Acompanhando o sucesso do Capitão Sete,
surgiu outra personagem num horário diferente do vídeo, patrocinado pela
fábrica de brinquedos Estrela. Era o Capitão
Estrela. A fábrica de brinquedos Estrela resolveu investir num super-herói
próprio, uma espécie de garoto-propaganda. Surgiu assim, na TV Tupi do Rio de
Janeiro, num horário diferente, o Capitão Estrela. Veterano da Segunda Guerra,
Capitão era um mutante (em uma época em que essa palavra não estava na moda)
com força, inteligência e agilidade acima do normal. E tinha um parceiro
juvenil, Menino Brazil (isso mesmo, com "z" ) que, apesar de vir de
uma família de humildes sergipanos, era loiro e com olhos azuis. O Capitão era
interpretado pelo gaúcho Dary Reis, enquanto que seu nemesis, o terrível
Gargalhada Sinistra, ficava a cargo de Turíbio Ruiz. Assim como o Capitão 7, o
novo personagem virou, além de televisivo, também um herói multimídia, chegando
inclusive a ganhar seu próprio gibi em 1961, a revista Fantasia, editada pela
mesma editora Continental do Capitão 7, inclusive com os mesmíssimos
desenhistas (liderados por Jayme Cortez).
O gibi do Capitão Estrela acabou não
agradando o público leitor, e sua revista só durou oito números. Talvez o
principal problema tenha sido a confusão visual. Por exemplo, na TV, embora em
preto e branco, era evidente que o uniforme que Reis usava era branco. Só que
nas capas dos gibis a roupa era vermelha. E seu parceiro nos quadrinhos era o
garoto Joel. No final das contas, a dupla do gibi ficou mais parecida com Mr.
Escarlate e Pinky do que com a versão da TV. Na época, as editoras como a
Continental/Outubro tinham tomado uma decisão importante: só trabalhar com
desenhistas brasileiros. Juarez Odilon, um dos desenhistas da casa, era quem
capitaneava o gibi do Capitão Estrela. O herói tinha na testa e no peito, a
famosa estrela de quatro pontas, logotipo da empresa Brinquedos Estrela, que já
patrocinava uma série de programas ao vivo, pela televisão.
Em 1960, a pedido do editor de O Cruzeiro,
Ziraldo criou Pererê, a primeira
revista em quadrinho nacional de um único autor e toda colorida. A publicação
foi um marco na trajetória das HQs no Brasil. Pererê circulou entre outubro de
1960 a abril de 1964, com uma tiragem média de 120 mil exemplares, e chegou a
vender 150 mil, número muito expressivo para a época. Chegava às bancas nos
primeiros dias de cada mês. A revista se identificava com a nossa cultura
através das lendas, cenários, crendices e linguagem. As aventuras do personagem
Pererê aconteciam na Mata do Fundão, e seus amigos eram pessoas e bichos. Em
meados de 1975, Ziraldo relançou os quadrinhos com as histórias do Pererê e sua
turma. Publicada pela Editora Abril e teve apenas dez edições. Nos anos de 1985
e 1991, as histórias foram republicadas, pela mesma editora, em forma de
almanaque. A partir daí são publicadas álbuns e edições especiais das editoras
Primor, Nova Didática, Salamandra e Globo. Revista criada em 1960 e durou até
1964. Lançada através da Empresa O Cruzeiro. Foi o melhor exemplo de
brasilidade que temos nos quadrinhos. Em 1975 a série voltou através da Editora
Abril. Durante 43 números e 182 histórias, a alegre fauna ziraldiana que representou
no microcosmo da Fazenda do Fundão o clima de euforia nacionalista então
vigente no país.
O personagem surgiu no embalo da bossa
nova, do Cinema Novo e do rock´n´roll, deixando sua marca como um surpreendente
libelo ecológico. Nos argumentos, a ambientação rural e simplória determinava a
distancia segura para reproduzir a ebulição política da época. Com desenhos
estilizados, onomatopéias multicoloridas e coleções de neologismos
tropicalistas nos diálogos, as molecagens dos personagens chegaram a atrair 150
mil fiéis compradores por edição. Uma estranha coincidência cronológica
cancelou o gibi em abril de 1964, o mês do golpe militar. A abertura promovida
pelo governo Geisel inspirou o renascimento do Pererê, em formatinho, em julho
de 1975. Os roteiros tornaram-se menos politizados, mas faltava à revista uma
definição pelo público infantil (como sugeria sua arte) ou adulto (como queriam
as entrelinhas). Problemas: a versão não completou o primeiro ano de vida. Os
bons resultados obtidos pelo Menino Maluquinho, herdeiro quadrinizado do best
seller literário homônimo, deram o impulso que o novo projeto exigia. O
Almanaque do Pererê ( ) fez sua opção
pelas crianças.
Entre 1965 e 1969 Ziraldo publicou Jeremias, o Bom nas páginas do Jornal
do Brasil, seguindo para a revista O Cruzeiro logo depois. Foi publicado também
no Sol, Pasquim, nas revistas Manchete e FairPlay, entre outras. Ele já
assinava uma página dominical de cartuns no jornal, abordando temas diversos do
Brasil, “faltava um personagem. Como o Amigo da Onça, que era um malandro,
fazia sucesso, resolvi criar um anti-Amigo da Onça”, conta Ziraldo,
referindo-se à criação de Péricles Maranhão, celebrizada nas páginas daquela
mesma revista. Um personagem inteligente, gentil e elegante, que
se sacrifica sem titubear. Já perdeu as contas de quantas vezes doou seu
coração, que sempre nasce de novo por ele ser só coração. No início o
personagem fazia crítica de costumes, depois “aderiu” à política durante as
cerca de 20 semanas em que foi publicado, segundo Ziraldo, sem que os editores
de O Cruzeiro notassem as críticas ao regime militar. Essa militância de
Jeremias acabou com adesão do cartunista da revista.
O personagem de Ziraldo é o símbolo de uma
brasilidade esquecida, simboliza o bem, a gentileza e a cortesia esquecidos nas
delegacias, nos porões de tortura e nos ambientes profissionais. Um clássico do
humor gráfico. Passando da crônica de costumes aos temas políticos, ele vive
muitas situações, sempre mostrando porque é conhecido como o Bom. Não "o
bom" de espertalhão, aproveitador, mas o bom solidário, prestativo, amigo,
enfrentando tudo com uma abnegação silenciosa e rendendo-se mudo à sina de
ajudar parentes, colegas de trabalho e desconhecidos. “O Jeremias é tão bom que
pode ajudar as novas gerações a ir descobrindo o Brasil", afirmou seu
criador.
Capitão
Cipó é
uma criação do cartunista carioca Daniel Azulay para o Correio da Manhã, na sua
melhor fase, e marcaram época, a partir de 1968. Por outro lado, Cipó era uma
figura curiosíssima: de comportamento tropicalista, sofria de misoginia (fobia
às mulheres) e andava quase sempre envolto num cinto onde havia de tudo, desde
esparadrapos até pílulas anticoncepcionais. A crítica aplaudiu. Fruto da
psicodelia e da liberação sexual, Capitão Cipó estreou em 11 de janeiro de 1968
no jornal carioca Correio da Manhã e circulou até 15 de março de 1969 em tiras
diárias. Influenciado pelos quadrinhos adultos que se expandiam pela Europa, o
Capitão é criação do cartunista Daniel Azulay. Era um super anti super-herói,
criticando simultaneamente os valores tradicionais das HQs e os valores
novo-rio-arrivistas das calçadas de Ipanema.
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