Há tempos as histórias em quadrinhos e som
se misturam, influenciando-se mutuamente. A proximidade entre as duas
linguagens é recorrente e intensa. Ídolos da música têm biografias
quadrinizadas e grandes autores da chamada arte sequencial assina capas de
disco. Ambas as mídias trabalham em relação aos nossos sentidos. Enquanto que o
conteúdo de uma revista em quadrinhos é absorvido por nossos olhos, o conteúdo
de uma trilha sonora é absorvido por nossos ouvidos gerando diferentes
sensações.
Quando se ler quadrinhos o leitor obtem
diversas informações de forma simultânea através de desenhos, cores, balões de
fala, onomatopeias e textos. Ao ouvir música, assim como nos quadrinhos, também
o leitor/ouvinte lida com variados elementos de forma conjunta (ritmo, batida,
harmonia, letra).
O processo de elaboração da música e dos
quadrinhos é semelhante. Na música tudo começa pela letra, que nada mais
representa que o argumento nos quadrinhos. A música propriamente dita é feita
em uma partitura que pode ser associada com os desenhos. Passada essa fase vem
a escolha do ritmo e a distribuição dos quadros através das páginas que são
muito parecidas, afinal são esses dois itens que determinam a velocidade que
será dada a ambas.
Além disso, tanto uma quanto a outra são
usadas para exprimir ideias, sentimentos e visões sobre determinados assuntos.
É uma fonte que leva a mensagem dos autores para o público. A música utiliza o
estimulo auditivo, os quadrinhos o estimulo visual.
A música será o fio condutor da Bienal
de Quadrinhos de Curitiba. Os debates, exposições, oficinas, festas,
sessões de cinema, e da tradicional feira de gibis será realizada no período de
06 a 09 de agosto de 2020 (a data vai depender do momento que atravessamos sobre
a pandemia) . Evento totalmente gratuito acontece em na área interna e externa
do Museu Municipal de Arte, no Portão Cultural, em Curitiba.
É muito grande a relação de troca
existente entre música e quadrinhos. Centenas de personagens saíram das páginas
do gibi para os discos. E os astros da música também utilizaram os quadrinhos
para permanecerem no topo. Basta lembrar que em 1948 foi lançada a revista
americana Juke Box Comics onde os fãs tinham acesso à biografia ilustrada de
quem frequentava a parada de sucessos na época, nomes como Miguelito Valdés,
Frankie Laine e Guy Lombardo. E Pat Boone, rei das baladas românticas, foi o
primeiro astro a dar nome a um gibi. Sua vida foi narrada em 1959 pela DC
Comics. Nos anos 60 o mestre dos quadrinhos underground, Robert Crumb não trocava
o jazz tradicional e o blues de raiz por nenhum outro ritmo. Ele produziu
inúmeras HQs enfocando os bluesmen.
Robert Crumb mantinha em atividade sua
banda de blues rural e jazz dos anos 20, a Cheap Suit Serinades, criada em 1972
com o nome de Keep on Truckin Orchestre e discos lançados. Houve um tempo em
que Crumb preferiu ser conhecido apenas como músico e colecionador de velhos
discos de 78 rotações, de jazz, folk e country. Toda a paixão do quadrinista
pela cultura crua de seus ancestrais está registrada em Blues, antologia de
HQs, pôsteres e capas de discos que Crumb criou em homenagem a seus heróis,
como Robert Johnson, Tommy Johnson e um quase desconhecido Charley Patton.
Já nos anos 70, a Marvel transformou o
senhor rock horror Alice Cooper em personagem de HQ. Alice, considerado uns dos
precursores do chamado rock and roll terror, por suas apresentações
performáticas, inspiradas em filmes de terror, usando objetos que vão desde
guilhotinas às bonecas voodoo. Nos anos 70 foi um dos pioneiros a pintar o
rosto e encarnar um personagem levando isso cenicamente ao palco. Entre os anos
1970 e 1980 a Marvel Comics possuía a antologia Marvel Premiere, a edição Nº 50
era uma adaptação do seu álbum From the Inside. Beatles e Rolling Stones também
viraram figurinhas fáceis nesse universo de papel. Ainda na década de 70, The
Arches só existiam sob a forma de desenho animado (surgiu em quadrinhos nos
anos 40). Saltaram da telinha da tevê para as paradas com Sugar Sugar, sucesso
em todo o mundo. Virou banda de música.
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