humor gráfico, especialmente na charge, Lage era dono de um estilo particular, marcado pela contestação calcada no humor virulento. Iconoclasta, dono de um traço simples e cortante, Lage logo se destacou pela mordacidade de seus desenhos. Costumava dizer que o bom cartum “é o que sai no estalo”. Durante o regime militar, entrou em controvérsias e chegou a ser chamado para depor nas famosas “sessões de informação” da ditadura. Mesmo assim, não diminuiu o tom de deboche, dizendo às vezes sem palavras o que todo uma nação calava na garganta.

Todos os dias, na redação do jornal Tribuna da Bahia, ele ia no começo da tarde, conversava com uma ou outra pessoa, ficava folheando os jornais, calado e, de repente, aparecia com uma de suas charges geniais. Assim, nos últimos 35 anos, a história da Tba está ligada a de Lage. Quando ele chegou nas páginas do jornal, primeiro em preto e branco, depois às cores, o papeis era outro e o jornalismo também. Mas sua ferramenta continuava as mesmas: o traço exato e o humor demolidor.

As charges de Lage se casam perfeitamente com a missão da Tribuna da Bahia, que é dar informação de forma exclusiva., analítica, sintética e contextualizada.

Quem quiser entender a Bahia de 1969 a 2006 precisa levar a sério o trabalho de Lage e olhar co atenção o comentário cáustico e agudo de suas charges. Mais do que jornalistas, são cronistas do desenho, que respondem diretamente aos acontecimentos com traço e legenda.

Lage morreu no dia 29 de novembro de 2006, aos 60 anos de idade. Trabalhou como chargista no jornal Tribuna da Bahia desde a sua fundação. Foi funcionário da TB Educativa. Formado em arquitetura pela UFBa, o artista optou desde cedo pelo desenho. Criou, ao lado de outros desenhistas, a revista Pau de Sebo, o jornal Coisa Nostra e o Dicionário de Baianês.
“Bastava um pedacinho de papel , e tinta preta, que ele derramava com uma humanidade rimada de simplicidade. Neste mundo de aparência, foi-se um exemplar de gente que não curtia alarde”, escreveu o mestre em comunicação Paulo Roberto Leandro (A Tarde - 01/12/2006).

“Nunca dizia não, mas jamais admitia utilizar a sua pena para ilustrar ideias dos outros. Era original e muitas vezes demolidor nas suas charges inteligentes sobre os assuntos nacionais daqueles que faziam doer quando a gente ria”, escreveu o jornalista Sérgio Goes (TB – 01/12/2006).

“Lage foi genial. Seu traço simples das figuras humanas que retratava, o cidadão classe média quase sempre com a cara do baiano que vai a padaria no final da tarde, narigão, olhos de gude; os policiais brucutus; e as suas tirinhas sobre sexualidade (o casal na cama, o papagaio putz) deixava seus fãs admirados. A primeira coisa que o leitor da Tribuna da Bahia fazia quando pegava o jornal era olhar e ler a charge de Lage”, escreveu o jornalista e escritor Tasso Franco (TB – 04/12/2006).

Em setembro de 2010 ele ganhou importante mostra retrospectiva na Caixa Cultural Salvador. Com curadoria do cartunista Nildão, Lage – 40 Anos de Humor apresentou 60 trabalhos de diferentes fases do desenhista, que revelam seu olhar crítico, mas sempre bem humorado, para fatos que marcaram as últimas décadas.

O artista recebeu diversos prêmios nacional e internacional durante sua trajetória. O último deles, em 1997 quando foi um dos vencedores do Trofeu HQ Mix dedicado aos melhores da área.
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