Compositor, cantor, radialista e
humorista baiano, Waldeck Artur Macedo, conhecido por “Gordurinha” continua
esquecido. Há 60 anos ele lançava o samba "Chiclete com banana", parceria com
Jackson do Pandeiro, foi gravado com grande sucesso. Primeiro por Odete Amaral,
mulher do cantor Ciro Monteiro, e, posteriormente, pelo próprio Jackson do
Pandeiro. Ela origina, em 1968, montagem dirigida por Augusto Boal, no Teatro
de Arena de São Paulo, que aborda as relações históricas da música brasileira
no exterior e da estrangeira no Brasil. É redescoberta pelo público com
Gilberto Gil, no LP Expresso 2222, de 1972. Nos anos 1980 foi tema de uma tira
de histórias em quadrinhos, do desenhista Angeli e é nome de uma banda de
música baiana. Em 16 de janeiro de 2019 completa 50 anos de sua morte.
Cronista perspicaz dos costumes e
questões culturais e sociais de seu tempo, Gordurinha navega com desenvoltura por diversas
temáticas e estilos musicais. É autor de melodias de gêneros nordestinos, como
o coco e o baião. Essas canções têm usualmente como pano de fundo a cultura
nordestina e seus dilemas sociais, expressos por meio de um personagem forjado
no vasto repertório de seus tipos populares. Gordurinha elabora letras que
captam a psicologia e o linguajar coloquial do universo retratado,
interpretando as dicções regionais.
Magro na juventude, Waldeck Artur de
Macedo, nascido no bairro da Saúde, em Salvador, no dia 10 de agosto de 1922,
ganhou seu apelido em 1938, quando já trabalhava na Rádio Sociedade da Bahia.
Do seu repúdio à colonização americana,
pela goma de mascar nasceu o bebop-samba, Chiclete com banana, em parceria com
Almira Castilho, que acabou por pronunciar o tropicalismo ao sugerir
antropofagicamente na letra: 'só boto bebop no meu samba quando o Tio Sam pegar
no tamborim, quando ele entender que o samba não é rumba'.
Ele mesmo chegou a gravar, como que a
tirar um sarro um rock entitulado Tô doido para ficar maluco. Mas não foi só de
glória e reconhecimento tardio a vida deste que, ao lado do Trio Nordestino,
iria se transformar no baluarte do forró na Bahia.
Sua estréia no mundo da música se deu em
1938, quando fez parte do conjunto vocal "Caídos do céu" que se
apresentava na Rádio Sociedade da Bahia, fazendo logo depois par cômico com o
compositor Dulphe Cruz. Logo se destacou pelo seu dom de humorista e pelo
sarcasmo que iria ser disseminado em suas letras anos mais tarde.
Em 1942, cansado de tentar conciliar
estudo e sessões de rádio, tomou a decisão se debateu com um dilema conhecido
de muitos: medicina ou carreira artística? Como seus discípulos Zé Ramalho e
Fred Dantas, Gordurinha caiu fora dessa estória de clinicar. Largou a Faculdade
de Medicina e seguiu sua sina de cigarra.
Os passos iniciais seriam dados numa
Companhia Teatral. Caiu na estrada, mambembeando e povoando de música e
pantomimas outras plagas.
Seu próximo passo seria um contrato na
Rádio Jornal de Comércio, em Recife, em 1951. Depois, o jovem compositor,
humorista e intérprete Gordurinha passaria pela rádio Tamandaré onde conheceu o
poeta Ascenso Ferreira, figura folclórica do Recife, Jackson do Pandeiro e
Genival Lacerda. Estes dois últimos gravariam em primeira mão várias das suas
composições.
Em 1952 partiu para o Rio de Janeiro
onde penou sofrendo gozações preconceituosas. Sublimando estes pormenores,
conseguiu trabalhar nos programas Varandão da Casa Grande, na Rádio Nacional, e
Café sem Concerto as Radios Tupi e Nacional, duas das maiores do país, sempre
fazendo tipos humorísticos. Ficou neste circuito até que almejou um sonho que
já alimentava desde os magros dias do Recife: um contrato na mais importante
mídia do Brasil na época que era a Rádio Nacional.
Gordurinha gravou, em 1955, pelo selo Continental, duas canções voltadas para o Carnaval do
ano seguinte: Sonhei com Você, de Roberto Martins e Mário Vieira; e Soldado da
Rainha, marcha que assina com João Grimaldi e interpreta em duo vocal com Leo
Vilar e acompanhamento de Severino Araújo (1917-2012) e Orquestra Tabajara. Em
1957, comanda o programa Varandão da Casa Grande, na Rádio Nacional, e, em
1958, produz Café sem Concerto e Boate Ali Babá, respectivamente na Rádio Tupi
e na TV Tupi. No ano seguinte, lança Vendedor de Caranguejo, que faz sucesso
com Ary Lobo, regravada por Clara Nunes (1943-1983) e Gilberto Gil (1942).
Compõe com José Gomes (1919-1982),
verdadeiro nome de Jackson do Pandeiro, sua canção célebre, o samba Chiclete
com Banana, em 1958, lançada nesse mesmo ano por Odete Amaral, mulher do cantor
Ciro Monteiro, e, posteriormente, pelo próprio Jackson do Pandeiro. Ela
origina, em 1968, montagem dirigida por Augusto Boal, no Teatro de Arena de São
Paulo, que aborda as relações históricas da música brasileira no exterior e da
estrangeira no Brasil. É redescoberta pelo público com Gilberto Gil, no LP
Expresso 2222, de 1972. Também dá nome à tira em quadrinhos do cartunista
Angeli (1956) e à banda baiana de axé music, ambas formadas nos anos 1980. É
citada por Marcelo D2 (1967) na música A Maldição do Samba, de 2003.
Ainda em 1959, Gordurinha faz sucesso
como intérprete de outra canção autoral, Baiano Burro Nasce Morto, cujo título
vira bordão popular. Em Baianada, Baiano Não É Palhaço e Baiano Burro Nasce
Morto, Gordurinha combate o preconceito ao nordestino que detecta no Rio de
Janeiro com a construção de personagens pitorescos, orgulhosos de sua origem. Ele
a grava com a participação do humorista Mário Tupinambá, que faz um personagem
na televisão em que interpreta um deputado baiano que adora longos discursos,
como faz no disco. A música também faz sucesso com o alagoano Luiz Wanderley,
em 1959. É regravada por Moraes Moreira (1947), em 2000. Em 1960, interpreta o
baião-toada Súplica Cearense (parceria com Nelinho), sucesso na voz de Merino
Silva (1967), Luiz Gonzaga (1912-1989), Fagner (1949), Elba Ramalho (1951) e
gravada pelo conjunto O Rappa. Entre diversos compactos, Gordurinha lança
quatro LPs na década de 1960.
Meu enxoval, um samba-coco em parceria
com Jackson do Pandeiro seria um dos carros chefes do disco ‘forró do Jackson’,
de 61. Outro que se daria bem com uma composição do baiano seria o forrozeiro
paraense Ary Lobo que prenunciou o Mangue beat ao cantar: ‘Caranguejo-uçá,
caranguejo-uçá/ A apanho ele na lama/ E boto no meu caçuá/ Caranguejo bem gordo
é gaiamum/ Cada corda de 10 eu dou mais um”. Vendedor de caranguejo seria
gravado por Clara Nunes, em 74, e por Gilberto Gil no seu ‘Quanta’, de 1997.
Outros sucessos foram Baiano não é palhaço que fala do seu orgulho de ser
baiano, Súplica cearense e Baiano burro nasce morto.
Gordurinha faleceu em Nova Iguaçú/RJ em
16/1/1969 e seria homenageado na década de 70 com Gilberto Gil, que regravou
Chiclete com Banana e Vendedor de Caranguejo no Quanta.
O cantor carioca Jards Macalé, também o
homenagearia com a regravação de Orora analfabeta, no seu 2º LP, ‘Aprendendo a
nadar’, de 1974.
Elba Ramalho se rendeu ao talento do
mestre ao dar sua versão de Pau-de-arara é a vovozinha, no seu CD Flor da
Paraíba, de 1998.
A última homenagem recebida foi o
lançamento do CD A Confraria do Gordurinha, em rememoração aos 30 anos sem o
artista. Morre no início de 1969, no Rio de Janeiro. Nesse ano, é lançado pela
Musicolor o disco póstumo Gordurinha. Em 1999, com patrocínio do governo do
estado e lançamento da Warner Music, o selo Sons da Bahia grava A Confraria do
Gordurinha, com 16 faixas de sua autoria, interpretadas por Gilberto Gil, Marta
Millani e o conjunto Confraria da Bazófia. No mesmo ano, Carmélia Alves, a
rainha do baião, grava pelo selo CPC-Umes o disco Carmélia Alves Abraça
Gordurinha e Jackson do Pandeiro. Em 2000, a Warner Music lança, pela série
Enciclopédia Musical Brasileira, o CD Jackson do Pandeiro e Gordurinha, que
intercala faixas interpretadas por cada um, com composições próprias e de
outros autores.
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