Já o terceiro filme há muitas dúvidas:
Seria Neo apenas uma simulação da Matrix para cumprir sua tarefa de retirar 23
pessoas de Zion antes que ela seja destruída ou um ser humano real? O oráculo
está do nosso lado ou ainda é fiel as máquinas e ao seu criador? O Arquiteto
era um ser humano ou uma manifestação da Matrix, como um programa de inteligência
própria? Zion será destruída? Terá Neo que escolher entre a morte dos humanos
que ainda estão presos dentro da Matrix ou a morte dos que estão fora dela? Não
seria Zion uma simulação da própria Matrix para abrigar as pessoas que não
aceitaram ficar dentro do programa?
Mas afinal, o que é a Matrix? "Você
pode escolher entre a pílula vermelha ou a azul" diz Morpheus a Neo a
certa altura do filme. "Se escolher a azul você vai acordar de manhã em
sua casa e sua vida vai permanecer a mesma . Mas, se escolher a vermelha, vai
descobrir o quão funda é a toca do coelho da Alice". Numa das cenas
iniciais do filme, Neo é desafiado a escolher entre a pílula azul e a pílula
vermelha. Esta é sua primeira (e decisiva) escolha Ou seja, ele terá que
escolher entre permanecer como está ou conhecer a verdade do Real. Imbuído de
aguda curiosidade, Neo escolhe a pílula vermelha, que o conduz a uma outra
dimensão da sua vida pessoal.
Ao escolher a pílula vermelha, Neo
renasce, literalmente. A partir daí, Neo “conhece” a Matrix e o significado da
luta do grupo de Morpheus. Torna-se membro da resistência humana, atuando na
Matrix a partir de sua base submarina, o Nabucodonosor. Desde a escolha da
pílula vermelha, a trama do filme dos Irmãos Wachowski se desenrola em fases
delimitadas: o (re)nascimento de Neo, o descobrimento da Verdade, seu
treinamento, a ida ao Oráculo; a traição e armadilha de Cypher, a captura de
Morpheus, seu resgate por Neo e Trinity, o duelo no Metrô entre Neo e o agente
Smith; a fuga de Neo, sua morte e ressurreição e a afirmação de Neo como o
Escolhido, aquele que irá redimir a humanidade da dominação das Máquinas,
libertando-os da Matrix. A tragédia de Neo, no decorrer de Matrix, é ser
obrigado a escolher, a agir e não apenas a perguntar (o mesmo desafio moral é
posto no decorrer de todo o filme). Em vários momentos, Neo se depara com o
desafio: “Você é quem escolhe”.
“É a pergunta que nos impele, Neo. Foi a
pergunta que te trouxe aqui. Sabes a pergunta, assim como eu sei. A resposta
está lá fora Neo “( Trinity)
A trama narrativa é permeada de escolhas
e de enfrentamento do destino, daquilo que está programado e contra isto se
insurge Neo e os demais. É, em última instância, o tema da liberdade humana e
da própria dialética liberdade e necessidade. É através deste enfrentamento
cotidiano, que Neo adquire a consciência de si. É outro ponto decisivo – não
existe consciência de si sem luta intensa e enfrentamento com as condições
dadas (a Matrix é uma condição dada e os agentes federais, como software de rastreamento,
são condições dadas, programadas, escravos da programação-mor da Matrix,
obstáculos à liberdade pleiteada pelos seres humanos).
Dois planos espaço-temporais permeiam a
narrativa de Matrix. A primeira ocorre no deserto do Real, onde a Terra após a
vitória das Máquinas transformou homens e mulheres em fonte de energia. Mas
existem homens que resistem no subterrâneo, habitando a cidade de Sião, “a
última cidade humana, o único lugar que nos restou perto do núcleo da Terra
onde ainda é quente”, cujo acesso é secreto (o que os agentes federais queriam
era o código de acesso a Sião para poderem derrotar, de vez, a resistência
humana). Segundo, o que ocorre no mundo real simulado pela Matrix, cenário
urbano da metrópole, com sua vida cotidiana, onde as pessoas estão imersas no
emprego e nas suas ambições triviais. É o mundo tal como ele é.
A realidade simulada é uma virtualização
complexa que oculta a verdadeira Realidade, o “deserto do Real”. De um lado, a
bárbarie regressiva perto de 2199. De outro lado, o simulacro digital complexo
que oculta a exploração do gênero humano pelas Máquinas Inteligentes. Estamos
diante de um mundo digital, binário, tão perfeito quanto a própria realidade
concreta. Neste mundo de Matrix, os objetos e pessoas são meros sistemas de
códigos binários, programas de computador, deste imenso sistema informático. “A
Matrix é um mundo dos sonhos gerado por computador feito para nos controlar,
para transformar o ser humano nisto aqui [bateria]”, observou Morheus.
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