05 agosto 2009

Homenagem a Bartolomeu de Gusmão

Nesta quarta, dia 05, na Igreja do Seminário de Belém na cidade de Cachoeira, o padre voador Bartolomeu de Gusmão será homenageado, nos 300 anos do aeróstato (o balão a ar quente que inventou). No local haverá palestras e a inauguração de um memorial. Sobre o padre cientista escrevi esse texto no meu livro Gente da Bahia, Volume 2:

Padre, cientista. Bartolomeu Lourenço de Gusmão era filho do cirurgião-mor do presídio de Santos, o português Francisco Lourenço Rodrigues, e de dona Maria Álvares. O casal teve seis filhos, dos quais cinco tornaram-se padres e freiras (duas). Apenas um não se ordenou. Bartolomeu de Lourenço foi batizado no dia 19 de dezembro de 1685, na Vila do Porto de Santos, São Paulo. Sua família era muito amiga de Alexandre de Gusmão, um sacerdote que veio de Portugal para o Brasil, em 1644, e ingressou logo na Companhia de Jesus, tornando-se mais tarde reitor da Ordem dos Jesuítas, na cidade de Cachoeira, Recôncavo Baiano. O padre Alexandre teria, numa de suas viagens a Santos, convencido a família Lourenço a deixar o pequeno Bartolomeu ir estudar no distrito de Belém - próximo a Cachoeira - onde fundou um seminário em 1687. Mais tarde ele adotou o sobrenome Gusmão.

Depois de fazer os estudos no Colégio dos Jesuítas, em Santos, ainda na infância, Bartolomeu veio morar na Bahia, cuja capital era então a maior e mais importante cidade da América Latina. Ele veio completar o Curso de Humanidades, no Seminário de Belém da Cachoeira, dirigido pelo protetor, padre Alexandre de Gusmão, revelando-se inclinação pelos estudos de Física e Mecânica. O Seminário de Belém foi o local onde o cientista desenvolveu suas principais pesquisas nas áreas de física e matemática. Cursou o seminário jesuíta de Belém onde se fez noviço, mas deixou a Companhia para receber ordens como padre secular.

Estudou em Lisboa no período de 1701 a 1705. De volta a Salvador, ainda na adolescência, construiu uma bomba elevatória para abastecer o colégio dos padres com a água do rio Paraguassu. Foi sua primeira invenção. Pouco tempo depois, aos 15 anos, construiu pela primeira vez um pequeno balão esférico, cheio de ar, aquecido por um fogo, que saía de um prato cerâmico a ele pendurado. Ou seja, por volta de 1700, a Bahia seria palco da primeira construção de um aeróstato (nome científico do balão), fato este que consta, inclusive, numa das atas da Câmara Municipal de Salvador e do livro História da Companhia de Jesus no Brasil, do jesuíta Serafim Leite. Ele se dedicava com entusiasmo ao invento que haveria de imortalizá-lo, consagrando-se como o verdadeiro precursor da aeronáutica no mundo, tentando os primeiros ensaios do vôo humano.

As notícias sobre os experimentos com o engenho se espalharam pela região. E o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão começou a sofrer muitas chacotas e perseguição. Tendo chegado a Lisboa, recomendado ao Marquês de Abrantes, aproximou-se de D.João V, a quem contou os estudos e as experiências sobre a possibilidade da locomoção pelos ares. O monarca mostrou-se interessado. Ele chegou a exibir sua experiência, em 1709, ao rei. Na ocasião, segundo alguns historiadores, “o balão atingiu a altura do telhado da Sala das Embaixadas, no Paço Real de Lisboa”. Mas o balão chocou-se de encontro às cortinas da sala, causando um incêndio. Diante do fracasso ele não desanimou e entregou-se aos trabalhos de reconstrução do aparelho. A partir daí o padre ficou famoso, e passou a ser chamado “padre voador”.

Ele demonstrava também apreciáveis qualidades de orador sacro, tendo posição de destaque. Manejava com maestria as línguas latina, francesa e italiana, como traduzia com facilidade o grego e o hebraico. De seus sermões apenas três peças são conhecidas: Sermão da Virgem Maria, Sermão de Nossa Senhora do Desterro e Sermão da festa do Corpo de Deus, e foram publicados por Afonso d’Escragnolle Taunay, juntamente com o texto do opúsculo impresso em 1710, contendo a descrição de outro invento do sacerdote brasileiro. Intitula-se o folheto: Vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água. Fez versos e participou da Academia dos Anônimos.

Em Lisboa, chegou a ocupar a cadeira de Matemática da Universidade de Coimbra, e, posteriormente, como membro da Real Academia de História. Por ironia, a história mundial não dá ao padre o título de inventor dos balões. Na época, D. João V mandou que lhe dessem a subvenção para que continuasse os estudos. A junta dos três estados negou-se a entregar-lhe o auxílio, sob a alegação de que não havia dinheiro. Sob as maiores dificuldades e sofrendo perseguições de toda espécie, viu-se envolvido em processo no Tribunal da Inquisição. As experiências foram proibidas pela Inquisição, sob a alegação de que “eram diabólicas”. O padre Gusmão foi vítima de insidiosa campanha de difamação. Caiu assim em desgraça, depois de envolvido em complicada intriga, que o obrigou a expatriar-se, fugindo para a Espanha, onde se recolheu ao hospital de Toledo. Foi encarcerado, sob rigoroso jejum, acusado de praticar infernais artes mágicas. Os jesuítas conseguiram, após grande esforço, libertá-lo. Gravemente enfermo, Gusmão foi recolhido ao Hospital de Misericórdia. Não eram só os sofrimentos do corpo, mas os do espírito, diante da ingratidão dos homens. Tal estado de alma apressou-lhe a morte. Na noite de 19 de novembro de 1724, na cidade de Toledo, Espanha, ele faleceu, sendo sepultado na Igreja de São Romão. Em 1783, os Irmãos Montgolfier mostraram suas experiências com balões ao rei da França, Luís XVI, ficando, até hoje, com a glória de serem os primeiros inventores.

Tunay considera-o homem de gênio: “o primeiro americano a realizar, no cenário mundial, uma invenção notável”. O padre Bartolomeu de Gusmão ocupou-se de outras máquinas: um moinho mais veloz que os existentes; um sistema de lentes para assar carne ao sol (inspirado, como a própria Passarola, de Arquimedes); maquinaria para a exploração racional das turfeiras. Seu aeróstato é reconhecido internacionalmente como o primeiro do gênero. A montgolfière, dos irmãos Joseph e Etienne Montgolfier, é de 1783. Curiosamente, os dois franceses celebrizaram-se ainda pela invenção de um aparelho para elevar água, de 1792, de novo, exatamente como o padre Bartolomeu.
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Um comentário:

Consuelo Apocalypse disse...

Prezado Senhor Gutemberg, o casal, pais de Bartholomeu Lourenço de Gusmão, teve 12 filhos, sendo que oito seguiram a vocação religiosa:

1. Domingas Gonçalves nascida em 1680, casada com Antonio de Seixas;

2. Padre Simão Álvares, professo do quarto voto da Companhia de Jesus, nascido em 1682;

3. Maria Gomes, nascida em 1683, casada com Francisco Vicente;

4. Padre Bartholomeu Lourenço, clérigo secular, nascido em 1685;

5. Joana Gomes, nascida em 1688, casada com Antonio Ferreira Gambôa;

6. Frei Patrício de Santa Maria, religioso franciscano, nascido em 1690;

7. Paula Maria, religiosa do Convento de Santa Clara da Vila de Santarém, nascida em 1692;

8. Arcângela da Conceição, religiosa do Convento de Santa Clara da Vila de Santarém, nascida em 1693;

9. Alexandre de Gusmão, nascido em 1695;

10. Brígida Monteiro, nascida em 1698;

11. Inácio Rodrigues, clérigo regular na Companhia de Jesus, nascido em 1700;

12. João Álvares de Santa Maria, religioso carmelita, nascido em 1703.

Minha tataravó, Francisca Justiniana de Seixas da Silva e Ávila, é neta de Domingas Gonçalves e de Antônio Seixas.

Visite o nosso blog e leia http://yesminas.blogspot.com.br/2012/04/felisberto-francisca-e-jose-antonio.html

Gostaria muito de conhecer Cachoeira. Nossa família mineira tem um vínculo muito forte com a cidade. Meu tataravô, Cleóphano Pitaguary de Araújo era de São Gonçalo dos Campos e também estudou em Cachoeira.

Abraços,

Maria Consuelo Apocalypse