Salvador é um presépio, armado na encosta da montanha, equilibrado nas ladeiras. Seus dois andares, separados por uma escarpa de 20 quilômetros de extensão e 80 metros de altura - Cidade Alta e Cidade Baixa, a primeira cheia de história, com seus sobradões coloniais e igrejas, a segunda com a magia do mar e do movimento do porto – fazem desta cidade uma das mais belas do Brasil. O seu povo, plural na sua etnia e singular nas suas manifestações. Salvador é singular porque é plural. A Bahia é plural na sua diversidade de religiões e singular na tolerância da coexistência das mesmas respeitando a opção dos indivíduos que as praticam. É muito comum na Bahia ser católico e adepto da umbanda ao mesmo tempo, independente de sua cor ou classe social. As próprias festas católicas têm também sua versão profana.
A cidade é, de fato, uma terra abençoada. O capricho da natureza é evidente no seu litoral de praias tranquilas recheadas de coqueiros. Salvador carrega a fama de possuir 365 igrejas, uma para cada dia do ano, no puro estilo barroco. Símbolos da cidade como o Elevador Lacerda, o Farol da Barra e o Pelourinho encantam os visitantes. Aqui foi o berço onde se proliferaram movimentos que modificaram padrões estéticos de alguns segmentos da arte produzida no Brasil. A Bahia impulsionou o surgimento de notáveis escritores, músicos, políticos, juristas e educadores.
MALTRATADA
O IBGE já informou que 33% da população local vive nos bolsões de miséria.
A velha Salvador, confusa e maltratada, precisa ouvir a maioria silenciosa da população sobre os problemas da desigualdade humana, infra estrutura precária, insegurança, transito caótico e surtos epidêmicos.
A terceira maior cidade do País, oitavo maior PIB, reduziu desemprego, teve renda real do trabalho ampliada mas continua com problemas gravíssimos e, agora, os cidadãos poderão definir o perfil dos representantes no Executivo e Legislativo municipais. Mas não acredito nisso. O povo parece estar cansado dos abusos políticos. A responsabilidade pelas mudanças retorna para a população que está cada vez mais desacreditada. O destino de nossa cidade está nas mãos dos cidadãos. As sociedades política e civil parecem distantes da maioria de vida urbana, resta o eleitorado marcar seu ponto.
DECLÍNIO
O golpe militar de 1964 esmagou muitos movimentos culturais iniciadas em décadas anteriores.
A repressão estudantil impediu a formação de novos líderes políticos. Continuamos com os descendentes e afilhados de ex-governadores das décadas de 50 e 60.
Assistimos à venda de nossos bancos.
Perdemos o cacau por falta de fiscalização fotossanitária
O metrô é pura promessa
No final dos anos 60 as terras e serviços públicos municipais foram privatizados.
Salvador hoje é uma cidade dominada pelos carteis imobiliários, dos transportes e do lixo. Resultado: cidade congestionada, travada, suja e violenta.
Perdemos as editoras Progresso e Civilização.
Faculdades privadas foram vendidas para grupos estrangeiros.
Na cultura popular e do lazer tudo vira axé e Carnaval de aluguel, dentro de currais móveis e camarotes de luxo. Hoje o interesse pela realização do Carnaval, que já foi popular, é mais de políticos e empresários que do povo.
A Bienal de Artes Plásticas da Bahia não houve em 2011.
O Museu Nacional da Cultura Afro Brasileira (Muncab) foi aberto a duras penas.
O Museu Afro Brasileiro da UFBA foi sucateado.
A Bienal do Livro da Bahia sobrevive com altos e muitas baixas, principalmente com a falta de ampliação da presença de editoras de peso no País.
Há uma grande desconfiança com patrimônios, por intermédio de leis de incentivo (o recente edital de concurso da Secult dando vantagem para os militantes políticos é um exemplo).
Fortalecer os artistas emergentes nos salões regionais de artes plásticas recuperando a autoestima nas comunidades carentes é muito importante.
No cinema local a Secult precisa elaborar um plano de metas para o audiovisual, incentivar o curta metragem e atrair os mais jovens para a renovação do cenário local.
O empoderamento de artistas independentes no mercado fonográfico é um elemento importante. Mas vivemos as oscilações de produção e público. Eruditos, hip hop, pagode, rock, axé, reggae são projetados dia a dia. Mas a cidade precisa pensar sua internacionalização sem perder sua historicidade e dimensão cultural.
O movimento cultural iniciado na década de 1940 por Anísio Teixeira e Edgard Santos colocou a Bahia na vanguarda da educação e das artes no País. Hoje não se sabe o que temos. Vale ressaltar a Orquestra Juvenil Neogibá, Lazzo, Carlinhos Brown, Jau, Magary Lord, Vânia Abreu, Margareth, Gerônimo, Ivete e alguns poucos...
Houve a Geração Arco e Flexa, Geração Cadernos da Bahia, Geração Mapa. A geração que está aí é dispersa porque a Bahia “vive montada num trio elétrico permanentemente” (Fernando da Rocha Peres. A Tarde. 23/11/2011).
È preciso ouvir as vontades populares. Escutar os gemidos da Península Itapagipana, Sussuarana, Valéria, IAPI, Pero Vaz, Liberdade etc.
É preciso re-dinamizar o centro antigo da cidade, integrar e desenvolver os baianos do miolo e do subúrbio ferroviário. É preciso um moderno sistema de mobilidade urbana que incorpore toda a cidade nessa integração.
PARA MELHORAR
O que é preciso ser feito para melhorar Salvador?
Requalificação urbana e ambiental nas praias
Obras de iluminação, restauração de monumentos, igrejas, fontes e construção de um centro de referência no Pelourinho
Reforma no Elevador Lacerda e nos planos inclinados Gonçalves, Pilar e da Liberdade
Ações de requalificação, ampliação do estacionamento do Mercado Modelo
Recuperação das calçadas do Farol de Itapuã, recuperação do entorno do Farol da Barra e melhorias na Lagoa do Abaeté.
Reforma do Largo de Roma e recuperação urbanista da Orla entre a Ponta de Humaitá e a Ribeira
Criar infra estrutura para turismo náutico na Baia de Todos os Santos
Deixar as ruas limpas, sem lixo ou buracos.
Incentivar os moradores de bairros antigos (Saúde, Ribeira etc) a melhorar as fachadas de suas casas com novas pinturas e restaurações
Conservar o patrimônio histórico
A cidade sofre os efeitos de uma modernização conservadora e sem inclusão social.
Como esclarecimento: Não sou vinculado a qualquer partido político. Sou cidadão livre, graças a Deus.
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