28 junho 2011

As origens dos quadrinhos (2)

Diferentes dos hebreus, que exaltaram a escrita e inibiram a produção de imagens, os gregos empregam abundantemente as duas linguagens. A importância atribuída à visão, e por extensão a imagem pode ser constatada por histórias como a de Édipo ou de Pigmaleão. Já os romanos religaram o uso de estátuas de divindades aos locais de culto. A diferença de hebreus e muçulmanos, que evitaram a produção realista e desenvolveram manifestações gráficas abstratas como a caligrafia, a iconografia cristã utilizará amplamente a produção figurativa para divulgar sua história. Os episódios bíblicos, que chegam a ocupar as paredes internas, o teto, os portais e os vitrais de basílicas e igrejas, se torna o complemento visual do mais conhecido texto escrito do ocidente, a Bíblia.

A tradição militar dos cavalheiros, transmitida nos romances épicos franceses das chansons de gestes e no ciclo nórdico do Rei Arthur, foi registrada por meio de longas narrativas por imagens. Bordada com fios coloridos sobre uma tira de 50 centímetros de altura com mais de 70 metros de comprimento, a Tapeçaria de Bayeux (realizada por volta de 1077 d.C.) conta a história de Harold (personagem histórico destinado a tornar-se Rei da Inglaterra), regente de Wissex, que desembarca acidentalmente no litoral francês e é feito prisioneiro pelo duque William da Normandia.


A Tapeçaria de Bayeux é uma obra realizada sob a encomenda do bispo Odo de Bayeux (c. 1030-1097), meio-irmão de Guilherme, o Conquistador. Não temos uma informação segura e definitiva a respeito de sua autoria. Uma lenda atribui seu bordado a Matilde de Flandres e suas aias; há quem afirme que a Tapeçaria foi executada em Canterbury com base em desenhos de um artista associado à abadia de Santo Agostinho; por fim, é também possível que o bordado tenha sido feito por religiosas da abadia de Barking (Essex), sob a direção da abadessa Elfgiva. Seja de quem for a autoria, o fato é que a Tapeçaria de Bayeux narra a história da conquista normanda da Inglaterra em 1066 (sob o ponto de vista normando), e representa magnificamente muitas cenas da vida cotidiana nobre do final do século XI, além da derrota anglo-saxã das forças de Haroldo II, rei da Inglaterra (1066) na batalha de Hastings


Um outro exemplo de narrativa por imagens é constituída pelas “vias sacras”, ciclos de afrescos que retratam os episódios da vida de Jesus e dos santos. Se nas igrejas e nos palácios os afrescos adquirem tamanhos cada vez maiores, entre a população mais rica se difunde o hábito de encomendar quadros, principalmente retratos. O acesso às imagens por parte de uma população cada vez maior se reflete na variedade dos temas retratados. E a assinatura torna-se então garantia do valor da obra. Paralelamente à valorização das artes e de seus autores, o mercado de livros do século XV é revolucionado pela introdução do processo mecânico de impressão. A intenção é competir com os belíssimos livros manuscritos, muito caros e de produção limitada.

Aos poucos, episódios bíblico e da vida dos santos, até então pintados como afrescos principalmente no interior das igrejas ou esculpidos nos portais, geralmente emoldurados numa grade quadriculada, começam a ser impressos em gravuras popular. Destinados a serem vendidas entre os fiéis, estes cartazes trazem gravados episódios de vidas dos santos, ilustrados com vinhetas legendadas e dispostas em volta da figura principal.


A crescente difusão da impressão levará ao acesso às informações de um modo mais rápido. Um maior número de pessoas terá acesso às letras e à gravura. O desenho passa a ser reproduzido em larga escala e se populariza, roubando um pouco do espaço que até então era exclusivo da pintura. A fusão entre texto e imagem gera a ilustração. Os jornais (do italiano jornale, diário) começam a aparecer nas grandes cidades a partir da metade do século XVII, com o intuito de manter a população informada sobre os acontecimentos que ocorriam ao seu redor. As ilustrações se tornam assim parte importante dos jornais, que demonstram por meio de imagens aquilo que estava escrito. Pouco a pouco, certas imagens de jornais foram se desvinculando das noticias escritas, trazendo a informação por si próprias. Tais imagens são chamadas de charges, ou caricaturas, no Brasil.

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