29 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (9)

Na década de 80 se consolidou o trabalho artístico de vários quadrinistas brasileiros, tais como Angeli, Glauco e Laerte, que vieram ajudar a estabelecer os quadrinhos underground no Brasil (aliás, alguns denominam de "overground", porque vendidos em banca; "underground" seriam O Balão e outras dos anos setenta, vendidas de mão em mão). Outros rotularam esta turma como representantes do "pós-underground". Eles desenharam para a Circo Editorial em revistas como Circo e Chiclete com Banana.


Os três cartunistas produziram em conjunto as aventuras de Los Três Amigos (sátira western com temáticas brasileiras) e separados renderam personagens como Bordosa, Geraldão e Overman e Piratas do Tietê. Angeli cria personagens curiosos como o punk revoltado Bob Cuspe, a dupla de homossexuais enrustidos Meiaoito e Nanico, a estupradora de homens Mara Tara e a distorção das conquistas do movimento feminista Rê Bordosa, além da dupla infernal Os Skrotinhos. Mais tarde juntou-se a Los Três Amigos o quadrinista gaúcho Adão Iturrusgarai. Estes quatro publicam tiras e cartuns na Folha de São Paulo e lançam álbuns por diversas editoras (mas principalmente pela Devir Livraria).

Outro quadrinista de sucesso na época e que continuou na década seguinte é Miguel Paiva, criador dos personagens Radical Chic (a partir de 1982 no Jornal do Brasil), Gatão de Meia Idade (1994) e desenhista das tiras do detetive Ed Mort (publicado em tiras de jornal a partir dos anos 1980, com texto de Veríssimo), famosos por também terem sido adaptados para televisão, teatro e cinema. Ed Mort é uma espécie de Macunaíma da área policial – investigador cínico e arrogante, sem nenhum caráter, que convive com ratos e baratas num escritório mal cheiroso e sombrio. Trabalho pouco, mas procura manter a classe mesmo nos raros momentos em que consegue ter dinheiro para se deliciar com um pedaço de pizza e uma Fantauva, refeição predileta por necessidade.


O cartunista Luscar cria a série Dr. Baixada (1980) na época do Mão Branca, o esquadrão da morte que atuava na Baixada Fluminense. Capa preta, chapéu e metralhadora, Dr. Baixada está sempre atuando – ou no assaltante ou na vítima. A ordem é apagar, fazer o serviço, sem perguntas e sem que ele próprio saiba a quem serve. O mais impressionante é que o Dr. Baixada, matando daqui e dali, acredita estar fazendo o bem. O personagem foi criado inicialmente para a revista Mad, da qual saiu para a página de quadrinhos do Caderno B do Jornal do Brasil. Para Luscar (Luis Carlos dos Santos), “o Dr. Baixada representa o poder invisível detido pelo Sistema”. Ele vive num universo habitado por bicheiros, hippies, prostitutas, menores (e maiores) abandonados, e até um mendingo-filósofo, Diógenes, do qual se diz que foi professor. “Cassado pelo AI-5, caiu na sarjeta”, explica Luscar.


Desde os anos 80, Angeli vêm desenvolvendo uma galeria de personagens famosos por seu humor anárquico e urbano; entre eles se destacam o esquerdista anacrônico Meia Oito e Nanico, o seu parceiro homossexual enrustido (mas não muito); Rê Bordosa, conhecida como a junkie mais "porralouca" dos anos 1980; Luke e Tantra, as adolescentes que só pensam em perder a virgindade; Wood & Stock, dois velhos hippies que deixaram seus neurônios na década de 1960; os Skrotinhos, a versão underground dos Sobrinhos do Capitão; as Skrotinhas, a versão "xoxotinha" dos Skrotinhos; Mara Tara, a ninfomaníaca mais pervertida dos quadrinhos; Rhalah Rikota, o guru espiritual comedor de discípulas; Edi Campana, um voyeur e fetichista de plantão à procura do melhor ângulo feminino; o jornalista Benevides Paixão, correspondente de um jornal brasileiro no Paraguai e o único a ter conseguido entrevistar Rê Bordosa; Ritchi Pareide, o roqueiro do Leblão; Rampal, o paranormal; o machão machista Bibelô; o egocêntrico Walter Ego (também conhecido como "o mais Walter dos Walters"); Osgarmo, o sujeitinho vapt-vupt; Rigapov, o imbecil do Apocalipse; Hippo-Glós, o hipocondríaco (inspirado em Cacá Rosset); Vudu; Los Três Amigos e Bob Cuspe, o anárquico punk que cuspiu nas piores criaturas de nossas gerações. Ele próprio também se tornou um personagem, estrelando de início as tiras "Angeli em crise". Outra versão caricata sua é o personagem Angel Villa de Los Três Amigos.


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Festival de Humor da Bahia




No dia 01/04, às 14h haverá debate do FHUBÁ na sala do Coro do TCA. Tema: Baianidade: existe uma forma de humor baiano? Os participantes serão os seguintes:

1. Nivaldo Lariú: "Humor na Linguagem Popular Baiana". Nivaldo Lariú e escritor, autor do Dicionário de Baianês.

2. Nelson Cadena : "Humor na Publicidade". Nelson Cadena é publicitário e autor de livros e catálogos sobre propaganda no Brasil.

3. Gutemberg Cruz: "Humor Gráfico na Bahia". Gutemberg Cruz é jornalista, escritor e estudioso do humor gráfico da Bahia.

4. Ruy Botelho: "Humor no Futebol". Ruy Botelho é radialista e comentarista de futebol.

5. Jorge Alencar: "Humor e Performance". Jorge Alencar é criador em dança, teatro e audiovisual e diretor artístico e fundador do Grupo Dimenti.

6. Roberto Albergaria: "Humor no cotidiano de Salvador". Roberto Albergaria, graduado em História, é professor aposentado da UFBA. É comentarista da Rádio Metrópole.

Mediador: Fernando Guerreiro


A sessão de debates será no domingo, a partir das 14h, na Sala do Coro do TCA. O modelo é o clássico de mesas redondas: cada palestrante fala sobre sua área por dez minutos e depois se inicia o debate com perguntas do público e intervenções do mediador.

Programação completa no site:
http://www.fhuba.com.br/site/

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

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