A indústria editorial brasileira sempre optou por histórias de origem europeia, mais próximas da origem cultural dos editores quanto das elites. Esse predomínio estende-se ao longo da colônia e do império. Chegou porém o momento, já para o fim da chamada República Velha, em que a acumulação de capital proporcionada pela fase de ouro o café, juntamente com o espírito nacionalista em formação, criou as condições para uma obra revolucionária: a de Monteiro Lobato.
Foi Lobato quem, pela primeira vez, criou não apenas uma história, mas todo um mundo: o Sítio do Picapau Amarelo, povoado por criaturas cheias de verdades e fantasias. Ele construiu sua obra infantil nas décadas de 20 e 30.
Nas décadas de 70 e 80, se desenharia um novo quadro, com o importante apoio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Essa instituição incentivou novos autores brasileiros, pesquisou a bibliografia brasileira existente, instituiu concursos e prêmios, promoveu programas de intercâmbio e treinamento e divulgou no Brasil o melhor da literatura infantil estrangeira.
É a época de Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Ziraldo, Sylvia Orthof, Ligia Bojunga Nunes, Joel Rufino dos Santos, Wander Pirolli e tantos outros. Como Monteiro Lobato, esses autores e outros mais estão mostrando através do seu fazer literário que escrever para crianças pode ser uma ótima aventura, pode levar ao aprofundamento das questões humanas.
Após o sucesso comercial e literário de Urupês, Monteiro Lobato empenhou-se para tornar realidade um antigo projeto: editar. Com o espírito pioneiro que o acompanharia até os últimos dias, enfrentou o problema do livro de maneira diferente e inovou. Para o editor Monteiro Lobato, o livro era uma mercadoria como outra, como um alimento, uma roupa, e sua comercialização deveria ser estendida a todos os lugares para que o livro fosse um bem acessível a todos.
Lobato procurou uma fisionomia gráfica própria para os livros, diferenciando-os dos modelos franceses e portugueses, valorizando os capistas e desenhistas nacionais. Ele pôs ao alcance do grande público, a preços acessíveis, um certo requinte que somente era encontrado em edições restritas. Como ótimo editor, ele tinha enorme talento publicitário. Mas a crise de energia elétrica resultante da inesperada seca que assolou São Paulo, a partir do final de 1924, acarretou a falência da próspera editora, que não estava estruturada para suportar os riscos do seu pioneirismo.
Monteiro Lobato foi um dos fundadores da Companhia Editora Nacional e, por sua contribuição revolucionária à indústria e comércio do livro, ocupa hoje o seu nome o lugar de patrono, sendo o Dia Nacional do Livro Infantil ligado à sua memória. É, por outro lado, dos escritores de maior venda no Brasil. A criança foi a causa maior de Lobato.
No fim da vida, arrependeu-se de não ter escrito mais para elas, como pretendia no dia em que escrevera ao amigo Godofredo Rangel: “Ando com ideias de entrar por esse caminho: livros para crianças. De escrever para marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça. Mas para as crianças, um livro é todo um mundo. Lembro-me de como vivi dentro do Robinson Crusoé. Ainda acabo fazendo livro onde as nossas crianças possam morar. Não ler e jogar fora; sim, morar como morei no Robinson e no Os Filhos do Capitão Grant”. Em seus livros, Lobato dialogou com as crianças.
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