Ele foi o primeiro escritor a tratar a literatura infanto-juvenil com seriedade. Seus livros não são apenas divertidos. Eles procuram informar e educar os jovens leitores. Outra novidade foi a discussão de temas políticos e sociais que empolgavam o mundo naquele tempo e a valorização da cultura popular, uma das vertentes do modernismo a qual ele antecipou.
Ao lado dessas inovações, está o fato de que Monteiro Lobato criou um mundo mágico. Nele, reina o faz-de-conta, através do qual convivem personagens do mundo real, ou seja, os habitantes do Sítio do Picapau Amarelo, e todos os heróis do mundo das maravilhas, renovados por seu talento. Seus personagens apresentados em Reinações de Narizinho e protagonistas alternados de todos os 23 títulos que compõe sua obra são marcos na literatura brasileira.
Tia Nastácia é a ama negra comum nas fazendas brasileiras do princípio do século. Inculta e boníssima, dá vida com suas mãos aos dois mais originais personagens da obra lobatiana, Emília e Visconde. Boneca que se transforma aos poucos em gente, Emília é a própria juventude de espírito e é através dela que o autor manifesta suas ideias mais polêmicas. Visconde, um sabugo de milho de cartola, é uma crítica viva à nobreza e ao saber “bolorento”.
Dona Benta é a avó ideal. Culta como poucas, é aberta a todas as novidades vividas pelos netos. É quem forma e informa, dando lições de coisas e de comportamento. Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, e Pedrinho, seu primo e companheiro de aventuras, são bons exemplos da infância sadia de todos os tempos. Alegres, criativos, honestos, corajosos e amigos, têm as virtudes das crianças felizes. Ávidas de conhecimento e de aventuras, descobrem o mundo através da palavra de Dona Benta, do afeto da tia Nastácia e principalmente de sua própria experiência, que re-elabora as informações recebidas nesse universo idealizado.
Monteiro Lobato foi um homem comprometido com o seu tempo, absolutamente consciente do momento histórico em que viveu. Jogando com personagens tão predominantemente o mundo da fantasia, questiona todo o tempo a realidade. Usa o maravilhoso para romper as estruturas estratificadas do real e levar a criança, em que via a única esperança da humanidade, à busca de novas soluções.
Com Lobato, os pequenos leitores adquirem consciência crítica e conhecimento de inúmeros problemas concretos do País e da humanidade em geral. Ele desmistifica a moral tradicional e prega a verdade individual: instaura portanto a liberdade. “O segredo é um só, liberdade”. Tornou-se o escritor de literatura infantil mais lido em português e espanhol. A saga termina com Os 12 Trabalhos de Hércules: 39 histórias (sendo 32 originais e sete adaptações), cerca de 500 páginas, um milhão de exemplares vendidos.
Criou o universo do Picapau Amarelo em que milhões de crianças passaram a viver na imaginação. Comprometido com o homem brasileiro, amado pelas crianças, incompreendido por muitos, foi uma consciência dividida entre as exigências de seu povo e a atualização dos modelos literários.
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