Deputado, senador, ministro, governador. Otávio Mangabeira foi, em todas essas posições, um incorruptível. Político e patriota, colocava sempre à frente do que postulava ou defendia, os sagrados ideais de liberdade. Por isso sofreu, sem perder o seu caráter. Octávio Cavalcanti Mangabeira nasceu em Salvador a 27 de agosto de 1886. Sua primeira manifestação política e, ao mesmo passo, literária, foi um manifesto contra a reforma da Constituição Baiana,. Em cujo conteúdo havia a exigência dos candidatos ao governo estadual residirem no Estado.
Por essa época fazia o curso de Engenharia Civil, diplomando-se aos 19 anos de idade,m sendo o orador da turma. Um ano antes de formar-se, ingressou no Diário de Notícias assinando uma seção de versos. Trabalhou também na Gazeta do Povo e O Democrata. Em 1906 integrou o corpo docente da Escola Politécnica da Bahia. Mas ele foi atraído pela política.
O seu primeiro posto foi o de vereador (1908 a 1912). Em 1912 foi eleito deputado federal. De 1926/30 foi Ministro das Relações Exteriores do Governo Washington Luis. Exilado político, após a Revolução de 1930. Líder dos autonomistas, entre 1934 e 1937. Novamente exilado entre 1937 e 1945. Deputado federal em 1946. De 1947 a 1951 governou a Bahia. No seu governo construiu o Fórum Rui Barbosa, inaugurou o Instituto Biológico da Bahia, restaurou o Teatro do ICEIA e construiu o Estádio da Fonte Nova.
SENADOR - Eleito, mais tarde, deputado federal (1955) e senador da República (1959), morreria antes de completar seu mandato. Incursionou, com êxito, no terreno das letras, chegando a integrar a Academia Brasileira de Letras, publicou diversos trabalhos. Entre os trabalhos publicados estão Voto de Saudade (1934), A Nação e os Problemas Brasileiros (1930), Pelos Foros do Idioma (1930), As Últimas Horas da Legalidade, Um Pregador da Paixão, etc. Faleceu em 29 de novembro de 1960.
Dois anos depois de sua morte, o distrito de Cabeças na cidade de Muritiba foi emancipado pelo então governador Juraci Montenegro Magalhães, recebendo o nome atual em homenagem ao ex-governador Otávio Mangabeira (dia 14 de março de 1962). Situado no Recôncavo, na zona fumageira do estado, nas margens da BR-101, o município de Governador Mangabeira é administrado atualmente pelo prefeito Antonio Pimentel.
ADMIRADOR - O escritor Jorge Amado em seu discurso de posse da Academia de Letra falou assim sobre Otávio Mangabeira: “Falar sobre Otávio Mangabeira seria fácil para mim, seu admirador e seu amigo, não me tomasse o peito a emoção da ternura e da saudade. Bem o conheci; honrou o político ilustre, com sua amizade, ao escritor jovem da sua terra pelos idos de 30, quando a revolução veio tirá-lo do Ministério do Exterior para o exílio. Exílio que se repetiria, como as ameaças de prisão e o ostracismo. Porque a vida de Otávio Mangabeira foi uma única batalha, ininterrupta, pela liberdade, pelos direitos do homem, pela democracia brasileira, pela moralidade dos governantes. Poucos homens tão íntegros e coerentes possui nossa vida, e poucos baianos tão conseqüentes em sua condição de baianos quanto este mestre da oratória e da habilidade parlamentar, esse administrador de raras qualidades, esse homem de imensa doçura pessoal.
“Se a política nos roubou o escritor que ele poderia ter sido, nos proporcionou o espetáculo magnífico de um dos maiores tribunos da história parlamentar brasileira. A elegância da forma, a pureza da linguagem, a clareza do pensamento, e, sobretudo, a constante fidelidade aos ideais democráticos, à liberdade, fizeram dele, como bem observou Afrânio Coutinho, ´a personificação da arte da palavra´. Fui seu colega na Câmara dos Deputados e era sempre com renovada alegria que o via subir à tribuna, com certa solenidade na figura e certa gravidade nos gestos precisos, alegria a crescer em puro deleite intelectual ao ouvi-lo, em afirmações das quais por vezes eu discordava, mas ditas de tal maneira que era impossível deixar de admirá-las. Foi o último dos grandes oradores de certa fase de nossa vida política. Hoje a oratória dos comícios e mesmo da tribuna parlamentar perdeu certa unção quase sagrada, certa grandeza de forma e de aspecto, certa magnificência, para ganhar maior vivacidade, colocar-se a par com o nosso tempo. Dessa grande oratória, vinda do Padre Vieira no púlpito da Sé da Bahia a clamar contra os invasores holandeses, foi Otávio Mangabeira mestre inconfundível.
“Se eu tivesse de buscar uma única imagem para definir Otávio Mangabeira, eu vos digo que ele é a Bahia. A Bahia em suas melhores e mais generosas qualidades, aquela finura de civilização que era dele e é do último homem do povo baiano. A Bahia da grande oratória e da extrema habilidade política, a Bahia da delicadeza, da gentileza, da ternura humana, a Bahia afável e afetuosa, a cordial, a acolhedora, a da doce brisa do mar, a dos luares sem igual. Otávio Mangabeira era a Bahia: o amor aos obres ideais, a irredutível luta pela liberdade, a consciência democrática. Quando penso nele, penso na Bahia, na ampla humanidade de sua gente, na alegria do seu povo, em sua constante e fundamental doçura. Penso na Bahia nesta hora de minha vida, quando aqui chego com a responsabilidade de substituir Otávio Mangabeira. Chego coberto com a ternura de minha gente baiana”.
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