Há 140 anos (em dezembro) morria o
primeiro caricaturista brasileiro Manuel de Araújo Porto-Alegre. Gaúcho, ele foi o primeiro artista a publicar
uma caricatura no Brasil, em 1837. Entre 1837 e 1839, de volta de sua viagem à
Europa, Manuel de Araújo Porto-Alegre produziu uma série de litografias
satíricas que eram vendidas em unidades separadas nas ruas do Rio de Janeiro.
O aparecimento relativamente tardio da
caricatura na nossa história é revelador da demora que a imprensa levou para
chegar até nós. Embora no período colonial o Brasil tenha sido privado da
imprensa por determinação real, a caricatura já se manifestava de outras formas
como expressão do povo nas festas de carnaval, de bumba-meu-boi, na malhação de
Judas, e através de bonecos e fantasias que satirizavam pessoas e costumes da
época. Foi em 1837 o ano da primeira caricatura brasileira.
Pintor, arquiteto, autor dramático, poeta
e diplomata, Manoel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), depois Barão de Santo
Ângelo, tão logo volta ao Brasil, tratou de divulgar a arte desenvolvida nos
seus anos no exterior, publicando em dezembro de 1837 a primeira charge
brasileira no Jornal do Commercio, que satiriza Justiniano José da Rocha,
político de relevo da época.
Com a vinda para o Brasil da família real
portuguesa e a abertura dos portos, em 1808, é que estabeleceram aqui as
primeiras oficinas gráficas. Começou, a partir daí, o desenvolvimento da
impressão de livros e periódicos. Os jornais, no entanto, eram apenas tolerados,
e quem se manifestava contra o governo sofria as sanções da censura e da
perseguição. Os jornais, até então, não publicava caricaturas. Estas circulavam
apenas como estampas avulsas, ainda de forma tosca e sem qualidade. As
inovações técnicas, chegadas ao Brasil em meados do Século XIX, permitiram o
advento da gravura e, consequentemente da caricatura, na imprensa brasileira,
causando considerável impulso, assegurando novas condições à crítica e
ampliando sua influência. Nesse sentido, o texto humorístico foi precursor da
caricatura, que somente apareceu quando as técnicas da gravação permitiram
conjugar as palavras coim a atração visual do desenho e da imagem.
A primeira caricatura brasileira,
atribuída a Manoel de Araújo Porto Alegre (1837), apareceu como uma estampa
avulsa e foi exibida pelo Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, nº277, de 14 de
dezembro de 1837. A caricatura, mais propriamente a charge, tratava de uma
crítica às propinas recebidas por um funcionário do governo relativas ao Correio
Oficial.
O aparecimento da caricatura passou a dar
à imprensa recursos de enorme amplitude e a anunciava uma mudança que iria
justificar o processo político. Era uma época de grandes mudanças, marcadas
pela extinção do tráfico negreiro (lei de 1850), pela Guerra do Paraguai
(1864-1870) e pela consolidação do Império.
A profusão de imagens nas mídias
emergentes (jornais, cartazes, estampas e espetáculos teatrais) constitui uma
revolução visual. São sinais de uma consciência da cidade em transformação. A
imprensa ilustrada provoca um impacto no imaginário, nos costumes, na
consciência dos fatos do tempo vivido, na percepção da cidade. As evoluções
técnicas tipográficas, como a da gravura em bois de bout (“em madeira de
topo”), fazem com que texto e imagem possam se associar na mesma página,
barateando a produção de jornais, que se sucedem: La Silhouette (1829-1830), La
Caricature (1830-1835, que une o romancista Honorpé de Balzac ao editor Charles
Philipon), Le Charivari (1832-1872), Le Magasin Pittoresque, entre outros.
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