02 dezembro 2019

Sesquicentenário dos quadrinhos brasileiros (05)


ANOS 40



Vicente Celestino faz sucesso no filme de Gilda de Abreu, O Ébrio. As chanchadas da Atlântida marcam a década. Orlando Silva se destaca com Carinhoso, de Pixinguinha, e Ademilde Fonseca chega às paradas com Tico Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Aquarela do Brasil é o maior sucesso de Ari Barroso na voz de Francisco Alves. Marlene e Emilinha Borba tornam-se rainhas do rádio. Nas artes plásticas, a fama foi para o baiano Mário Cravo Júnior. Em 1941, estreiam a primeira novela do radio e o Repórter Esso. A publicação semanal O Cruzeiro lidera o mercado nacional de revistas, com grandes reportagens e ensaio fotográfico. A democracia americana achava-se ameaçada e, para levantar este moral, só mesmo superpoderes imediatos: os super-heróis. As histórias em quadrinhos desempenham seu papel na propaganda ideológica anti-nazista. E a garotada colecionava estampas Eucalol. Na quarta década do século 20 não havia pílula, mas havia a tendência de evitar prole indesejada. O advento da penicilina, no fim da década, resgatou o meretrício, os bordeis onde os jovens se iniciavam. Dentro de casa, sem a TV, a família continuava unida e reunida por falta de alternativas.




Em meados dos anos 40 apareceu na revista O Cruzeiro o criador do mais famoso e popular personagem do cartum brasileiro, o sádico, maldoso e malicioso O Amigo da Onça. Por três décadas foi o personagem mais popular do país. A irreverência do Amigo da Onça encantava o brasileiro. O seu mau caráter era amado. O sucesso do Onça tem tudo a ver com o jeitinho brasileiro. Por essa razão, exerceu a autocrítica de um Brasil que tem tudo para dar certo, mas que sempre é invadido por Amigos da Onça que se deleitam em precatórios ou invadem a alma de policiais que se perdem em autoritarismo.




Desde que foi publicado pela primeira vez no dia 23 de outubro de 1943 até o último desenho, em 03 de fevereiro de 1962, o Amigo da Onça teve 18 anos de vida bem-vivida. Gozou de um sucesso que não teve paralelo na história da imprensa brasileira. De 23 de outubro de 1943 até a passagem de ano de 61 para 62, quando Péricles se suicidou, o Amigo da Onça imperou na revista O Cruzeiro. Ele foi o mais popular personagem do desenho brasileiro de todos os tempos. O Amigo era cruel, sádico, maldoso, malicioso. Apareceu pela primeira vez na edição da revista O Cruzeiro de 23 de outubro de 1943, e por três décadas foi o personagem mais popular do país. A irreverência do Amigo da Onça encantava o brasileiro. O seu mau caráter era amado.  Por ser um personagem peralta e travesso, talvez até parecido com o povo brasileiro, tornou-se uma instituição nacional. Fizeram garrafinhas com sua cara, bibelôs que decoravam guarda-louças ao lado dos famosos pingüins. O Brasil inteiro o esperava a cada semana nas páginas (a última) de O Cruzeiro. O país vivia o getulismo. A tiragem semanal da revista chegava a 500 mil exemplares. Com a morte do idealizador, em 1961, a revista tentou manter seu personagem, entregando-o a Carlos Estêvão e a Appe, que continuaram a fazê-lo até a morte do primeiro, em 1972. Nessa época começava a decadência da revista. Com ele morria também o Amigo da Onça. Só lembrado onze anos depois com a exposição “Pericles e o Amigo da Onça”, no Museu de Arte Contemporânea, em São Paulo. Em 1987 a pequena editora Busca Vida decidiu manter o personagem mais famoso do humor brasileiro e lançou o livro O Amigo da Onça – A Obra Imortal de Péricles, com prefácio de Millôr Fernandes e um texto/pesquisa do cartunista Jota. Em 1988 a Editora Nanica lançou a revista bimestral O Amigo da Onça, editado por Jota. Transformado em peça de teatro pelo humorista Chico Caruso, por encomenda do diretor Paulo Betti, o Amigo da Onça estreou com sucesso no Rio (1988), depois São Paulo. Com Chiquinho Brandão no papel título e Antonio Grassi interpretando Péricles, o Amigo da Onça teve mais seis atores, que se distribuíram por uma extensa galeria de personagens, extraídos ora do universo do cartum, ora da vida real.



Um cara baixinho, cínico, safado, que vivia aprontando poucas e boas com a cara mais deslavada deste mundo. O Amigo da Onça tornou-se a primeira página que todos liam em O Cruzeiro. Ajudou a aumentar, em muito, a popularidade e a circulação daquele semanário. Ganhou inclusive alguns leitores em quadrinhos também, embora Pericles nunca aproveitasse tudo que a fama do personagem permite. Nosso primeiro herói pop. Insensível, cínico, cruel, sádico, malicioso, sobretudo engraçado. Ele reinou nos anos 50/60 na mídia impressa ilustrada. Durante 23 anos, a página semanal da revista O Cruzeiro, em que o Amigo da Onça aparecia, era a primeira a ser folheada, antes de ser colada a paredes dos espelhos, de botequins e barbeiros. Criação do pernambucano Pericles de Andrade Maranhão.




O dono do mundo, o fura fila, o dedo duro, o oportunista, o engraçadinho, o Palhares (aquele que não respeita nem a cunhada). Em 1943, muito antes da Lei de Gerson, Péricles Maranhão sacou o estereótipo da malandragem nacional: criou o Amigo da Onça. Logotipo de uma época, o Onça tinha charme. Bem vestido num Summer branco, gravatinha borboleta, sapato de bico fino e muita brilhantina no cabelo, era a vedete da revista O Cruzeiro, que vendia mais de 800 mil exemplares por semana. O sucesso do Onça tem tudo a ver com o jeitinho brasileiro. Por essa razão, exerce a autocrítica de um Brasil que tem tudo para dar certo, mas que sempre é invadido por Amigos da Onça que se deleitam em precatórios ou invadem a alma de policias que se perdem em autoritarismos.








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