23 maio 2011

Tempero da vida (1)

A comida é o verdadeiro tempero da vida. Cada prato ou alimento revela alguns ingredientes importantes da personalidade da pessoa. “Para viver mais, é preciso comer menos”. A frase é do médico e escritor Drauzio Varella acrescentando que uma dieta pobre em calorias retarda o envelhecimento e prolonga a vida humana. Dessa forma, comer é mais que ingerir um alimento, significa também as relações pessoais, sociais e culturais que estão envolvidas naquele ato. “A comida é tão importante e identificadora de uma sociedade, de um grupo, de um país, como é o idioma, a língua falada, funcionando como um dos mais importantes canais de comunicação”, informa o antropólogo Raul Lody em seu livro Brasil Bom de Boca (Editora Senac, 2008).


Comer é mais que ingerir um alimento, significa também as relações pessoais, sociais e culturais que estão envolvidas naquele ato. A cultura alimentar está diretamente ligada com a manifestação desta pessoa na sociedade. Alimento é um dos requerimentos básicos para a existência de um povo, e a aquisição desta comida desempenha um papel importante na formação de qualquer cultura. Os métodos de procurar e processar estes alimentos estão intimamente ligados à expressão cultural e social de um povo.


A alimentação brasileira é mais voltada para o prazer de comer, do que para o valor nutritivo do alimento. Come-se por prazer e não pelo que aquele alimento representa nutricionalmente. Não se dá ênfase ao valor nutricional do alimento, mas ao gosto e prazer da alimentação. Em síntese a comida brasileira, a comida do povo, se concentra em massas, gorduras, açúcares e carne. Na cultura alimentar brasileira não há lugar de destaque para as frutas e hortaliças. O prazer alimentar está centrado nesta mistura de massas, gorduras, doces e carnes. É necessário uma mudança na cultura alimentar, uma educação nos valores e hábitos alimentares do povo brasileiro.


MUDANÇA - Toda mudança implica transformação mais ou menos súbita e profunda de certo sistema de equilíbrio, uma fase, pois, de ruptura, até a instauração de novo equilíbrio. O poder manipulador de hábitos é outro aspecto importante, onde certos hábitos são transmitidos. Certos interesses comerciais de um produto se transformam em poder absoluto quando ocorre indução e coerção à aquisição do mesmo produto. O abalo dos modelos tradicionais de autoridade e poder decorrem na medida em que uma proposta de mudança é feita.


Se quisermos introduzir uma mudança, precisamos mudar os equilíbrios já estacionários no hábito, num sentido escolhido. Quando há um hábito estacionário já formado, a existência de forças que resistem à mudança são maiores que as forças orientadas para a mudança. Se quisermos introduzir uma mudança, é necessário diminuir as resistências a estas mudanças e aumentar as idéias e pressões em favor da mudança. A quebra de um hábito será dado mediante uma evolução nas informações transmitidas para que as pessoas façam uma tomada de decisão. Para que isto ocorra, é necessário o descobrimento de uma nova direção, a fixação de objetivo estimulante e a construção de programa coerente para atingi-la.

RÁPIDA - Na cultura ocidental, a ênfase não é no momento social da alimentação, mas se come porque é necessário ao corpo. Tudo é “fast food” (comida rápida), na visão de que não se deve perder tempo no preparo da comida, tudo deve ser preparado rápido e sem perda de tempo, pois na verdade a vida lá fora corre depressa, e você tem que comer rapidamente também. Não há um fator de interação social no processo de alimentar, se come para manter o corpo e a saúde. Não há laços de amizade e comunhão neste momento. “Fast food”, é o termo e a mentalidade da vida urbana, retirando das pessoas o valor nutritivo, a saúde integral, e as relações familiares e de amor envolvidos no momento de uma alimentação. Quando a mãe alimenta o seu bebê, ela não dá somente leite e nutrientes, dá também amor e afeto. Em todas as etapas da vida, deverá sempre haver este complemento de amor, carinho e confraternização nas refeições. “Fast food” é o corte da vida social intensa.


As práticas alimentares estão profundamente ligadas aos gostos que variam pouco, pois eles remetem a imagens inconscientes, a aprendizados e a lembranças de infância. Assim como há carnes “burguesas” como o carneiro e a vitela e carnes “populares” como o porco, coelho e salsichas frescas (na França). Há também uma hierarquia dos legumes frescos, indo dos mais sofisticados (as endívias) aos mais camponeses (os aipos) e aos mais operários (batata). O modo de preparo culinário é também revelador dos gostos de classe. Comer é então um modo de marcar sua vinculação a uma classe social particular.

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