ANOS
40
Vicente Celestino faz sucesso no filme de
Gilda de Abreu, O Ébrio. As chanchadas da Atlântida marcam a década. Orlando
Silva se destaca com Carinhoso, de Pixinguinha, e Ademilde Fonseca chega às
paradas com Tico Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Aquarela do Brasil é o
maior sucesso de Ari Barroso na voz de Francisco Alves. Marlene e Emilinha
Borba tornam-se rainhas do rádio. Nas artes plásticas, a fama foi para o baiano
Mário Cravo Júnior. Em 1941, estreiam a primeira novela do radio e o Repórter
Esso. A publicação semanal O Cruzeiro lidera o mercado nacional de revistas,
com grandes reportagens e ensaio fotográfico. A democracia americana achava-se
ameaçada e, para levantar este moral, só mesmo superpoderes imediatos: os
super-heróis. As histórias em quadrinhos desempenham seu papel na propaganda
ideológica anti-nazista. E a garotada colecionava estampas Eucalol. Na quarta
década do século 20 não havia pílula, mas havia a tendência de evitar prole
indesejada. O advento da penicilina, no fim da década, resgatou o meretrício,
os bordeis onde os jovens se iniciavam. Dentro de casa, sem a TV, a família
continuava unida e reunida por falta de alternativas.
Em meados dos anos 40 apareceu na revista
O Cruzeiro o criador do mais famoso e popular personagem do cartum brasileiro,
o sádico, maldoso e malicioso O Amigo da
Onça. Por três décadas foi o personagem mais popular do país. A
irreverência do Amigo da Onça encantava o brasileiro. O seu mau caráter era
amado. O sucesso do Onça tem tudo a ver com o jeitinho brasileiro. Por essa
razão, exerceu a autocrítica de um Brasil que tem tudo para dar certo, mas que
sempre é invadido por Amigos da Onça que se deleitam em precatórios ou invadem
a alma de policiais que se perdem em autoritarismo.
Desde
que foi publicado pela primeira vez no dia 23 de outubro de 1943 até o último desenho, em 03 de fevereiro de 1962, o Amigo da Onça teve 18 anos de vida bem-vivida. Gozou de um sucesso que não teve paralelo na história da imprensa brasileira. De 23 de outubro de 1943 até a passagem de ano de 61 para 62, quando Péricles se suicidou, o Amigo da Onça imperou na revista O Cruzeiro. Ele foi o mais popular personagem do desenho brasileiro de todos os tempos. O Amigo era cruel, sádico, maldoso, malicioso. Apareceu pela primeira vez na edição da revista O Cruzeiro de 23 de outubro de 1943, e por três décadas foi o personagem mais popular do país. A irreverência do Amigo da Onça encantava o brasileiro. O seu mau caráter era amado. Por ser um personagem peralta e travesso, talvez até parecido com o povo brasileiro, tornou-se uma instituição nacional. Fizeram garrafinhas com sua cara, bibelôs que decoravam
guarda-louças ao lado dos famosos pingüins. O Brasil inteiro o esperava a cada
semana nas páginas (a última) de O Cruzeiro. O
país vivia o getulismo. A tiragem semanal da revista chegava a 500 mil exemplares. Com a morte do idealizador, em 1961, a revista tentou
manter seu personagem, entregando-o a Carlos Estêvão e a Appe, que continuaram
a fazê-lo até a morte do primeiro, em 1972. Nessa época começava a decadência
da revista. Com ele morria também o Amigo da Onça. Só lembrado onze anos depois
com a exposição “Pericles e o Amigo da Onça”, no Museu de Arte Contemporânea,
em São Paulo. Em 1987 a pequena editora Busca Vida decidiu manter o personagem
mais famoso do humor brasileiro e lançou o livro O Amigo da Onça – A Obra
Imortal de Péricles, com prefácio de Millôr Fernandes e um texto/pesquisa do
cartunista Jota. Em 1988 a Editora
Nanica lançou a revista bimestral O Amigo da Onça,
editado por Jota. Transformado em peça de teatro pelo humorista Chico Caruso, por encomenda do diretor Paulo Betti, o Amigo da Onça estreou
com sucesso no Rio
(1988), depois
São Paulo. Com Chiquinho Brandão no papel título e Antonio Grassi interpretando Péricles, o Amigo da Onça teve mais seis atores, que se distribuíram por uma extensa galeria de personagens, extraídos ora do universo do cartum, ora da vida real.
Um cara baixinho, cínico, safado, que
vivia aprontando poucas e boas com a cara mais deslavada deste mundo. O Amigo
da Onça tornou-se a primeira página que todos liam em O Cruzeiro. Ajudou a
aumentar, em muito, a popularidade e a circulação daquele semanário. Ganhou
inclusive alguns leitores em quadrinhos também, embora Pericles nunca
aproveitasse tudo que a fama do personagem permite. Nosso primeiro herói pop.
Insensível, cínico, cruel, sádico, malicioso, sobretudo engraçado. Ele reinou
nos anos 50/60 na mídia impressa ilustrada. Durante 23 anos, a página semanal
da revista O Cruzeiro, em que o Amigo da Onça aparecia, era a primeira a ser
folheada, antes de ser colada a paredes dos espelhos, de botequins e barbeiros.
Criação do pernambucano Pericles de Andrade Maranhão.
O dono do mundo, o fura fila, o dedo duro,
o oportunista, o engraçadinho, o Palhares (aquele que não respeita nem a
cunhada). Em 1943, muito antes da Lei de Gerson, Péricles Maranhão sacou o
estereótipo da malandragem nacional: criou o Amigo da Onça. Logotipo de uma
época, o Onça tinha charme. Bem vestido num Summer branco, gravatinha
borboleta, sapato de bico fino e muita brilhantina no cabelo, era a vedete da
revista O Cruzeiro, que vendia mais de 800 mil exemplares por semana. O sucesso
do Onça tem tudo a ver com o jeitinho brasileiro. Por essa razão, exerce a
autocrítica de um Brasil que tem tudo para dar certo, mas que sempre é invadido
por Amigos da Onça que se deleitam em precatórios ou invadem a alma de policias
que se perdem em autoritarismos.
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