06 maio 2013

Kitsch: o eterno sucesso da imitação artística (1)



Entra ano, sai ano, e Cauby Peixoto, Elke Maravilha, Elvis Presley e outras respeitáveis figuras jamais saem de moda. Pelo contrário, estão sempre na moda. Só o kitsch explica. Kitsch é uma palavra que resolve problemas, qualifica objetos, pessoas ou situações. Antes de tudo, o kitsch é uma espécie de mentira artística, um equívoco. Feito com a intenção de ser arte, mas não é. É uma corruptela de “verkitschen” (verbo do dialeto austro-bávaro para vender por preço mais baixo”), que se tornou adjetivo usado em todo o mundo para indicar o que tem gosto discutível, apelo fácil, peca por ser pretensioso ou exagerado, não é autêntico, não é adequado...mas que agrada à maioria das pessoas, para desespero dos críticos.

O termo kitsch é muito relativo e subjetivo na sua definição. Trata-se de um termo muito expressivo, mas de difícil tradução; por isso, é universalmente empregado no idioma original. Assim, para alguns, kitsch é o produto caracterizado pelo mau gosto; para outros é sinônimo de vulgar; para outros ainda é artesanato seriado, é pseudo-arte, anti-arte ou ainda pode ser considerada como signo de industrialização, podendo ser confundido com o próprio folclore urbano das sociedades industrializadas.

MISCELÂNIA – Os meios de comunicação de massa vieram suprir a lacuna que antes era preenchida pela arte; o produto dessa “cultura”  era uma miscelânia onde o kitsch foi encontrar o seu meio propício. Os artistas, ao invés de reagirem e de encontrarem nova forma de comunicação para um público maior, fecharam-se num processo de individualismo e introspecção, enclausularam-se em seus mundos, distanciando-se das massas, por terem achado que estas gostavam de se enganar com os estereótipos que a nova sociedade lhe ofereciam. Ao fazerem isso, os artistas se constituíram numa casta – por vezes chamada vanguarda -, que produzia para uma elite privilegiada, quer pelos dotes intelectuais, quer pelos econômicos.

Esses meios de comunicação de massa voltaram-se para um público heterogêneo e desprovido de cultura; para atingi-lo, adotaram uma média de gosto e, ao se utilizarem dela, destruíram as características distintas de vários grupos, criando, em conseqüência, um tipo único a que integrava a massa. Esta, por sua vez, não tinha consciência de si como grupo seguro e caracterizado, tornando-se alvo fácil de mistificação tanto política como artística.

EXAGERADO – O objeto kitsch é feito com intenção de ser arte, mas não é. A pop art, a literatura popular e a pornografia não são kitsch, mas estão intimamente ligadas a ele. O kitsch ultrapassa todos os gêneros, não se prende a nenhum deles a não ser ao princípio do exagero. Por isso, chega facilmente ao bizarro. Pra Abraham Moles (1920/1992), o kitsch constitui um estado de espírito, eventualmente cristalizado em objetos. É o oposto da simplicidade, o inverso da sobriedade, o avesso da austeridade. Tudo no objeto kitsch remete aos sentidos, à profusão. Não há espaço para mesquinharia no kitsch. Ele é multicolorido, repleto de reentrâncias, de informações visuais.

O abajur de fuxico (retalhos coloridos, costurados à mão), a almofada transparente de plástico, repleta
de plumas lilás, as velas de gel com duas serpentes enlaçadas, o puf forrado de pelúcia em forma de dado, a luminária espetada por tubo de plástico... Um mundo de cores e formas a explorar. “O kitsch é a arte da felicidade”, sentencia Abraham Moles. “O kitsch tem humor”, emenda Sig Bergamin. O arquiteto e decorador distingue o kitsch do cafona. Para ele a diferença está na brincadeira. “O Pós-Modernismo revigorou o kitsch”, afirma a professora da Escola de Comunicação e Artes da USP, Ana Mãe Barbosa.

Há, na nossa época, uma obsessão pelos objetos e uma veneração pelo autêntico, pelo que é velho, pelo tradicional. Essa característica é uma decorrência das mudanças bruscas que ocorrem em nossos dias, de movimento e velocidade das transformações técnico-científicas que distanciam do que antes era o natural – que, hoje, substituído pelo artificial. No afã de se produzir, criam-se objetos na sua maioria inúteis.

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Canções da música popular que ouço o tempo todo (Vol.15)


Avenida emoção, Araketu (De Periperi)
Sambas de rosa, Sarajane (Tempero Tropical)
Carona de Candidato, Wilson Aragão (Canção de Pescador)
Devastação da calma, Cordel do Fogo Encantado (O Palhaço do Circo sem Futuro)
Tô fazendo a minha parte, Diogo Nogueira (Tô Fazendo a Minha Parte)
Só nos resta viver, Ângela Ro Ro (Só Nos Resta Viver)
No jardim do mundo, Moises Santana (Terra em Trânsito)
Cor de rosa choque, Rita Lee (Rita Lee, Roberto de Carvalho)
Proibido pra mim, Zeca Baleiro (Líricas)
Belo balão, Gonzaguinha (Olho de Linci – Trabalho de Parto)
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