A música sempre esteve presente nas
histórias em quadrinhos. Grande número de artistas atua nas duas atividades.
Falam uma só linguagem e mantêm uma relação que vem sendo registrada em muitos
discos, cds e revistas.
O fundador da Zap Comics, Robert Crumb, no
início dos anos sessenta balançou a cena com suas publicações, a saga das
viagens psicodélicas dos hippies e, sobretudo, histórias da música
norte-americana de raiz, como o blues, jazz e o folk. Amigo pessoal de Janis
Joplin ele desenhou a capa e “Cheap Thrills”, o primeiro LP da banda “The Big
Hold Company”, de 1968. Crumb ilustrou trabalhos, pôsteres e outras peças
musicais para gente como James Brown, Frank Zappa, Gus Cannon, George Jones,
Woody Guthrie, MTV, entre outros novos artistas e ícones esquecidos do blues e
do jazz feito entre os anos 20 e 30, esses últimos, os verdadeiros idolos de
Crumb.
No livro Minha Vida, uma compilação das
tiras de Crumb, ele conta no início da carreira a música foi uma ferramenta de
trabalho, e que ele costumava se inspirar em canções antigas de jazz e blues
para criar seus personagens. As capas de Crumb foram reunidas em um livro, R.
Crumb: The Complete Record Cover Collection, que traz ainda pôsteres e outras
ilustrações musicais feitas por ele. Na web, há um vídeo disponível em que
Crumb fala das duas paixões, a música e os quadrinhos:
Alan Moore (Watchmen, Piada Mortal, V de
Vingança) era integrante do grupo de rock chamado The Sinister Ducks, que teve
a capa do disco desenhado por outro roqueiro, Kevin O´Neill (A Era Metalzóica).
Já o francês Frank Margerin é outro adepto do ritmo, assim como os Irmãos
Hernandez que formaram a banda Nature Boy.
O punk ainda influencia tudo o que faço”,
disse Gaiman numa entrevista em 2011. “Você precisa estar disposto a cometer
erros, e disposto a cometê-los em público, às vezes, a melhor maneira de
aprender algo é fazendo de forma errada e observando o que fez” (pag.34). “A
atitude ´faça você mesmo` do punk sem dúvida influenciou minha carreira,
incluindo os quadrinhos. Sem o punk, talvez seguisse o plano original de me
tornar teólogo corporativo, enquanto sonhava de forma melancólica em virar
escritor” (Lawley, 1991).
Desde o início dos anos
80 um rato com cara de sacana frequenta as capas dos discos do Ratos de Porão.
Trata-se do logotipo da banda. O desenhista é Francisco Marcatti, autor as
capas Anarcophobie, Brasil, entre outras. É dele também a versão para os
quadrinhos de João Gordo, Jão, Jabá e Boka e estão na revista RxDxPx lançada em
1992. A revista é um projeto independente do desenhista.
Já o vocalista da banda My Chemical Romance e hoje em
carreira solo, Gerard Way é o roteirista
de The Umbrella Academy – Suíte do Apocalipse (2009) e The Umbrella Academy –
Dallas (2011), lançadas no Brasil pela Devir, com desenhos de Gabriel Bá. A
série acompanha a vida de sete jovens que nasceram com super-poderes espalhados
por um mundo no qual o presidente Kennedy, dos Estados Unidos, jamais foi
assassinado. Numa entrevista dada a Isabelle Felix e publicada no site
UniversoHQ (http://www.universohq.com/entrevistas/gerard-way-entre-a-musica-e-os-quadrinhos-os-dois/)
ele falou da relação música e quadrinhos: Para Way, “a música é o meu caminho
para entrar em várias coisas. Muitas vezes, quando quero escrever uma história,
geralmente é uma música que me inspira para escrevê-la. Então, a música é onde
tudo começa”.
Garth Ennis gosta de usar letras de
composições conhecidas do imaginário popular em epígrafes: citações no início
ou final de capítulos de modo a ilustrar os temas abordados. Em Preacher, a
primeira das 66 edições da série abre com Time of the Preacher, de Willie
Nelson, que fala sobre um pregador obstinado em busca do amor de uma mulher,
exatamente como o protagonista Jesse Custer.
No período em que o escritor irlandês
passou pelo título Hellblazer, casa de John Constantine, vê-se a repetição
desse expediente. O lendário arco Hábitos Perigosos é finalizado em uma página
sem falas, somente com um trecho de A Rainy Night in Soho, do Pogues. Os versos agridoces (We watched our friends grow up
together/ And we saw them as they fell/ Some of them fell into Heaven/ Some of
them fell into Hell) refletem o sentimento da redenção forçada, solitária,
vivida pelo personagem.
O título do álbum de Jay-Z, Kingdom Come, lançado
em 2006, foi inspirado na clássica minissérie de Alex Ross e Mark Waid,
conhecida no Brasil como O Reino do Amanhã. Outro que é um fanboy pesado de
quadrinhos é MF DOOM, rapper que tirou sua persona em boa parte de Doctor Doom,
um vilão da Marvel. Ele até usa Madvillain como apelido, quando convém. Ele
nunca é visto ou fotografado sem a máscara, exceto por imagens da época do KMD,
seu antigo grupo.
Além dessa função de comentar aspectos de
uma história, músicas também podem ser usadas como trilha sonora incidental. Um
“som de fundo”, cujo objetivo é criar a ambientação para determinada cena.
Lourenço Mutarelli faz isso brilhantemente em Diomedes. No clímax de cada um
dos três livros, o autor coloca no rodapé dos quadros o nome das canções a
serem tocadas enquanto as páginas são lidas – indica inclusive o momento em que
elas devem cessar. Tem um country sombrio de Bob Neuwirth e John Cale, um xote
malandro de Tom Zé e uma peça instrumental etérea e assustadora de Ravi
Shankar, que acompanham sequências praticamente mudas de ação física.
Outra série de Fraction, a cultuada Gavião
Arqueiro, da Marvel, também possui trilha sonora “oficial”. No caso, o
desenhista David Aja cria playlists para cada edição e as divulga em seu blog.
Ali, inclui jazz, funk, lounge e psicodelia, gêneros que casam perfeitamente
com o clima urbano setentista do gibi. E bem que Joe Casey e Jim Mahfood
poderiam fazer o mesmo em Miami Vice, adaptação contemporânea do renomado
seriado, publicada pela IDW/Lion Forge. As cores berrantes da arte de Mahfood
imploram pelos teclados e sintetizadores dos anos 1980.
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