20 julho 2010

A volta triunfal do western (1) (nos anos 90)

O Velho Oeste Americano rendeu muitas produções culturais. O cinema, a literatura e a televisão aproveitaram-se com entusiasmo das ideias do oeste selvagem, terra sem lei, de homens fortes e perigos naturais, e o público consumiu esses produtos com voracidade. A era dos cowboys durou de meados de 1800 a 1920, o fim da Revolução Mexicana, representando a conquista e o desbravamento de toda a fronteira sul e ocidental dos Estados Unidos em formação. O excesso de produções, facilitadas pelo baixo orçamento do gênero, nas décadas de 1930, 40 e 50 exauriram o faroeste, que encontrou ainda algum fôlego nas décadas de 1960 e 70, primeiro em uma fase revisionista, depois com histórias mais irônicas e violentas, em que seus anti-heróis eram reflexos do revolucionário radicalismo cultural. Nos anos 1980 em diante, contam-se nos dedos os grandes westerns surgidos. (No dia 03/04/1991 publiquei uma reportagem no Caderno 2 do jornal A Tarde. 03/04/1991. Gutemberg Cruz)


O western é a forma cinematográfica mais adequada para espelhar a América contemporânea. O gênero é amaldiçoado pela Academia de Hollywood. Mas em 1991 a indústria do cinema quis colocar o ator Kevin Costner em um pedestal, ele partiu para um projeto pessoal: um western falado em sioux. Disseram que ele estava louco. Doze indicações para o Oscar provaram que não. Ganhou sete Oscars (melhor filme, diretor, fotografia, montagem, som, roteiro adaptado e trilha sonora) e foi o primeiro faroeste premiado desde Cimarron, em 1931.


Dança com Lobos” (Dances with Wolves) é um western épico com três horas de duração, em que Kevin Costner não só interpreta o papel de um oficial renegado da União (exército do Norte dos EUA durante a Guerra da Secessão), que vive entre os índios de uma tribo sioux, como também fez sua estreia como diretor. Costner mostrou tudo que a dita “civilização” protestante, branca e anglo-saxã perdeu com o monstruoso genocídio racial que cometeu no Oeste. As ambições humanistas de Costner passaram por cima de tudo: má propaganda boca a boca, duração de três horas e um terço falado em linguagem nativa lakota, com legendas (coisa que o público americano detesta) e num gênero que é, definitivamente, fora de moda. Ele também abriu mão de cerca de US$2 milhões de seu salário de US$5 milhões como ator para que os produtores pudessem usar esse dinheiro para atender às despesas que a produção teria no final das filmagens.


Dances with Wolves” foi um absoluto sucesso de crítica e público. Como ator, Kevin Costner esbanja simpatia; como diretor, detalhista e impecável. O resultado, um filme irretocável, merecendo os Oscars a que foi indicado. Costner fez o épico que a América, obcecada pelos crimes contra o meio ambiente, estava esperando. O personagem principal do filme, John Dunbar, se perde no tempo e no espaço e se iden

tifica com a natureza representada pelo lobo. Seu caminho é longo e culmina com a sua transformação num outro homem – um índio, como se percebe na cena em que ele, prisioneiro dos seus antigos colegas de farda, responde aos brancos na linguagem dos sioux.

FÚNEBRE - Hollywood negou ao índio o mais elementar dos direitos, que é o reconhecimento da sua condição humana. Basta assistir aos westerns de John Ford. Um dia, ele se redimiu e fez “O Crepúsculo de uma Raça” (Cheyenne Autumn), transformando o Outono dos cheyennes no canto fúnebre não só dos índios mas do western também. O filme é de 1964. Nesse mesmo período, o cineasta Gordon Douglas mostrou, em “Rio Conchos”, que, um dia, o caçador de índios descobre num pele-vermelha uma dignidade e uma retidão a que não estava acostumado. Em 1970, Dustin Hoffman trafega entre duas culturas, a branca e a índia. “Pequeno Grande Homem” (Little Big Man), de Arthur Penn, ganhou fama como um dos westerns desmistificadores da história do cinema. Richard Harris vive um prisioneiro dos sioux que, depois de vários rituais e torturas, é aceito pela tribo, tornando-se líder. O filme é “Um Homem Chamado Cavalo” (1970), western antropológico de Elliot Silverstein, que fez tanto sucesso que deu origem a uma série.


---------------------------------
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929

Nenhum comentário: