ANOS
50
A moral do brasileiro andava baixa no
início dos anos 50. O futebol verde amarelo amargava as derrotas das copas de
50 e 54, Martha Rocha perdia o título mundial de beleza por apenas duas
polegadas, o suicídio do presidente Getúlio Vargas e as tentativas de golpe de
estado previam que o país estava fadado ao fracasso. Em 1956, Juscelino
Kubitscheck se elege Presidente e injeta diretamente na veia do povo uma dose
cavalar de otimismo e esperança.
O Brasil entra de cabeça na era
industrial. O progresso chega ao interior com a construção de Brasília, a
indústria brasileira deslancha e tudo leva a crer que o País seria uma das
potências mundiais no final do século.
O nacionalismo se refletiu no Teatro de
Arena de Oduvaldo Viana “Vianinha”
Filho, no Cinema Novo de Glauber Rocha, na Bossa Nova de João Gilberto,
na Poesia Concreta de Ferreira Goulart, no Neo-Concretismo de Helio Oiticiça. O
Brasil finalmente ganha a Copa do Mundo de 1958. Tem início a fase de ouro do
nosso futebol, com o surgimento de Pelé e Garrincha. No ano seguinte é consagrado
campeão de basquete. Maria Esther Bueno vence o Mundial de Tênis em Winbledon
em 59 e 60 e Eder Jofre traz para casa o título mundial de pesos pesados em 60.
A televisão chegou ao Brasil em 1950,
trazido pelo pioneirismo do paraibano Assis Chateaubriand. A Radio Nacional
transmite a novela O Direito de Nascer e a TV apresenta a primeira telenovela
em 1951. Com muita ironia, humor e provocação, Chiclete com Banana (Gordurinha
e Almira Castilho) expressava a crítica à influência de música norte americana
no Brasil. A música veio ao público na década de 50, na interpretação de
Jackson do Pandeiro. Os filmes da Atlântida reinam absolutos nesta década.
Surge a Vera Cruz com o cinema profissional.
No Brasil ainda não havia nada mais
ambicionado do que um Cadilac rabo de peixe. O chiclete de bola, o blue jeans,
o rabo de cavalo, o topete e a cuba livre são obrigatórios. Gibi era uma
palavra mágica para crianças, adolescentes e muitos adultos. O rádio cria
ilusões, vende produtos, fabrica astros, molda a opinião do grande público:
Cauby Peixoto, Ângela Maria e Doris Monteiro são os ídolos. Luís Gonzaga
divulga o baião. As estampas Eucalol, a Revista do Rádio, os jingles e as
novelas da Rádio Nacional (inclusive Gerônimo, o Herói do Sertão) fazem
sucesso.
Os produtos culturais midiáticos
brasileiros têm grande penetração junto aos receptores. Em um primeiro momento, ocorreu o aproveitamento
ou transposição de personalidades ligadas ao mundo cinematográfico aos
quadrinhos. Artistas, personagens ou obras específicas foram transformadas em
séries ou revistas em quadrinhos. Comediantes de enorme sucesso da Atlântida Cinematográfica,
Oscarito e Grande Otelo estiveram
entre as primeiras personalidades da esfera pop a ser transformados em
personagens de quadrinhos, estreando e titulando a revista da Editora La Selva,
de São Paulo, publicada de 1957 a 1959.
O estúdio da Atlântida Cinematográfica,
idealizado por José Carlos Burle e Moacir Fenelon em 1941, representou uma bem
sucedida tentativa de se criar uma indústria de cinema brasileira, que ganhou
impulso especialmente após a entrada de Luís Severiano Ribeiro Jr. na
sociedade. Comédias e musicais, e também a mistura destes gêneros foram o
grande mote de popularidade da Atlântida, conquistando o público brasileiro.
Dos filmes da Atlântida revelou-se uma dupla de comediantes que até hoje possui
admiradores entusiasmados: Oscarito & Grande Otelo. Apareceram juntos pela
primeira vez, mas sem ainda formar a dupla consagrada, no filme Tristezas Não
Pagam Dívidas (de José Carlos Burle, 1944). Ainda na busca do estrelato,
puderam ser vistos em Não Adianta Chorar (de Watson Macedo, 1945). Foi sob a
batuta deste último diretor, na década seguinte, em filmes como Aviso Aos
Navegantes (1950) e Aí Vem O Barão (1951), que a dupla virou fenômeno popular,
continuando a trajetória em outros filmes bem sucedidos como Carnaval Atlântida
e Barnabé Tu És Meu, ambos dirigidos por Burle e lançados no ano de 1952. O
diretor Carlos Manga esteve na frente dos filmes que são considerados por
muitos críticos e admiradores, como os melhores estrelados por Oscarito &
Grande Otelo: A Dupla Do Barulho (1953) e Matar Ou Correr (1954).
Como era praxe naquela época, de grande
popularidade das histórias-em-quadrinhos, Oscarito & Grande Otelo acabaram
indo parar nas páginas dos gibis, graças a Editora La Selva. E ficou a cargo de
grandes artistas a transposição da formidável dupla das fitas para os quadrinhos.
Jayme Cortez produziu, como era marca do talentoso artista luso-brasileiro,
capas belíssimas. O roteiro das histórias coube a Flávio de Souza e também
Cláudio de Souza, ilustrados por outros grandes nomes do quadrinho nacional – o
mais renomado talvez tenha sido o alagoano Messias de Mello, ilustrador e
cartunista até hoje reverenciado por seus contemporâneos (Mello já produzia
para a La Selva, as HQs da famosa dupla de clowns, Arrelia e Pimentinha). Outro
a ilustrar as aventuras de Oscarito & Grande Otelo nos gibis foi João
Batista Queiroz, renomado cartunista e chargista da paulicéia, ele que foi o
criador do rinoceronte Cacareco, que viria a se tornar símbolo do voto de
protesto na política paulistana. Outros que ilustraram a dupla do barulho foram
os cariocas Juarez Odilon e Aílton
Thomas. A Editora La Selva lançou o gibi de Oscarito e Grande Otelo em 1957,
inspirada pelo grande sucesso da dupla nos cinemas brasileiros. A revista em
quadrinhos ficou disponível nas bancas até 1959.
Aproveitando o sucesso feito na TV, pela
dupla de palhaços, João Batista Queiroz lançava em 1958, Arrelia e Pimentinha, série humorística, a exemplo de Fuzarca e
Torresmo e Grande Otelo e Oscarito. Publicada pela revista Cômico Colegial. O
gibi teve desenhos de Messias de Mello (1904-1994) para a Editora La Selva. Acompanhado
por uma barulhenta bandinha, o palhaço entra no diminuto picadeiro e
cumprimenta seu parceiro cantando uma marchinha que começa assim: "Como
vai? Como vai? Como vai? Eu vou bem, muito bem, bem bem!". Era Arrelia
apresentando-se para a criançada (e seus pais, avós, tios ...) com o palhaço Pimentinha
(o do famoso cone na cabeça) nos anos 50. Seu nome? Waldemar Seyssel que,
depois de muita estrada (desde os anos 20), passou a trabalhar com o sobrinho
Walter Seyssel. O Arrelia era a alma dessa dupla. Com sua bengala, roupas folgadas
e coloridas e as pinturas no rosto fazia todo mundo cair na risada com seus
gestos largos e exagerados e modo engraçado de pronunciar as palavras. Esses
dois atravessaram toda a década de 50 e 60 fazendo apresentações em circos,
festas, inaugurações, promoções comerciais e, principalmente, no que lhes deu a
grande projeção: o programa dominical na televisão Circo do Arrelia, na TV
Paulista (1951 até 1953) e, depois, na TV Record como Cirquinho do Arrelia (até
os anos 70). Foram, também, personagens de revistas em quadrinhos. Alegraram a
infância de muita gente. George Savalla Gomes ficou conhecido interpretando o
papel do Palhaço Carequinha em circos e mais tarde nas rádios e televisões
brasileiras. Ao lado de Fred, outro palhaço, ele animava as crianças em seu
programa e em 1958, a história em quadrinhos do Carequinha e Fred chegou às
bancas. Os roteiros dos gibis eram escritos por Cláudio de Souza e os desenhos
eram feitos por Julio Shimamoto e João Batista Queiroz. As histórias mostravam
o palhaço Carequinha e seu amigo Fred em situações e aventuras engraçadas.
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