06 dezembro 2019

Raymundo Aguiar, o K-Lunga, registrou fatos sociais e políticos da época




Ele satirizou políticos, personalidades e costumes, e como defendia sob o pseudônimo de K-Lunga a Revolução de 30, foi parar num xadrez da Secretaria de Segurança, para onde o mandou, depois de saber que era o chargista a serviço da revolução, o então secretário Pedro Gordilho. A irreverência brincalhona de suas caricaturas resultou em sua detenção por 36 horas. Desde o governador Antonio Muniz (1916 a 1920) até Antonio Balbino (1916 a 1959) foram alvos de suas críticas. Uma de suas charges mais ousadas e contundentes, As Transformações, provocou o empastelamento do jornal A Hora, dirigido por Artur Ferreira, de oposição ao governador Antonio Moniz. Há 30 anos que ele faleceu.



O trabalho desse português meio franzino e de talento singular, a despeito do delegado Pedro Gordilho tê-lo chamado defazedor de bonecos, começou a incomodar os donos do poder. De modo geral, emprestou o valor de seu lápis aos maiores jornais e revistas locais. Como caricaturista, trabalhou ainda nos jornais A Tarde, O Imparcial, Jornal de Notícias, A Noite e nas revistas A Luva, A Fita, A Garota, A Farra, Melindrosa, Revista da Bahia, Única e A Renascença.



Estamos falando de Raymundo Chaves Aguiar. Ele nasceu em Lisboa, no dia 06 de dezembro de 1893, 126 anos. Mudou-se para o Brasil em 1913, cem anos. Ele chegava com todo um talento reprimido pela família que queria forçá-lo a acabar seus dias como empregado no comercio lisboeta. Traumatizado com o fato, procurava vingar-se em bebedeiras e na boemia. Diante disso, a família resolveu mandá-lo para o Brasil com um emprego de comerciário em uma firma de Salvador.



Obedecendo aparentemente à vontade da família, mas continuando a esboçar os seus desenhos e caricaturas, ele chegou em 29 de novembro de 1913. Foi trabalhar numa casa comercial mas secretamente continuava desenhando. Até que um de seus desenhos chegou às mãos de Henrique Câncio, então cronista do jornal A Tarde. Começou ai a carreira de caricaturista. Sabendo captar com  maestria o espírito do povo nas suas gozações caricaturais, Raymundo Aguiar despertou a atenção de diretores de revistas e jornais de Salvador.



Quando expôs seus trabalhos nos salões da linha circular em 1927, recebeu diversos elogios, inclusive um artigo do professor Vieira de Campos, da Escola de Belas Artes. Mais tarde ingressa na Escola de Belas Artes até concluir o curso em 1933. No ano seguinte é convidado para ser assistente das cadeiras Geometria Descritiva, Perspectiva, Sombra e Luz e Estereotomia. E em 1939 tornou-se catedrático de Perspectiva em Sombras, matéria que lecionou até 1963, quando foi aposentado compulsoriamente co o título de professor emérito da Universidade Federal da Bahia.



Dedicou-se desde 1964 exclusivamente a pintar interiores onde dominou perfeitamente os jogos de luz e sombra  que foram uma das suas características principais e deu preferência especial aos ambientes de meia luz dos claustros e sacristias. Nessa época ele publicou livros didáticos ensinando perspectiva.



No dia 06 de dezembro de 1989 ele faleceu, aos 96 anos, deixando cinco filhos, 31 netos e oito bisnetos. O artista foi premiado em todas as modalidades a que se dedicoudesenho, charge, caricatura, gravura, xilogravura e pintura. Raymundo Aguiar, ou K-Lunga como assinava seus trabalhos, se dedicou ao desenho, charge, caricatura, gravura, xilogravura e pintura, dedicando-se em técnicas como gravura a água forte, a água tinta, pastel, óleo e xilogravura. Sua obra de desenhista, além do valor intrínseco, é importante por ter registrado, de forma autêntica, acontecimentos sociais e políticos de sua época.



Os desenhos de K-Lunga caracterizam-se pela maneira irônica de mostrar a sociedade burguesasua elegância e esnobismo eram os pontos ressaltados. Suas charges políticas têm caráter chistoso, movimentado e retratam legítimos quadros de costumes dos bastidores da democracia brasileira. Quem desejar conhecer um pouco mais sobre os desenhos do artista, vale ler o livro que lancei em 1993, Humor Gráfico na BahiaO Traço dos Mestres.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito feliz em ler esse texto e saber mais sobre a história do meu bisavô. Não tive a honra de conhecer pois nasci em 1993, mas meu pai fala muito dele, era apegado ao avô. Na casa de meu pai ainda tem algumas obras de meu bisavô.