Quadrinhos e música
sempre tiveram uma relação de troca. A música sempre esteve presente nos gibis
e os personagens de papel viraram música para frequentar as paradas de sucesso.
Essa mistura é antiga. Leia alguns exemplos dessas influências mútuas.
1956 - (ITALIA) – BLUES FOR LADY DAY – A HISTÓRIA DE BILLIE HOLIDAY, do quadrinista
italiano Paolo Parisi. Apresenta a
trajetória da cantora, considerada a mais emocionante voz da música norte-americana,
desde seu início nos clubes baratos do Harlem, EUA, até sua aclamação mundial.
Mostra ainda a sua amizade com a lenda Louis Armstrong e Count Basie. E traz
também sua relação conturbada com as drogas, álcool, o que, adicionado ao
racismo institucionalizado, a levaram para a prisão diversas vezes. Essa HQ
traz como abertura dos capítulos títulos de canções de Billie Holiday e toda a
narrativa é conduzida por falas da cantora feitas em diversas entrevistas e
apresentações.
1962 (EUA) - JOSIE E AS GATINHAS (Dan
DeCarlo, 1963–1982, 1993, Archie) - Seis anos após a sua estreia, as residentes
de Riverdale Josie e Melody começaram uma banda, e recrutaram a baixista
Valerie para formar Josie and the Pussycats. Desde sua origem, a banda apareceu
através de diversos títulos Archies, frequentemente roubando a cena em
crossovers. A HQ ganhou uma adaptação em desenho animado pela Hanna-Barbera,
onde ficaram mais conhecidas, entre 1970 e 71, e até uma tentativa de
ressurreição das personagens em um filme live action em 2001. A animação ganhou
o nome Josie e as Gatinhas. Um trio musical real foi formado junto com o
desenho animado, tendo lançado um álbum no mesmo ano de estreia da animação.
1968 (BRASIL) - BATMACUMBA (Gilberto Gil / Caetano Veloso) - Faixa do disco
Tropicália ou Panis et circencis. Utilizando o prefixo bat, Caetano e Gil
formulam uma discussão entre dois pontos da cultura — cultura de massas e a
macumba. Ao aproximar esses dois fenômenos, os autores apresentam em uma
composição, que toma partido da rítmica própria da crença afro-brasileira, o
som inusitado de uma guitarra, transportando o diálogo entre rock e atabaque
para o nível do diálogo entre culturas.
1977 (EUA) KISS. O grupo apareceu em uma edição de Howard, o Pato e, pouco
depois, a Casa Ideias lançou um quadrinho onde a banda era retratada como
super-heróis. Desde então, o Kiss apareceu em três histórias solo pela editora
e, em 1997, Todd McFarlane lançou Kiss: Psycho Circus, que durou 31 publicações
e foi até os anos 2000. Depois o grupo ainda publicou histórias pela Dark
Horse, Platinum Studios, IDW e Dynamite Entertainment.
1980 (ARGENTINA) – BILLIE HOLIDAY. Criada pelos argentinos Carlos Sampayo (roteiro) e
José Muñoz (arte), a biografia em quadrinhos da cantora quando sua morte
completava 40 anos. Fragmentado, obscuro, passional ao extremo e cujo clima
sempre foi marcado por beleza e dor. A HQ chamou atenção principalmente pelo
preto e branco de alto contraste de Muñoz e o roteiro noir de Sampayo. A ideia
de homenagem dos quadrinistas à cantora é fazer jazz com quadrinhos.
1980 (EUA) - CRISTAL é uma personagem que pertence à Marvel Comics , associada
ao grupo dos X-Men. Ela apareceu pela primeira vez em Uncanny X-Men #130 ,
durante A Saga da Fênix Negra. Cristal foi criada capitalizando o final da moda
disco e do glam rock (cujos integrantes usam pesadas maquiagens),
principalmente, do grupo Kiss, que fazia sucesso na época nos quadrinhos da
editora Marvel. A idéia era lançar uma heroína multimídia, que apareceria
também no cinema. A mutante capaz de
converter som em luz é praticamente uma pista de dança ambulante. O visual
refletia o espírito dos tempos. Ela foi criada por conta de uma parceria da
Marvel com a Casablanca Records.
1984 (EUA) - Para a revista Epic
Illustrated, o desenhista americano Philip Craig Russel retomou os conceitos de
seu projeto NIGHT MUSIC, fazendo
adaptações de óperas – dentre elas Pelleas & Melisande (de Claude Debussy).
O artista fez outras adaptações de óperas posteriormente, dentre elas A Flauta
Mágica, de Mozart, e O Anel do Nibelungo, de Richard Wagner.
1984 (BRASIL) - TUBARÕES
VOADORES, interpretada por Arrigo e Vânia Bastos. É uma canção construída
totalmente a partir das HQs. Trata-se de uma canção construída por módulos
musicais (uma técnica também utilizada no LP Clara Crocodilo). Assim, não há
linearidade na canção, tampouco o convencional “refrão”, geralmente o aspecto
mais apropriável da música popular pelo ouvinte. Além disso, a canção está
entremeada por ruídos, por efeitos sonoros, por intervenções rápidas de
clusters sonoros que fragmentam o discurso sonoro e dificultam a linearidade da
escuta. A canção se comporta como um HQ, quadro a quadro, posto que Tubarões Voadores foi musicada por Arrigo a
partir de uma história em quadrinhos (HQ) de Luiz Gê. Arrigo Barnabé, um dos
músicos a integrar o movimento que ficou conhecido como Vanguarda Paulistana,
sempre assumiu a influência e o diálogo com os quadrinhos. Havia lançado em
1980 o LP independente Clara Crocodilo, cuja arte da capa é de Luiz Gê.
Tubarões Voadores lida com a paranoia da classe média nas grandes metrópoles,
às voltas com uma situação absurda, surreal e inevitável, com uma narrativa que
casa muito bem com a arte estilizada e o conceito. A história foi então
formatada como encarte para acompanhar o LP, depois publicada entre 86 e 87 na
revista Circo, que teve Luiz Gê como editor, e em outras poucas ocasiões nos
anos seguintes.
1989 (EUA) - ROCK ’N’ ROLL COMICS.
O norte-americano Todd Loren fundou a editora independente Revolutionary
Comics, para unir suas duas paixões, rock e quadrinhos, e ainda ganhar dinheiro
com isso. Essas
histórias “não-autorizadas” de bandas de rock famosíssimas receberam a aura que
só os quadrinhos podem proporcionar nesta série independente que correu por 4
anos e 63 edições. Entre as bandas
roteirizadas estão Guns N’ Roses, Metallica, The Who, Black Sabbath, The
Rolling Stones, The Cure, entre outras. Devido a natureza não-licenciada das HQ’s,
um bom número de bandas processou o então editor Todd Loren. Até 2013, a série
era um item bastante disputado entre colecionadores, quando a Bluewater
Productions anunciou uma reimpressão de toda a coleção.
1989 (BRASIL) – O guitarrista do grupo
paulista Ira!, Edgard Scandura lança seu primeiro disco solo, onde canta e toca
todos os instrumentos: AMIGOS INVISÍVEIS,
onde presta tributo aos quadrinhos europeus onde o desenhista da capa segue a
linha Moebius. O disco abre com uma vinheta instrumental, segue com uma
declaração de amor às heroínas de bandas desenhadas europeias Valentina,
Barbarella, Justine, entre outras. Nome da canção: Amor em B.D.
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